20/12/2013

The show must go on!


In I Online (20/12/2013)
Por Lauro António

«O Politeama, que é teatro mas já foi cinema, fez agora cem anos e está (relativamente) bem e recomenda-se, nas mãos de Filipe La Féria. O Odéon, logo ali à frente, na Rua dos Condes, cai aos bocados, antes de se transformar num centro comercial, ao que dizem. Os Kings, três salas numa transversal da Avenida de Roma, fecharam as portas. Subida de renda, foi a razão invocada pelo inquilino. Falta de público também. A última vez que desci aquelas escadas foi para ver "Blue Jasmine", de Woody Allen, numa sessão das 21h30, logo a seguir à estreia, e quase não tinha ninguém. Muita gente chora agora o seu encerramento, mas pouca lá ia. A diferença entre o Odéon e os Kings é que o primeiro é uma relíquia arquitectónica e cinematográfica que se deveria preservar enquanto tal. É uma memória que desaparece.

Dos Kings tenho boa recordação de alguns filmes, não especialmente das salas, apesar de ter sido no anterior Vox (que deu lugar aos Kings) que se inauguraram as Meias-Noites Fantásticas em Portugal, com a estrondosa exibição de "Frankenstein Criou a Mulher", que obrigou a duas sessões depois da meia-noite, tal a afluência. Era uma ideia minha, que resultou em pleno. Seria uma iniciativa do Apolo 70, mas como a inauguração deste tardou foi o Vox a ter as honras. Do Odéon não recordo muitos filmes extraordinários, apenas alguns muito populares que deixaram marcas (ah, a Sarita Montiel!), mas não esqueço a sala. Alguém, no seu juízo perfeito, não deveria deixar morrer a história. Nem deixar abater certos edifícios.

Em compensação, vai reabrir o Camões, ou Ideal, e já regressaram duas salas do Saldanha Residence, em regime de low cost: tudo do melhor, dizem, a 4 euros o bilhete.

Os filmes é que são só blockbusters, o que deixa temer o pior. O espectáculo continua, ajeitando-se a novos costumes. Mas há perdas irrecuperáveis.

Cineasta»

Sem comentários: