28/02/2014

PASSEIOS DE LISBOA: Rua da Emenda

Um dos clássicos de Lisboa! Rua (Sem) Emenda!? Já foram pedidos pilaretes, já foi pedido fiscalização. Resposta ao problema?

O debate sobre a Colina de Santana


In Diário de Notícias, 28.2.2014
Por Manuel Salgado

« [...] A Colina não necessita de mais um plano mas sim de um programa de regeneração e salvaguarda. De um compromisso entre os vários atores. De um calendário de ações e de um programa de investimento.

A legislação urbanística já prevê os instrumentos adequados para esta programação. É por este caminho que se deve avançar. Para os elaborar é necessário reunir competências técnicas e, para o gerir, constituir um gabinete local à imagem do GABIP da Mouraria, que tem dado bons resultados.»

...

Não gostando da 'inevitabilidade' do novo hospital (porque sim, porque em 2006 alguém assim o entendeu e outros disseram ámen sem pensarem), gosto de tudo o mais, sobretudo da conclusão: criar um Gabinete CML para a toda a área.

S.O.S. à CML: é preciso travar a destruição das portas dos Bairros Modernistas do Areeiro e de Alvalade

...


Exmo. Senhor Dr. António Costa
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa


Cc. Sr Arq. Manuel Salgado, Vereador do Urbanismo, Sra. Dra. Catarina Vaz Pinto, Vereadora da Cultura, AML, JF Areeiro e Media


Junto enviamos a V. Excelência, Senhor Presidente, foto elucidativa do modo como estão a ser destruídas, paulatinamente e de um modo quase que generalizado, as portas originais dos edifícios dos arruamentos de cariz modernista do Plano de Alvalade, gizado pelo Eng. Duarte Pacheco e pelo Arq. Faria da Costa, entre muitos outros, para a área compreendida entre o Instituto Superior Técnico e o Hospital Júlio de Matos; zona que, recordamos, ainda que não esteja classificada como de interesse público/municipal, como deveria ser, está inserida, na sua quase totalidade, na Carta do Inventário Municipal anexa ao PDM.

Deste modo, cremos que compete à Câmara Municipal de Lisboa conceder, ou não, o licenciamento a toda e qualquer alteração das fachadas dos edifícios, mormente das portas principais; pelo que só podemos concluir o seguinte:

Ou a CML desconhece estas substituições (que são às centenas, havendo até arruamentos, como a Avenida de Roma e a Avenida Rio de Janeiro, por exemplo, em que apenas uma minoria dos edifícios mantém ainda as suas portas originais...) e não autoriza, pelo que todas estas substituições são ilegais, devendo ser corrigidas; ou a CML conhece estas substituições e as autoriza (nem que seja fazendo que as ignora), sendo que neste caso se trata de uma prática hipócrita e imoral da CML, pois se inventaria os arruamentos como sendo de valor para pertencerem a uma Carta do Património, por outro promove a sua destruição.

A foto em anexo, da autoria de Carlos Medina Ribeiro, diz respeito ao nº 26 da Avenida Guerra Junqueiro, que neste momento se encontra em processo de destruição e substituição pelo exemplar aberrrante e descontextualizado que a foto documenta.

Solicitamos, pois, a V. Excelência uma intervenção célere da CML para que esta prática não só termine, como os proprietários dos imóveis desta zona se dêem conta do que estão a fazer, não só descaracterizando estes bairros históricos como desvalorizando-os; e, se todas estas substituições se revelarem ilegais, a CML proceda à devida intimação dos proprietários para que reponham o que retiraram. Deve dar a CML conhecimento desta prática à Associação dos Proprietários.

Com os melhores cumprimentos


Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Fernando Jorge, Rui Martins, Nuno de Castro Paiva, Júlio Amorim, Virgílio Marques, Nuno Caiado, António Branco Almeida, João Mineiro, Pedro Formozinho Sanchez, Jorge Lima, Pedro Gomes, Alexandre Marques da Cruz, João Oliveira Leonardo, Beatriz Empis, Miguel Lopes Oliveira, Carlos Matos, Miguel de Sepúlveda Velloso, Paulo Lopes

...

(TEXTO EDITADO)

Esta era a porta que estava neste nº 26 até há ...dias. A sua substituição é I-N-A-D-M-I-S-S-Í-V-E-L!
(Foto: Carlos Moura-Carvalho)

Chafariz do Largo de Andaluz

Se, nas raras vezes ao passar ao lado,não reparo no estado do chafariz, tenho como hábito instituido ir à janela e dar uma espreitadela, quando estou no emprego. Infelizmente, é todos os dias o mesmo cenário! O chafariz continua sujo, porco e conspurca

do com toda a espécie de lixos e horrorosos grafitis. Durante cerca de 16 anos que por aqui trabalho, só me recordo de ver efetuar limpezas por duas vezes. E essas duas limpezas foram a insistências minhas junto da DHURS, da CML. Confesso que estou cansado da passividade da CML! No entanto, e por caricato que possa parecer, há um posto de limpeza da CML a não mais de 200 metros, na rua de São Sebastião. Às vezes passam uns varredores da CML que apanham umas folhitas nas imediações, mas o pobre chafariz não lhes diz nada. Não entram lá, não o varrem. Ignoram-no! Parece não fazer parte das suas obrigações de varreduras e limpezas. Em breve, vou mudar de local de emprego, mas aposto que o chafariz vai continuar sujo, triste e abandonado, sendo certo que a inscrição em pedra que lá se encontra vai continuar a ter grande dificuldade de leitura, sobretudo para estrangeiros que ali a " teimam" ir observar. É assim que a CML cuida deste tipo de monumentos...

Candidatura dos bairros históricos de Lisboa a Património Mundial da UNESCO congrega apoios

"É uma hipótese interessante", reconhece o vereador Manuel Salgado, salvaguardando que não será possível concretizá-la antes de 2017. A ideia é incluir a Baixa Pombalina, mas também Bairro Alto, Bica, Alfama, Castelo e Mouraria.

Por Inês Boaventura, Público de 28 Fev 2014


A Câmara de Lisboa admite não avançar com a candidatura da Baixa a Património Mundial da UNESCO, como estava previsto no programa eleitoral de António Costa, e concentrar os seus esforços numa candidatura mais abrangente, de todos os bairros históricos da cidade. A ideia tem vindo a ganhar forma na Assembleia Municipal.
“Acho que é uma hipótese interessante, que vale a pena estudar”, afirmou ao PÚBLICO o vereador do Urbanismo e da Reabilitação Urbana. Ainda assim, Manuel Salgado lembrou que “pelo menos até ao final de 2017” não será possível Portugal formalizar qualquer candidatura junto da UNESCO, dado que o país integra o Comité do Património Mundial, responsável pela aplicação, gestão e utilização dos fundos nesta área.
O autarca explica que a hipótese que está agora a ser considerada é bastante diferente da de uma candidatura da Baixa Pombalina a Património Mundial, que tinha sido lançada pelo município em 2004 mas que acabou por ser suspensa. “Aí era preciso uma grande unidade e coerência no objecto”, frisou o autarca, acrescentando que esse projecto não avançou porque “a UNESCO considerou que faltavam os instrumentos de gestão, concretamente o plano de salvaguarda”, entretanto concretizado.
Segundo Manuel Salgado, aquilo que se pondera neste momento é uma candidatura dos bairros históricos da cidade, incluindo a Baixa, como “paisagem urbana histórica”. “Esta ideia é muito mais lata, aceita situações diversificadas”, afirmou.
Na Assembleia Municipal de Lisboa o rosto desta ideia tem sido o social-democrata Victor Gonçalves, que propôs que fossem duas das comissões desse órgão (a de Ordenamento do Território, Urbanismo e Reabilitação Urbana, Habitação e Desenvolvimento Local e a de Cultura, Educação, Juventude e Desporto) a apresentar à Câmara de Lisboa uma proposta com vista a uma candidatura à classificação dos bairros históricos, incluindo Bairro Alto e Bica, Alfama e Colina do Castelo, Mouraria e Baixa Pombalina. Na quarta-feira o assunto foi discutido numa reunião da primeira dessas comissões, e segundo vários dos deputados presentes foi bem acolhido por todas as forças políticas.
“É um trabalho moroso, que vai demorar no mínimo dois anos a desenvolver”, admite Victor Gonçalves, defendendo que este processo deve ser desenvolvido em conjunto com as juntas de freguesia abrangidas. O ex-vereador da Câmara de Lisboa sublinha que os bairros em causa constituem um território que “na sua diversidade é singular”, e no qual “está a mais autêntica representação da cidade de Lisboa”.  
“Aderimos desde o início a essa possibilidade”, diz por sua vez o socialista Ricardo Saldanha. “É importante para a cidade que este património seja reconhecido mundialmente, para que Lisboa seja mais uma vez projectada para o mundo”, considerou o deputado municipal do PS, lembrando que daí poderão advir “dividendos” ao nível do turismo e em última instância para a “qualidade de vida” das populações.  
Recentemente, num dos debates temáticos sobre a Colina de Santana promovidos pela Assembleia Municipal, representantes do ICOMOS Portugal (Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios) defenderam que os projectos que estão a ser pensados para essa zona de Lisboa “podem colocar em causa uma valorização da cidade em termos internacionais que deveria culminar na sua inclusão na lista do Património Mundial no conceito das Paisagens Urbanas Históricas”.
“Do nosso ponto de vista, essa inclusão era muito interessante para Lisboa”, disse ao PÚBLICO a presidente do ICOMOS Portugal. Ana Paula Amendoeira explicou que o conceito de paisagens urbanas históricas (no original urban historic landscapes) está definido num documento que a UNESCO aprovou em 2011, e assenta fundamentalmente na consideração das cidades históricas “como um todo”.
A ideia, diz a historiadora, é que “não se tratem os bairros históricos das cidades como coisas pontuais, desgarradas do contexto urbano e histórico”. E também, acrescenta Ana Paula Amendoeira, que se olhe para o património “como estruturante para o futuro das cidades e não como uma coisa passadista, que impede o seu desenvolvimento”.

Portugal tem actualmente 15 bens inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO. Entre eles estão o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, em Lisboa, o Convento de Cristo, em Tomar, os centros históricos de Évora, Porto e Guimarães, a paisagem cultural de Sintra e a Floresta Laurissilva da Madeira.  

27/02/2014

Artigo de opinião Filipe Pontes no Jornal de Lisboa, n.73 de MAR14


Largo da Escola Municipal, Freguesia de Arroios

Chegado por email: «O Sinal da Biblioteca municipal continua destruido após 1 ano! Ver imagem de hoje.» No Largo da Escola Municipal, Freguesia de Arroios. Talvez que no portal «Na Minha Rua» já apareça como «RESOLVIDO» como é habitual!

LISBOA LIXO: Rua Maria


26/02/2014

PASSEIOS DE LISBOA: Rua de São Lázaro


É apenas mais uma triste confirmação de como Lisboa secundariza o peão... Reparar na ironia da sinalética pintada na faixa de rodagem, junto do contentor de obras. Segurança de peões neste local? ZERO!

Lisboa histórica e turística resumida a 29 locais

In Dinheiro Vivo 24-2-2014
Apesar de reconhecer que a grande maioria dos defeitos e problemas que ultimamente são colocados á caçada portuguesa, são devidos a uma má colocação da calçada, à utilização de materiais de inferior qualidade e a mão de obra não especializada, ao estacionamento abusivo em cima dos passeios e até, pasme-se, à falta de fiscalização, a Câmara insiste em substituir a calçada portuguesa por outros tipos de piso, como recentemente já o fez, por exemplo na Rua da Vitória, sem que a solução encontrada seja menos perigosa para os peões e até com criticas violentas de parte de um dos vereadores municipais.

Durante a discussão do Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa, que foi aprovado na passada semana na Assembleia Municipal, e que "prevê a substituição da calçada portuguesa, em alguns espaços da cidade, mas não revela quais são as alternativas para a substituição deste pavimento" nem identifica quais são esses locais, a Câmara sempre se defendeu, afirmando que a calçada portuguesa seria mantida nas zonas históricas e turísticas, curiosamente locais por onde a começaram a substituir por outros tipos de piso. Veja-se o caso já citado da Rua da Vitória, a Praça do Comércio ou o miradouro de Santa Catarina.

Pois bem, só agora, após a aprovação do referido Plano, é que a "Câmara Municipal de Lisboa indica os espaços onde será preservada a calçada artística. São eles:


Mas o que tem estado em cima da mesa é a calçada portuguesa como um todo e não particularmente a calçada artística, donde somos levados a concluir que a CML apenas pretende preservar alguns locais (29) onde hoje existe a calçada artística e que no resto da cidade, onde apenas existe a calçada portuguesa lisa ou branca, sejam ou não zonas históricas ou turisticas, nada irá fazer para a preservar.

Mas olhando mais atentamente para a lista dos 29 locais onde, supostamente, será preservada a calçada artística, de repente lembro-me de alguns locais onde ainda existem excelentes trabalhos de calçada artística e que não constam da lista, como a Praça do Município, Rua do Alecrim/Largo Barão de Quintela, o Largo do Carmo, o Largo e Jardim da Estrela, o Padrão dos Descobrimentos ou Praça Luis de Camões entre muitos outros. Será que à semelhança do que aconteceu na Praça do Comércio, também nestes locais a calçada artística vais ser substituída por pedra de lioz?

Na Praça do Comércio era assim. Agora só em fotografia e se não tivermos atenção, brevemente só teremos recordações do que é a magnifica calçada portuguesa, pois a intenção da CML é a de acabar com a mesma, substituindo-a por outros materiais, como a pedra de lioz ou quem sabe até se betão.

Câmara de Lisboa admite novos empréstimos para a reabilitação quando acabar o PIPARU



O programa prolonga-se até Dezembro de 2015. Depois disso, o vereador Manuel Salgado admite o recurso a financiamento bancário e a fundos comunitários.
Por Inês Boaventura, Público de 26 Fev 2014

O vereador da Reabilitação Urbana entende que a Câmara de Lisboa deve, depois de esgotados os 117 milhões de euros do Programa de Investimento Prioritário em Acções de Reabilitação Urbana (PIPARU), “contrair novos empréstimos”, para dar continuidade ao trabalho desenvolvido na área da reabilitação.
“Seria de toda a conveniência contrair novos empréstimos do tipo do PIPARU”, afirmou Manuel Salgado, defendendo a importância desses instrumentos para solucionar “situações que só através da intervenção directa do município é possível levar para a frente”.
Salgado preconiza também o recurso a fundos comunitários, mediante a captação cruzada de verbas destinadas ao aumento da resistência sísmica e à melhoria da eficiência energética dos edifícios. Algo que na opinião do autarca deverá ser complementado pela construção de “um programa de financiamento a privados”, “não com financiamento a fundo perdido, mas com empréstimos em condições favoráveis”.
O vereador com o pelouro da Reabilitação Urbana admitiu no entanto que tal não será suficiente: “O município tem de ter uma acção mais musculada” para garantir que os privados realizam as acções de reabilitação periódica a que estão obrigados nos termos do Regime Jurídico de Urbanização e Edificação, disse. Salgado frisou também a necessidade de se “encontrar uma solução para os edifícios devolutos”.
Manuel Salgado falava na Assembleia Municipal de Lisboa, que esta terça-feira aprovou uma proposta que prevê a reprogramação financeira do PIPARU, adiando a sua conclusão para Dezembro de 2015.
“Estamos confortáveis com este prazo”, garantiu Manuel Salgado aos deputados municipais, adiantando que foram já adjudicadas obras no valor de 77,1 milhões de euros, encontrando-se  5,3 milhões “em fase final de celebração de contratos” e 23,7 milhões em concurso. “Já pagos” foram contratos de empreitada no valor de 43,4 milhões de euros.
Foi Victor Gonçalves (PSD) quem perguntou o que iria a Câmara de Lisboa fazer para dar continuidade ao PIPARU depois de esgotadas as suas verbas. “É de facto uma iniciativa com algum mérito, mas não vai chegar. É necessário que se pense num meio de haver mais investimento nesta área”, alertou o deputado municipal, frisando que “o edificado todos os dias se degrada”.
Também aprovadas pela assembleia municipal foram três propostas relativas à alteração dos planos de urbanização do núcleo histórico do Bairro Alto e Bica, do núcleo histórico de Alfama e Colina do Castelo e do núcleo histórico da Mouraria. PCP, PEV e BE votaram contra e CDS, MPT e PAN abstiveram-se.
Algumas das críticas feitas pelos partidos da oposição tiveram a ver com o facto de a Câmara de Lisboa ter optado pela introdução de alterações em planos já existentes, e não pela elaboração de planos de pormenor de salvaguarda, à semelhança daquele que entrou em vigor em 2011 para a Baixa Pombalina.
Manuel Salgado explicou que os planos de urbanização em causa “foram feitos em meados dos anos 90”, sendo o principal objectivo das modificações agora introduzidas “pô-los de acordo” com o Plano Director Municipal entretanto aprovado. “Para não atrasar optámos por fazer estas alterações cirúrgicas”, justificou o autarca, garantindo que os planos de salvaguarda estão já a ser elaborados.
“São planos muito pesados, demoram muito a fazer”, salientou, explicando que incluem o desenho de todos os alçados da área em causa. No caso da Colina do Castelo, exemplificou, são 2325. Segundo Manuel Salgado, o primeiro dos planos de salvaguarda em causa, o da Madragoa, será discutido em Março pela Câmara de Lisboa. 

Caderno de encargos para futuro DGPC

Artigo de opinião de Paulo Ferrero, Diário de Notícias de 26 Fev 2014

Declaração de interesses: o autor concorreu a diretor-geral do Património Cultural sem sucesso.

Ao futuro diretor-geral do Património Cultural, votos da maior das felicidades, no pressuposto de que quanto maior ela for mais o nosso património cultural terá a ganhar com isso, mesmo que sobre ele, o património, paire enorme incerteza do que lhe poderá valer o próximo QCA - se for nada, então corremos o sério risco de daqui por 1-2 décadas termos apenas o trivial...
Mas votos, também, para que ele leve por diante uma série de ações a curto prazo, em prol do nosso Património, que continua pelas ruas da amargura. E se do imóvel, edificado, classificado ou não, basta andar por aí para se ver como ele definha, dos bens móveis é melhor nem falar.
Desde logo, essas ações devem ter como princípio orientador o combate decidido ao binómio (já estrutural da casa que irá dirigir) que conjuga uma gritante falta de credibilidade da instituição junto do público (do cidadão comum, do promotor, das autarquias, etc.), que se vem agravando ano após ano (com demoras imensas, pareceres ridiculamente frouxos sobre licenciamento urbanístico, protocolos que convidam à "via-verde", processos de classificação inexplicáveis e inexplicavelmente morosos, etc.), com a óbvia ausência de proatividade enquanto agente interventivo e normativo de salvaguarda (não se lhe conhece uma tentativa de apresentação à tutela de propostas de alteração à lei do mecenato, ou sobre os custos-benefícios para quem possui bens classificados, ou sobre exportação de bens móveis, tão em voga recentemente e onde os procedimentos em vigor continuam caricatos, apesar das convenções).
Organicamente falando, aconselha-se uma assessoria interna capaz e a reformulação corajosa do conselho consultivo (a começar pela SPAA). Funcionalmente, está por fazer o levantamento das necessidades em cada serviço, em termos humanos e logísticos, e, claro, falta motivar os quadros ainda existentes e analisar, refletir e agir em conformidade. Em termos operacionais, eis dez ações imediatas, dez medidas para os dez primeiros meses em funções:
1. Avançar com a "Carta de Risco" do património cultural classificado, público e privado, imóvel e móvel (há algum inventário fidedigno deste?).
2. Extinguir os protocolos celebrados no âmbito do licenciamento urbanístico extraordinário, devolvendo essa tarefa aos técnicos, sob a máxima: "Um parecer bem fundamentado deve ser acatado e despachado em conformidade, doa a quem doer."
3. Avançar com a inventariação do património imóvel de reconhecido valor mas não classificado, existente em espaço urbano e/ou de temáticas esquecidas e/ou sob ameaça da pressão imobiliária, abandono declarado, incumprimento da lei: arquitetura dos séculos xix-xx (incluindo modernismo), arquitetura industrial, comércio de carácter e tradição.
4. "Muscular" a inventariação dos bens móveis objeto de protocolo com a Igreja Católica e com o projeto SOS Azulejo (a arte sacra e o azulejo são os dois elementos patrimoniais identitários nacionais, ambos sob crescente delapidação).
5. Incumbir os serviços (recorrendo a ouvidoria independente) de elaborar projetos de alterações à Lei do Mecenato, à regulação do mercado de antiguidades e à exportação de bens móveis, para posterior submissão à tutela/A.R.
6. Apoiar e preparar convenientemente duas candidaturas de Arquitetura da Água à UNESCO/Património da Humanidade, em 2014: o alargamento da classificação do Convento de Cristo ao esquecido Aqueduto de Pegões, e a classificação do Aqueduto das Águas Livres (com cisternas, casas-de-água, condutas e chafarizes).
7. Reformular/revitalizar a Rede Nacional de Museus (membros, bilhetes, etc.), fazendo justiça a três deles, autonomizando o Museu de Arte Popular; parametrizando convenientemente o que deve ser o Museu da Música; lutar pela ampliação do Museu do Chiado.
8. Averiguar do andamento do projecto EEA Grants "Rota das Judiarias", e, se for caso disso, recuperar o mesmo para a esfera da DGPC, em Lisboa, porque se trata da imagem do País, e
9. Preparar, desde já, 2017, criando as condições objetivas para que seja possível apresentar aos próximos EEA Grants uma candidatura bem estruturada a tempo e horas...
10. Reforçar a abertura do Património à guarda da DGPC à iniciativa privada, sem o prostituir ou delapidar, recorrendo à figura de "patrono", lançar campanha sistematizada de angariação de mecenas para fins específicos.
Verborreia e pesporrência? Talvez.


25/02/2014

100% de acordo


Condição sine qua non: manutenção de colunas de iluminação e consolas antigas, e introdução de bancos de desenho antigo.

PUBLI-CIDADE: Rossio / Rua do Carmo



Baixa, Monumento de Interesse Público?!

24/02/2014

Ali já nada havia.

Corta-se uma bela árvore, tempos depois arranca-se o resto do tronco e parte das raízes, mas ainda fica a caldeira a marcar o lugar onde estava essa árvore, a fazer-nos lembrar que ali existia uma árvore, que faz falta, que deveria ser reposta.
Mas como não há vontade nenhuma de repôr a árvore abatida - as árvores são uma chatice, só dão trabalho e podem cair em cima de qualquer um - calceta-se a zona da caldeira.
Pronto. Já ninguém se lembrará mais de perguntar porque não replantam ali uma árvore. O que se documenta aqui, no belo jardim das Amoreiras, passa-se por todo o lado nesta nossa cidade.

Concluída a demolição integral na Rua Andrade, 17 e 21 - e os Azulejos?


Exmo. Senhor Vereador
Manuel Salgado


C.C. PCML, AML, PISAL e Mediap> No seguimento da demolição integral dos edifícios até agora sitos na Rua Andrade, nº 17 e 21, que eram revestidos a azulejo e que possuíam cantarias artísticas nas fachadas, somos a solicitar a V. Exa. e aos serviços que tutela, o devido esclarecimento sobre o seguinte:

Terão sido os referidos azulejos objecto de destruição, tal como as cantarias artísticas das fachadas, e despejados num vazadouro?

Ou foram cuidadosamente levantados e armazenados pela CML (ou dono da obra) para posterior aplicação em obras de reabilitação/restauro, como preconizado no PISAL?

A ter-se verificado a primeira hipótese, condenamos profundamente essa destruição, mais a mais sendo ela produzida num património que se diz ser emblemático da capital e objecto de especial atenção da CML por via do PISAL!

Com os melhores cumprimentos


Bernardo Ferreira de Carvalho, Luís Marques da Silva e Fernando Jorge

PASSEIOS DE LISBOA: Av. Álvares Cabral



Crescem couves e plantas medicinais entre prédios e estradas

Hortas comunitárias, clandestinas, sociais, espontâneas. Existem pelo menos 70.235 hortas urbanas na Grande Lisboa. Uma dúzia de horticultores mostram os seus quintais ao ar livre da cidade. O local onde passam mais tempo do que a cozinhar ou a comer aquilo que plantam.
Por AlexandraGuerreiro, Público de 24 Fev 2014 | Fotos de Oxana Ianin
Com um gorro branco a cobrir as orelhas, Mariama conta que, mesmo com este frio, Malam Baldé se levanta às 6h, só algumas vezes por volta das 7h, para trabalhar no talhão. “Fui trocada por uma horta!” Esta é a frase que Mariama Camara, a sorrir mas não a brincar, usa para exemplificar a dedicação que o marido tem nos seus 30m2 na Adroana. Junto a este bairro social da freguesia de Alcabideche, a Câmara de Cascais inaugurou, em Janeiro, o mais recente parque hortícola do concelho.
Estes talhões fazem parte do programa Hortas de Cascais. As primeiras hortas comunitárias da Área Metropolitana de Lisboa nasceram em 2009, no Parque Urbano do Alto dos Gaios, na freguesia do Estoril. Agora já existem 1372 talhões apoiados pelas câmaras em 11 concelhos da Grande Lisboa.


Com uma enxada portátil com uma lâmina de dez centímetros, José Fernandes empurra a terra das laterais dos alhos para os cobrir. “Cresceram bem e já estavam de orelhas de fora”, diz, fixando o chão. Tem a horta na Quinta dos Lombos, na freguesia de Carcavelos, desde finais de Setembro. A plantação de José está um pouco atrasada. Nem todas as sementes plantadas dão frutos e legumes, justifica.
Ao lado, está outro talhão, mas bastante recheado. “Em casa, ele tem uma planta da horta onde estão as indicações sobre cada cultura, desde o tempo de vida ao espaço que ocupa”, diz Teresa Matos sobre o marido. “Ele passa aqui três, quatro vezes por dia”, continua. Viciado na sua horta que tanto trabalho deu, Sérgio diz que gosta de a vigiar para que nada se estrague.  
André Miguel, responsável pelo projecto Hortas de Cascais, explica que a agricultura urbana tem uma grande importância para a comunidade. Inspirados por aquilo que já se fazia no Grande Porto e perante o número de hortas clandestinas, de uso espontâneo, a Câmara de Cascais percebeu que as pessoas queriam ter a sua horta, uns por necessidade, outros por lazer, conta.
Horta comunitária na Quinta dos Lombos, Carcavelos, Cascais
Ana Sofia deseja plantar uma farmácia natural no cantinho que tem na Quinta dos Lombos. Tem o seu talhão desde Setembro, mas, devido a um braço engessado, a terra permanece castanha, inviolada. A farmacêutica, agora desempregada, expressa o plano: “Quero só flores e ervas aromáticas para ter plantas medicinais”.
Perto do Colombo, em Lisboa, Patrocínia Sabugueiro levanta a foice pela antepenúltima vez no dia, enquanto passa atrás de si um jovem a correr na ciclovia. Há dois anos que tem uma horta comunitária. Já era horticultora, mas o espaço diminuiu. “Antes tinha aqui uma de 1000m2, agora tenho 150”, lamenta, encolhendo os ombros. Mas não se aborrece e continua a trabalhar a terra com a mesma vontade de há 27 anos, quando começou a sua horta clandestinamente naquele local.
Mais abaixo, neste parque hortícola da Quinta da Granja, em Benfica, Maria, João e Mug, a cadela com pêlo castanho-claro e de olhos azuis, têm um talhão pela primeira vez. O casal diz que tudo foi cultivado por eles. “Já temos morangos, uma laranjeira com uma laranja, couve, alface, tomate, cebola e ervas aromáticas.” Inexperiente, o casal frisa que a interajuda entre os horticultores foi fundamental. “A formação [dada pelas câmaras] é apenas um começo.”
António Furtado já tem “muita experiência”. De enxada na mão, enquanto arranca as ervas secas espalhadas pela terra ainda húmida, explica, gesticulando com a mão livre do cabo, como é que se faz uma boa horta. “Primeiro é preciso limpar o terreno tirando a palha. Depois cerca-se. Solta-se o terreno porque está rijo. E põe-se as sementes. Mais tarde, quando a terra estiver seca, tira-se a água da ribeira e rega-se”. Está a começar uma, ao lado de um espaço verde com caminhos pedestres e com um riacho, junto do Dolce Vita Tejo, na Amadora. António está desempregado e não quer ficar em casa de braços cruzados. Não sabe se o solo que cava é bom. Mas do outro lado da ribeira, ao estilo dos socalcos do Douro, couves e favas crescem como se estivessem num dúplex hortícola.
Necessidade versus lazer
No concelho de Loures, num vale verde com vista para a estrada onde passa o 313, o único autocarro de acesso ao Bairro da Apelação, estão centenas de hortas espontâneas. Ao lado deste bairro social da freguesia de Frielas os moradores da povoação começaram, há cerca de um ano, a cultivar neste espaço.
Hortas clandestinas no Bairro da Apelação, Loures
A madeira no chão que traça o apertado carreiro entre estas hortas está encharcada. O caminho está coberto de lama e água. Mas Orlando Mendes consegue chegar ao seu espaço. Com um casaco cor de vinho de flanela quadriculada, de calças de ganga escuras e botas pretas, não está ali para cavar a terra. Com o mau tempo dos últimos dias, não era possível fazê-lo. “Vim só ver se não se estragou nada.”
Nas tábuas que improvisam os caminhos, cruzou-se com Augusto Pontes, o autor da ideia. “Este era um espaço sem nada. Por que não poderia ser usado?” Mãos à obra. Juntou portas de madeira, cabeceiras de cama, tábuas, canas, e cercou uma grande área para si. Tem plantado favas, couves, ervilhas, batatas. Augusto explica que começou a fazer a horta porque não tinha o que comer. Desempregado, aquilo que consegue produzir é o alimento da sua família. Mas no Verão torna-se mais complicado porque a água já não cai do céu.  
Mais a norte, na Póvoa de Santa Iria, ouvem-se crianças a rir e a falar alto perto de Mário Caceres. Estavam a jogar à bola na escola paralela às hortas. Mário tem um talhão de 40m2 com duas portinhas de canas onde se lê “entrada proibida” e uma cerca com uma altura desencorajadora para intrusos. Fica grande parte do dia ali. Reformado, gosta de estar atento e há sempre algo para fazer. Uma folha seca de couve tem de ser tirada ou umas malaguetas apanhadas.
Ter uma horta requer dedicação e tempo. Mesmo assim, as hortas urbanas proliferam. Agora com uma vertente cada vez mais comum: as câmaras criam-nas para reabilitar os espaços verdes. A maioria dos projectos começou em 2011. E o ano passado houve um aumento significativo: 654 hortas comunitárias foram criadas só na Grande Lisboa. “Fica mais barato construir um parque hortícola do que construir um espaço verde”, diz André Miguel. Apesar disso, ainda se multiplicam hortas espontâneas. A maioria daqueles que as têm, tanto as usam para se manterem ocupados como para terem um meio de subsistência. Por sua vez, as hortas comunitárias são mais uma actividade de lazer.
Malam e um vizinho na horta na Adroana
Hortas no Bairro da Adroana, pertencem à autarquia de Cascais
Contudo, a necessidade também está presente nestas. Do talhão em Alcabideche de Malam para a mesa da cozinha, nada é desperdiçado. Mariama explica que “corta o ramo da cebola, parte aos pedacinhos, esmaga com pimentão e azeite e junta com arroz branco. Fica uma delícia!” O casal da Guiné-Bissau tem cinco filhos, ele está desempregado e ela tem um trabalho de apenas quatro horas. Retiram da terra uma grande ajuda.
As hortas servem como um complemento económico porque a maioria dos frescos podem ser colhidos. “Normalmente existe uma relação entre a necessidade e a quantidade: quanto maior a abundância de alimentos num talhão, maior o grau de necessidade”, explica André Miguel.
Por outro lado, a qualidade dos produtos é sempre um factor defendido pelos orgulhosos horticultores. Em Carcavelos, Isabel Campos, vizinha de José Fernandes e Sérgio Matos, tem a horta mais crescida. Ressalva que o sabor é totalmente diferente. “O gosto dos produtos muda, não só porque são biológicos, mas também porque dá um enorme gozo colher aquilo que se plantou”. No seu talhão, a organização prima. Canas ao alto a fazer um triângulo, presas por um fio branco de croché, demonstram-no. A professora reformada explica: “Uma horta inserida junto a um bairro deve ter uma certa estética. Devemos preservá-la porque ninguém gosta de ter uma vista para um jardim que parece uma barraca”.
Brincar aos agricultores
Apenas um dos filhos de Malam, com dois anos, gosta de brincar aos agricultores quando tenta arrancar folhas de couves. Mas as hortas comunitárias pretendem também contribuir para o desenvolvimento das relações interpessoais e intergeracionais. Inseridas numa comunidade, ao ar livre, podem ser uma alternativa de ocupação de tempos livres e uma oportunidade para os mais jovens de adquirirem competências agrícolas.
Na Apelação, Orlando conta que apenas um jovem aderiu à ideia das hortas, ficando com uma. Depois desistiu. “Não queria ter trabalho e vendeu-a a um vizinho por 20 euros. Gastou-os de seguida ali no café”.
Por sua vez, Mário está sozinho na sua horta em Vila Franca de Xira. Conta que “há quem só passa lá uma vez por mês, apanha umas couves e vai embora”. Dos 84 horticultores, apenas oito se juntam para conversar no banco de madeira que fizeram em cima do tronco de uma árvore encurralada entre dois talhões.
Em Lisboa, Maria, João e Mug continuam o seu passeio. No Verão costumam ficar mais tempo. “É mais agradável porque os dias longos trazem mais disponibilidade para quem trabalha”, explica Maria, enquanto fecha a porta feita de painéis de madeira que isola o seu talhão. Mais acima, Patrocínia arranja-se para ir embora. “Uma mulher tem sempre muito que fazer”, diz.
Em Cascais, Mariama também vai para casa, mas Malam vai ficar a colher umas alfaces. Em Carcavelos, José e Sérgio ficam a trabalhar a terra, apesar de não estar tão agradável, como há uns dias, quando estavam mais colegas nas hortas.
Distintas, as hortas espalhadas pelo distrito de Lisboa estão tanto à beira de estradas, como no meio de um espaço verde ou no centro de uma povoação. Uma horta passa a ser vista como um jardim de alfaces, cebolas, morangos, couves, e CD, pendurados para espantar os pássaros comilões de legumes, fruta e sementes.
Augusto Pontes já limpou a terra e vai agora procurar algo abandonado em descampados ou perto de caixotes do lixo para vedar o espaço que acabou de arranjar. Ali crescerá a única alternativa que tem ao subsídio de desemprego que não recebe.
Grande Porto inaugurou 85 talhões só este ano
A Lipor – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto – em parceria com oito municípios da região inaugurou este ano mais 85 talhões no âmbito do projecto Hortas à Porta. Os últimos 49 talhões foram abertos no início deste mês em Valongo.
Benedita Chaves, responsável pelo projecto, diz ao PÚBLICO que esperam “abrir mais cinco parques hortícolas este ano”. Em 2013 conseguiram distribuir 217 talhões. O projecto Hortas à Porta, criado em 2004, abrange os municípios de Vila do Conde, Valongo, Póvoa de Varzim, Porto, Espinho, Gondomar, Maia e Matosinhos. Foi pioneiro em Portugal e nasceu a partir de um projecto que visava sensibilizar a população para a compostagem caseira e a agricultura biológica no Grande Porto.
Benedita Chaves afirma que surgiu na Maia há quase dez anos porque os munícipes queriam ter um espaço para praticar agricultura biológica. “Tiravam cursos connosco e gostavam de plantar produtos, mas não tinham um local.” Dois dias depois de divulgarem o concurso para distribuírem 74 talhões, já tinham recebido 200 candidaturas. Hoje as Hortas à Porta já têm 966 talhões nos oito municípios.


22/02/2014

Um plano de revitalização e uma mão cheia de propostas para travar a "degradação" do Areeiro

A criação de ligações entre os quarteirões através dos logradouros e a construção nesses espaços de equipamentos são algumas das propostas de um grupo de residentes e trabalhadores nesta zona de Lisboa.
Por Inês Boaventura, Público de 22 Fev 2014

Foto de Daniel Rocha


Um comerciante, uma professora de arquitectura do Instituto Superior Técnico (IST) e dois moradores, um deles arquitecto e a outra socióloga, uniram esforços e apresentaram à Câmara de Lisboa uma proposta para que seja definido “um plano de revitalização” para o território da antiga freguesia de São João de Deus. O objectivo, explicam, é “inverter o processo de abandono e degradação” da zona.
A iniciativa começou a ganhar forma em Setembro de 2013, quando os autores da proposta se juntaram numa acção promovida pelo Movimento de Comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro, Praça de Londres e Avenida de Roma, por ocasião da Semana Europeia da Mobilidade. “Conhecemo-nos, começámos a falar e ficámos com a sensação de que era possível fazer qualquer coisa, envolvendo instituições como o IST, moradores e comerciantes”, explica Carlos Moura-Carvalho, proprietário da Mercearia Criativa.
Dois meses depois, a reflexão que fizeram deu origem a um documento de oito páginas, que enviaram ao presidente da Câmara de Lisboa e ao vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. Nele, Carlos Moura-Carvalho, Teresa Valsassina Heitor, João Appleton e Sandra Marques Pereira elencam os pontos fortes da zona (entre eles o seu valor histórico e arquitectónico e a qualidade de construção), bem como os problemas de que sofre (como o declínio populacional e o fecho de lojas que dão lugar a outras, “desvalorizadoras”).
Aquilo que os quatro propõem é que seja elaborado um documento de “caracterização” da área da “Avenida Guerra Junqueiro, Praça de Londres, Avenida de Roma e vias envolventes”, no seguimento do qual se possam “identificar os problemas-chave que se devem enfrentar nas propostas de revitalização e requalificação” deste território.
“Não se pretende uma coisa académica, mas sim participativa, acessível à maior parte das pessoas”, frisa Carlos Moura-Carvalho, defendendo que depois de concluído esse estudo será possível passar à acção “no curto prazo”. Poder-se-á até, diz Teresa Valsassina Heitor, constituir toda a zona ou apenas parte dela como um projecto piloto, no quadro de uma intervenção que poderá depois ser alargada.
A professora universitária lamenta que esta área da cidade tenha vindo a ser “negligenciada” pela Câmara de Lisboa e sublinha que ela “teria todas as condições” para se afirmar como um bairro “urban friendly”. No fundo, aquilo que agora se pede ao município, resume a socióloga Sandra Marques Pereira, é que tenha “uma visão antecipativa” que “previna o fim de vida” da zona, passadas seis décadas da construção dos primeiros edifícios e da fixação dos seus moradores originais. 
A conversa com o PÚBLICO começou numa esplanada na Avenida Guerra Junqueiro e prolongou-se por um passeio demorado pelo território da antiga freguesia de São João de Deus, que se fundiu com a do Alto do Pina, ganhando a designação de Areeiro. Ao longo do caminho, foram várias as paragens, boa parte das quais em alguns dos muitos logradouros existentes no interior dos quarteirões.
Para esses logradouros, muitos actualmente transformados em parques de estacionamento mais ou menos ordenados, não faltam ideias. “São áreas com um enorme potencial”, sublinha João Appleton, apontando a possibilidade de criação no seu interior de espaços de trabalho ou equipamentos “úteis” para a comunidade local, como por exemplo creches. “Não têm de ser coisas impactantes, intensivas”, apressa-se a explicar o arquitecto, antecipando as críticas que a sua proposta poderá gerar.
Hoje os logradouros, considera João Appleton, “são tão pouco conhecidos que nem são espaços públicos”. É por isso que o arquitecto sugere que neles sejam feitas aberturas, que possibilitem o seu atravessamento e a ligação entre diferentes quarteirões. Como acontece já no Jardim Fernando Peça, que une a Avenida de Roma e à Avenida João XXI, e cuja área verde e parque infantil têm grande utilização.
“Os logradouros não são do conhecimento geral do passante, são um elemento a explorar”, corrobora Teresa Valsassina Heitor. A arquitecta e professora universitária diz ainda que “o ambiente de traseiras” que existe nesses espaços “hoje não é hostil, tornou-se confortável”, com os seus elementos da vida doméstica, incluindo a roupa a secar.
Outra hipótese colocada pelo grupo é a de os edifícios desta zona possam ser repensados, por exemplo estudando-se a hipótese de divisão dos fogos de grandes dimensões, para atrair novos e diversos moradores. E, acrescenta Sandra Marques Pereira, promovendo-se a “refuncionalização” de algumas áreas, como os antigos quartos das criadas que para muitos já não farão hoje sentido.
As “propostas a explorar” apresentadas à Câmara de Lisboa incluem também o estudo da vulnerabilidade sísmica dos edifícios e dos revestimentos e acabamentos decorativos presentes nas suas fachadas e interior, “tendo em vista a sua conservação e manutenção”.
É uma zona com uma qualidade urbanística e arquitectónica que interessa preservar”, resume Teresa Valsassina Heitor, lembrando que foi neste território de Lisboa que “o modelo de vida moderna urbana” foi posto em prática pela primeira vez numa perspectiva de bairro.  
Londres na Assembleia Municipal
A petição do Movimento de Comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro, Praça de Londres e Avenida de Roma defendendo que o antigo cinema Londres deve ser convertido num pólo cultural vai ser discutida na Assembleia Municipal de Lisboa na terça-feira. Carlos Moura Carvalho, um dos rostos do movimento, acredita que se o plano de revitalização agora proposto (e que a Câmara de Lisboa disse aos seus autores estar a avaliar) fosse já uma realidade, a hipótese de o espaço ser transformado numa loja deprodutos chineses poderia nem sequer ter emergido.