24/09/2010

Câmara de Lisboa quer premiar quem ajudar a recuperar os edifícios

In Público (24/9/2010)
Por Carlos Filipe

«António Costa propõe bónus para captar apoios privados: quem financiar obras nos prédios antigos, poderá construir mais nos seus projectos novos

Segunda Circular será alameda para chamar novas empresas
Estratégia
Eléctricos rápidos e metro de superfície em estudo
Ideias fortes da proposta de revisão

Há muito que os inquilinos do prédio reclamam obras de conservação daquele imóvel do centro de Lisboa, mas a resposta do senhorio é invariavelmente a mesma: "Não tenho dinheiro, o banco também não mo dá, mas talvez o conseguisse se vocês me pagassem mais renda." O que a Câmara de Lisboa agora propõe poderá ajudar a resolver o problema de inquilinos e senhorios, através de um sistema de bónus, que funciona como incentivo para ambos.

Segundo os dados oficiais, serão perto de 12 mil os edifícios em mau estado na capital, e é a pensar nestes que a proposta de revisão do Plano Director Municipal (PDM) de Lisboa apresenta um princípio de solução. A ideia é fazer com que chegue dinheiro ao proprietário do imóvel para a realização daquelas obras, sem que venda outra coisa que não um "crédito de edificabilidade".


Troca apoio por construção

Teoricamente, o princípio, que não é inovador, pode ser explicado desta forma: quem compra um "crédito de edificabilidade" pretende construir na mesma cidade, numa área urbana consolidada, mas pretendia construir um imóvel maior; porém, o plano pelo qual se regem as urbanizações da capital não lhe permite mais que "x" metros quadrados de área de construção; se comprar os tais créditos - cujo valor financeiro reverterá para a recuperação de edifícios -, o promotor imobiliário ou construtor poderá assim conseguir aumentar o índice de edificabilidade do seu próprio projecto. Um índice de 1,2 poderá aumentar até 1,5. É uma espécie de bónus, que será sujeito a um regulamento específico. De acordo com a proposta do PDM, haverá mesmo a possibilidade de se atingir o índice 2 de edificabilidade, caso a zona se situe junto aos grandes nós de transportes colectivos.

A Câmara Municipal de Lisboa, que ontem fez uma nova apresentação à comunicação social dos princípios gerais da proposta de revisão do Plano Director Municipal de Lisboa - cuja discussão pela vereação está agendada para 6 de Outubro -, confia que o expediente do bónus, igualmente aplicável à construção de estacionamento automóvel e no que se refere à eficiência energética dos edifícios, contribuirá para a renovação do degradado parque habitacional.

O processo de intervenção, que se prevê que dure mais de uma década, será inteiramente desencadeado por privados, sendo que a autarquia apenas o vigiará através de regulamentação própria. No entanto, o presidente da câmara, António Costa, e o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, enaltecem as suas virtudes. E sublinham que através da reabilitação daqueles edifícios, muitos deles devolutos, Lisboa estará em condições de combater a perda de habitantes, em curso há décadas, para poder atrair mais residentes e jovens casais para o centro, ou estancar a saída de inúmeros dos seus residentes, que têm optado pelas periferias ou pelos concelhos limítrofes, onde o metro quadrado para habitação se transacciona por valores muito abaixo dos que são praticados na capital.

Ainda o T2 a 500 euros

À estratégia da bonificação junta-se uma outra, já abordada pela câmara no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (PÚBLICO, 17/06/2010), segundo a qual o objectivo de atrair ou fixar residentes passará também pelo sistema das rendas controladas.

Manuel Salgado voltou ontem a referir que deverá ser possível garantir um arrendamento em zona urbana entre 500 e 600 euros por mês, de uma habitação T2 (dois quartos), mediante o mecanismo das compensações urbanísticas previsto em regulamento. Esta regra permitirá ao construtor edificar 25 por cento a mais, desde que, em troca, garanta uma reserva de 20 a 25 por cento dos fogos com um valor de arrendamento fixo, pelo prazo de dez anos, e que se situará entre aqueles valores. A possibilidade de aquisição do imóvel após aquele ou outro prazo a fixar também foi adiantado como hipótese.

O executivo camarário conta levar a proposta de revisão do PDM a consulta pública dentro de dois meses, prevendo que comece a ter eficácia a partir do segundo semestre de 2011.

...

Idem. Acresce que o novo PDM deveria revogar as ideias obsoletas em termos de capitação de estacionamento automóvel por fogo e por escritório. Seria um passo no sentido do verdadeiro progresso. Não me parece que exista essa preocupação.

Mas há mais boas ideias, sendo a da intervenção na Segunda Circular uma boa ideia. Já era tempo de um executivo camarário pegar no tema. Por enquanto ainda só faz parte das intenções, mas isso é muito importante.

Tal qual a do metro de superfície (espero que a CML tenha em mente o "tram" articulado quando se refere a metro de superfície e não aos monos de Almada e Porto, ou àqueles que Ferreira do Amaral impôs a Lisboa quando era ministro). O que é caricato é que Lisboa acorde agora para isso e se tenha permitido extinguir muitas das linhas que há 100 anos já dispunha com os tradicionais eléctricos, e que agora quer criar com o metro de superfície. Mais caricato o facto da Carris ter vindo a mandar para a sucata material circulante, e agora que todos querem reabrir o E-24, haja problemas por causa de falta de material (parece que há uns 4-5 carros eléctricos em garagens, estacionados, que poderão resolver o problema do E-24, mas não dá para mais, infelizmente). A ver vamos.

2 comentários:

M Isabel G disse...

"Mais caricato o facto da Carris ter vindo a mandar para a sucata material circulante"

Tanta estupidez e má gestão!!! Estamos a pagar por tudos isso , por haver comissários politicos a gerir bens públicos sem a menor ideia do que fazem ou fiscalização.

Agora é que se lembraram dos electricos.
As vezes nem sei se será bem incompetência ...

Xico205 disse...

A camara devia é preocupar-se em deixar de fazer porcaria como é habito.

Ainda à bocado reparei que para aproveitarem o abrigo de paragem da Cemusa colocada com autorização da CML debaixo da Av. Lusiada na Estrada da Luz, colocaram uma praça de taxis, precisamente numa faixa de rodagem de duas vias e com grande volume de trafego por se tratar dum nó de acesso rodoviário de grande procura e com uma linha continua amarela na berma!!!!

A câmara agora funciona ao 3 em 1! 3 infrações ao código da estrada num só lugar!!!