07/05/2014

Lisboa'94 foi há 20 anos #1


No que toca ao projecto cultural e de reabilitação designado por Sétima Colina (que ia do Chiado ao Rato), há que dizer que valeram mais por ela 3 privados (Hotel do Chiado, Decadente e Embaixada) nos últimos anos e o que deles se multiplicou em recuperação de toda a zona, do que o fachadismo em paleta de cores da L'94. Pelo meio houve um PP Parque Mayer, JB e Zona Envolvente, ficámos sem a Ramiro Leão, a Souza, a Sabóia, a Picadilly, a DN do Chiado, o Palácio dos Lumiares, A Capital... e os Inglesinhos, mas ganhámos quiosques, esplanadas, moda e mundo. A Igreja de São Roque ficou desfigurada no exterior e o miradouro de São Pedro de Alcântara foi arranjado mas deixou de ser jardim. Vinte anos depois continuamos à espera que o protocolo pela reabertura do E-24 seja cumprido e, já agora, ... que o prédio da Campos seja recuperado ;-)

Foto: Copyright © 1968-2014 Mário Cabrita Gil

7 comentários:

Anónimo disse...

À pala deste post fui ver o "Dans la Ville Blanche", do Alain Tanner. Gostava de perceber se têm saudades dessa Lisboa de 1983, podre, suja, muito mais "medieval" e caótica do que agora (veja-se o plano da rua das escolas gerais no início) e se têm a cara de pau para insinuar que agora tudo está pior.

https://www.youtube.com/watch?v=4EDxENlMFFA

Nessa altura, eram vós jovens e havia saudosistas de pacotilha a insinuar que Lisboa era "medieval". Acordem para o vosso discurso destrutivo.

Anónimo disse...

Caro Anónimo das 6:42,

segui o seu link para o filme e pude constatar que, das imagens exteriores, a rua mantém-se suja, com carros ilegalmente estacionados com a diferença que agora com mais carros ilegalmente estacionados.
Do interior da tasca vemos um espaço cheio de espírito e alma, verdadeiro... será que ainda existe, de todo, ou se existir já levou um daqueles tratamentos de "désaine" de que Lisboa está coberta?
Deixe-me dizer que é absolutamente rídículo aqueles que dizem que Lisboa está melhor, como se intervir mal, sem gosto ou cultura, passando um pano de descaraterização por tudo, e escondendo a verdade que o português típico é um ser deslumbrado por modas novas, por mais desqualificadas que sejam, invalida a obrigação de fazer bem, com cultura e respeito pelo património.
Mas o problema é que são os portugueses que mais ordenam...

CrocDundee disse...

Nada disso.
Agora temos tudo mais limpinho, organizado.
Os buracos que tinhamos em 83 desapareceram.
As casas ao abandono estão todas limpinhas e com vida.
Se antes havia carros em cima dos passeios, isso hoje não passa de uma miragem. Tal como os passeios com buracos.
Grande espertalhão, ó anónimo!

Anónimo disse...

Lisboa era um pardieiro de casas em ruínas, muitas mais do que hoje - mas Lisboa era mais "verdadeira".

Havia carros ainda mais encavalitados em tudo o que era passeios, incluindo a Praça do Comércio, que era um parque de estacionamento e a Rua Augusta, que era aberta ao trânsito com prédios cobertos de fuligem - mas tinha mais "espírito e alma".

Os parques automóveis, pilaretes, parquímetros, ciclovias, vias exclusivamente pedonais e rede de Metro em condições eram um estrangeirismo utópico. Mas Lisboa "mantém-se suja".

A bem da honestidade para com quem visita este espaço, gostava que esclarecessem de uma vez por todas: o que é "Lisboa a sério"?

É Lisboa podre mas "verdadeira"? É Lisboa miserável mas que respeita a nossa "cultura"?

É uma cidade repleta de hediondos e imundos tascos, de néon no tecto e balcão de alumínio, completamente hostis a um visitante que lá se queira sentar?

É o Rossio há 30 anos atrás, com prédios, fontes, e monumentos completamente negros do fumo dos automóveis?

É o Chiado com uns armazéns gigantescos, devolutos, falidos e inflamáveis como lamentavelmente acabariam por arder? (e se não ardessem, acham que a sua recuperação se tinha feito?).

É não ter metro até ao aeroporto e taxistas aldrabões e ressabiados a "fazerem pela vidinha"?

A Lisboa de há 30 anos era desenrascada, marialva, brejeira, populada, imunda e castiça. Bairros como Alfama tinham provavelmente o dobro da população, parte dela a viver em condições miseráveis. Não havia condições mínimas para receber quem nos visitava, nem tão pouco para acolher quem lá morasse. Havia uma multiplicidade de residenciais bafientas "com água corrente", privilégio que não chegava a todos. Aliás, o esgoto corria céu aberto nas ruas, muito mais do que hoje, e em direcção ao Cais das Colunas. Para além de Belém, a relação de Lisboa com o rio era a da delinquência e da prostituição (ou não se lembram do que eram as docas antes dos bares?).

Se acham isso bom, isso é lá com vocês. Mas sejam honestos. E respeitem opiniões fundamentadas de quem se recusa a pensar como vocês, com bons motivos.

Eu não tenho saudades nenhumas da cidade que tive oportunidade de relembrar no filme de Alain Tanner (e ainda estou para ver o "Lisbon Story" rodado dez anos depois).

Se acham que a modernidade matou a Lisboa sobre a qual fantasiam (e está mais moderna, por mais que o neguem), a opinião é vossa. Mas para quem gosta de usar o termo "terceiro mundo" a torto e a direito, dêem uma olhada aos planos de Alfama nesse filme. Duas palavrinhas bastam para os classificar: "Vota APU"

Anónimo disse...

Caro Anónimo,

Lisboa verdadeira é aquela que respeita a sua história, onde os seus habitantes e governantes sabem: identificar património e preservá-lo, não enchendo os prédios com janelas de alumínio cada fração da sua nação, susbtituindo portas de madeira ou metal por ordinárias portas de alumínio lacado, onde as lojas não enchem montras, fachadas, varandas e todo o mínimo espaço com publicidade agressiva, batida que qualquer um cria com um programa caseiro, onde não há varandas fechadas e compressores de ar-condicionado nas fachadas, onde os arquitectos não forçam designs modernos (batidos, vistos e autistas) as ruas e praças antigas, onde as esplanadas não sejam catálogos de mobiliário de plástico com publicidade e onde à volta se acumula lixo dos comensais, onde vida noturna não seja sinónimo de destruição, vandalismo e vexame, onde os passeios sejam para as pessoas e as estradas para os carros, onde não se pára na via só para ir ali à farmácia ou ao McDonalds, pouco importando se se cortam vias de circulação. Não vale a pena, caro anónimo, continuar, que a lista é enorme... e já que fala em propaganda, procure neste blog posts sob como os partidos inundam espaços públicos, jardins e parques, com propaganda redutora, lixo visual.
Perceba o que se tenta defender aqui: Lisboa é um exemplo típico de uma cidade muçulmana e não de uma europeia ocidental. Sim, podia fazer-se algo, mas é o português que manda, da APU ou de outro partido...

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

Ao Anónimo das 6.50.

Aprecio sempre discursos inflamados de anónimos. Lembram-me os hábitos da Lisboa de há trinta anos.

Mas não vou por aí, como diria o poeta. Como no seu post se dirige a quem com este blogue colabora, gostaria de deixar bem claro o seguinte:

- Ninguém quer a Lisboa de há trinta anos. também ninguém quer uma Lisboa só de tasquinhas bonitas, gourmets (palavra de que o autor gostará sem dúvida já que não tem nada de brejeira, de popular, de marialva), de lojas da vida portuguesa, de restaurantes de luxo, etc. Por muito bom que tudo isso seja, o resto, a tasca de bairro, o café inox, a loja de cintas e soutiens, os modelos da rua dos fanqueiros e por aí fora, fazem parte da cidade. Poderão não ter tinta "pinta". Mas também tem o direito a existir.

- Ninguém quer uma Lisboa a cair aos bocados, mas onde existe uma Lisboa que não esteja a cair aos bocados? Das avenidas aos bairoos históricos, o partrimónio é pasto da maior das brutalidades, destroiem-se prédios arte-nova todos os dias, esventram-se edíficios do século XVIII para albergar mais um parque de estacionamento que tanto jeito dá aos novos condomínios,

- Ninguém quer uma cidade no passado mas também ninguém quer uma cidade onde se blindam mosteiros e palácios para neles colcoar mais um novo "conceito" de habitar Lisboa, assalta-se a calçada, abandonam-se jardins históricos, a noite alastra como uma mancha por toda a cidade. Uma noite selvagem e incvilizada.

- ser pessimista como aposta de vida é fraco, ser optimista sem justificação é inconsciência.

Aconselho o anónimo a reler todos os posts que tenho vindo a colocar. E já que tanto preza a honestidade que diz ser inexistente por estas bandas, diga-me, depois dessa consulta, se acha que o que neles se retrata é mera ficção?

Se acha que a avassaladora e imparável onda de demolições, pode sustentar essa sua tese de que está "tudo" muito melhor?

Se pensa que os palácios abandonados e esquecidos, fazem parte de antigos filmes de Tanner?

Lisboa está melhor? Sim. Mas a exigência de quem nela vive é também maior.

Quem acha que o que se defende neste forum é coisa de velhos do restelo, uma palavrinha apenas que é como um apelo - informem-se

Anónimo disse...

É preciso ser muito desonesto para ousar dizer que a Rua das Escolas Gerais está suja e igual ou pior do que este video. Há quanto tempo não passam lá? Se o fizessem teriam constatado a quantidade de edifícios podres que nesse filme figuram e que hoje estão reabilitados.