25/07/2015

Uma mulher cega vai chegar a deputada: "Uma alegria mas também uma tristeza: porquê só agora?"

Fotografia © Gerardo Santos / Global Imagens

Entrevista a Ana Sofia Antunes, candidata a deputada do PS pelo círculo de Lisboa

Só um péssimo resultado eleitoral - ou seja, a derrota - impedirá que em outubro tenha assento pela primeira vez na Assembleia da República uma pessoa com deficiência. A protagonista é Ana Sofia Antunes, cega de nascença, colocada em 19.º lugar na lista do PS pelo círculo de Lisboa.
Como é que surgiu esta ideia de ser candidata a deputada pelo PS?
Surgiu como um convite por parte de António Costa que eu, depois de ponderar devidamente, aceitei.
Trabalhou muito com ele na Câmara Municipal de Lisboa?
Não muito diretamente com ele. Mas assessorei durante vários anos o vereador da Mobilidade na Câmara de Lisboa, o professor Nunes da Silva, e fazia assessoria jurídica na câmara. Em função da minha área de interesse, o facto de ser uma pessoa com uma deficiência e de estar muito ligada ao movimento das pessoas com deficiência, fiz sempre muita pressão na câmara com um plano de acessibilidade pedonal, que teve grande apoio e incentivo de António Costa. Era outra das minhas tarefas. O executivo era dirigido por António Costa, com o qual trabalhei muito, embora indiretamente, ao nível da revisão da regulamentação da câmara, em 2012 e 2013.
E a cidade está agora bem equipada?
Isso ainda é um bocadinho uma miragem, mas temos agora bons instrumentos para começar a fazer obra física, é isso que interessa. Não podemos avançar para a obra sem planificação, mas toda a planificação serve de muito pouco se não tomarmos a decisão de fazer o que interessa, que é obra física no espaço público. Há coisas que já começaram a ser feitas nas passadeiras - rebaixamentos e sinais sonoros, por exemplo -, mas temos de reconhecer que ainda há muito para fazer.
Os direitos dos deficientes serão o seu principal cavalo de batalha na Assembleia da República?
Obviamente que sim, por todas as razões. Sou uma pessoa com uma deficiência visual congénita [de nascença]. Não faria sentido nenhum, tendo esta oportunidade, não constituir como minha principal prioridade o trabalho em prol das pessoas com deficiência. Sinto uma grande alegria porque nunca uma pessoa com uma deficiência fora indicada para a Assembleia da República nem para qualquer outro cargo de relevo, de eleição ou nomeação. É um momento de alegria, mas também de tristeza: porquê só agora. Porque é que isto só está a acontecer em Portugal agora?

In DN, 2015-07-25 por João Pedro Henriques

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Boa sorte Ana Sofia Antunes! 

Pessoalmente sempre me questionei sobre quem nesta terra representa os interesses (e os direitos) dos deficientes visuais. Mas eu começaria com uma luta em três frontes: a primeira seria a correcção de um número sem conta de mobiliário urbano colocado no espaço público por absolutos tontos. Gincana para a maioria....pesadelo para invisuais. A segunda....e a mais importante, seria uma luta sem tréguas à gentinha dos carros nos passeios e a todos os demais que diariamente (mais à noite), fazem dos passeios públicos uma nojeira pegada com os excrementos dos seus animais. Aliás todos deveriam experimentar caminhar de bengala e olhos vendados assim umas centenas de metros....a ver se gostavam da experiencia !? 

Boa sorte !! 



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