31/01/2013

Fratricida






"Ora diz que quer, ora diz que não quer, e volta a dizer que quer”

"Podia dizer-se que, afinal, tudo não passou de um mal-entendido, mas alguém nesta sala acredita nisso?" ( Seguro )

"É bom que [a unidade] possa acontecer. Vamos ver nos próximos dias." ( Costa )

António Costa continua através dos caminhos maquiavélicos do labirinto político, oscilando intuitivamente entre “rota estabelecida” e “navegação à vista”, a trabalhar permanentemente e  inexoravelmente no seu projecto pessoal de ambição de poder político, assegurando protagonismo mediático e utilizando Lisboa como trampolim … Algo que eu já descrevi , referindo-me a Lisboa no Público, como: “Corpo Presente, Mente Ausente”.
António Sérgio Rosa de Carvalho.


Seguro e Costa assinam tréguas para os "próximos dias"
Por Nuno Sá Lourenço in Público

Após reunião dura e agitada, os dois rivais socialistas saíram a falar de união. Mas Seguro impôs Congresso antecipado que Costa não desejava



Foi com um abraço que terminou a mais viva e participada reunião da comissão política socialista dos últimos dez anos, que acabou às 5h da manhã de ontem na sede do partido, no Largo do Rato, em Lisboa.
Após seis horas de trocas de acusações, os dois rivais encerraram o frente a frente com um abraço perante os dirigentes socialistas. Mas mais do que o enterrar do machado de guerra, o gesto representou uma trégua entre contendores.
O armistício começou a ser negociado ontem mesmo, quando à tarde foi marcada uma reunião entre ambos para depois do jantar. Desse encontro, que começou às 21h, pouco transpirou. Às 23h, na SIC, Seguro elogiou Costa e resumiu o encontro como "uma conversa muito franca" para discutir "a estratégia futura do PS" e do país.
Na véspera o tom foi outro. "Foi um filme", ilustrava ao PÚBLICO um dos presentes na longa reunião da Comissão Política Nacional. Segundo vários relatos, foi um verdadeiro drama - com suspense, intriga, momentos trágicos e cómicos -, com um fim impossível de antecipar. "Acabou bem", conta um dirigente próximo da direcção, referindo-se ao abraço entre Costa e Seguro, e confiante na "verdadeira cooperação" entre os dois a partir de agora.
Seguro abriu a reunião com uma intervenção muito dura. Tal como outros dirigentes fizeram antes de entrar no Rato, falou em "deslealdade" e "irresponsabilidade", e apontou a existência de um "ambiente de facção" no partido, responsável, terá dito, pela "obstrução permanente" à direcção. No fim, disse que se recandidataria à liderança e desafiou os opositores a irem a jogo.
Poucas intervenções depois, quando finalmente Costa falou, já depois das 22h - ia ou não candidatar-se? - o tema central foi a união do partido. Perante o murro na mesa de Seguro, Costa desconcertou muitos dos quase 100 dirigentes na sala. Ou pelo menos os que estavam à espera que avançasse. Houve tantos socialistas convencidos que esse seria o passo que vários sites de jornais (incluindo o PÚBLICO) chegaram a dá-lo como certo.
Em vez disso, Costa falou no condicional. Avança se Seguro não for capaz de unir o partido. Dirigindo-se ao secretário-geral, e perante todos, perguntou: vai Seguro ser capaz de "unir o partido" ou vai falar de deslealdade, sem assumir a história do partido?
Pelo meio houve quem contestasse a leitura de um "partido fraccionado" apresentada pelo líder. Pedro Silva Pereira, ex-ministro de José Sócrates, negou a ideia de uma oposição concertada contra Seguro.
Seguiram-se dezenas de intervenções. Francisco Assis, que chegara ao Rato ao lado de António Costa, apelou ao entendimento entre ambos, ideia forte de grande parte das intervenções, à excepção dos "socráticos". Mesmo assim, e depois de lembrar o apoio que tem dado ao secretário-geral depois de ter sido seu adversário no último congresso, Assis declarou que se sente livre para escolher caso haja mais do que um candidato à liderança. Outros, conotados como muito próximos a Costa, insistiram na linha defendida por Marcos Perestrello de que é preciso adequar o calendário interno de modo a permitir o surgimento de todas as alternativas. Houve mesmo quem defendesse que o melhor cenário para Seguro é o das eleições internas depois das autárquicas deste ano, pois dar-lhe-ia oportunidade de unir o partido.
Pedro Nuno Santos terá sido o mais frontal nas críticas. Por entre uma maioria de discursos cautelosos, defendeu abertamente que o PS está perante um problema de liderança.
Já de madrugada, os que tinham esperança no avanço de Costa ainda suspiravam por uma segunda intervenção do presidente da câmara que anunciasse o confronto. À medida que o tempo passava a dúvida crescia. "A reunião ainda não acabou", dizia à 1h um dirigente ligado à ala socrática. As esperanças aumentaram quando, já depois das 2h, Seguro leu em voz alta uma notícia da agência Lusa acabada de ser publicada que antecipava uma segunda intervenção de Costa nessa noite. Este exaltou-se, mas não foi além disso.
No final, Seguro pôs os pontos nos is. "Podia dizer-se que, afinal, tudo não passou de um mal-entendido, mas alguém nesta sala acredita nisso?", terá questionado. Para responder ele próprio que quem coloque em causa a sua legitimidade e por isso se exigia a clarificação. Até porque disso depende, em parte, o sucesso das autárquicas, explicando que o PS tem de surgir nas eleições como um partido de alternativa, com um líder forte e um projecto político claro.
Respondendo a Costa sobre a necessidade de unir o partido, Seguro interpelou directamente vários dos supostos críticos, em tom coloquial: "Ó Costa, não fomos almoçar por iniciativa minha? Ó Assis, não te convidei para integrar o Secretariado? Ó Silva Pereira, não te pedi para seres tu a fazer a intervenção em nome do PS na primeira moção de censura ao Governo?" A intervenção de Seguro surpreendeu muita gente e foi unanimemente aplaudida.
No rescaldo da maratona, o dia foi de muitas especulações e alguma introspecção entre socialistas. Afinal o que se passou na longa noite no Rato? A convicção entre alguns é de que houve uma reviravolta na reunião e que os críticos tomaram consciência de que tinham uma estratégia que os levara longe de mais e acabaria em derrota. Outros entendem que Costa resistiu ao empurrão que lhe quiseram dar. Não ficou claro o que sabia Costa de tudo isto. Mas uma leitura impera: Seguro saiu reforçado.
Sinal disso foi a forma como alguns críticos saíram da reunião. Em silêncio e de cara fechada. Às cinco da manhã, Costa falou aos jornalistas: "O secretário-geral do PS foi receptivo à proposta que apresentei e acho que vamos poder trabalhar nos próximos dias para poder tentar construir uma alternativa forte, que fortaleça o PS nas candidaturas autárquicas e que permita unir o partido, evitando uma confrontação que, neste momento, a todos os títulos era indesejável." Depois, deixou uma reserva para o futuro: "É bom que [a unidade] possa acontecer. Vamos ver nos próximos dias." com Leonete Botelho



Editorial / hoje / Público
O PS vive em tempo de tréguas, não de paz 

O “nim” de António Costa nem acaba com a guerra surda, nem reforça a credibilidade do PS
PS entrou na noite de anteontem na sede do Largo do Rato com a necessidade de responder ao pedido de António José Seguro sobre a “clarificação” das suas relações de poder. Mas saiu da comissão nacional com muitas promessas de conciliação e nenhum sinal objectivo de que a “clarificação” vai acontecer. Seguro foi a jogo, respondendo aos apelos dos adversários com a convocação do conselho nacional e a promessa de eleições directas “o mais cedo possível”. O putativo líder da oposição interna não seguiu o mesmo caminho. Se António Costa procurou esvaziar os conflitos e promover a unidade interna, na prática não fez o que poderia ter feito para “clarificar” de vez a situação: nem disse que se vai candidatar, nem que desiste inequivocamente dessa possibilidade. Ficou no limbo e defendeuse com uma ideia bizarra: que avançará, se Seguro não conseguir a tão desejada unidade. O militante que, voluntária ou involuntariamente, serve de rosto aos que contestam Seguro exige que Seguro os seduza para o consenso interno. Com tanta margem para falhar, Seguro e o PS viverão uma paz efémera. Não há uma medida padrão para se avaliar o grau de uma unidade partidária. Sobra por isso margem para que a guerra de facções persista, para que a troca de acusações de “deslealdade” ou de “hipocrisia” continue, para que a intriga se imponha a ideias e propostas. O PS permanece assim amarrado ao interesse táctico das suas facções. As manobras dos bastidores vão continuar até que se saiba se há, ou não, quem se decida a disputar a liderança. Em vez de solucionar o seu problema, o PS só conseguiu adiálo por algumas semanas. Em vez da paz, ficou-se pelas tréguas. As facções internas continuarão a terçar armas e a lutar por influências. O Governo suspirará de alívio e o país entreter-se-á com golpes e contragolpes. Não é isto o que se espera de um partido que se diz pronto a disputar o poder.



1 comentário:

Xico205 disse...

Quando eu faço um comentario em que digo que o Antonio Costa é monhé, ele é censurado, mas o sr Jeeves põe uma foto com o mesmo e com a legenda "Ké flô"!!!!


Aqui está um lindo exemplo de bom senso por parte deste senhor...mais um!