08/12/2012

Mouradia. A sua nova casa na Mouraria.




Mouradia. A sua nova casa na Mouraria
Por Clara Silva, publicado em 8 Dez 2012 in (jornal) i online
A Mouradia abre hoje as portas no bairro mais multicultural de Lisboa. Além de ser a sede da associação Renovar a Mouraria terá uma cafetaria e workshops para todos os gostos

Há cada vez mais razões para visitar a Mouraria. Há, por exemplo, aquele restaurante chinês clandestino (não lhe vamos dar a morada por razões óbvias, mas esperemos que o descubra mais depressa do que a ASAE), onde pode experimentar um prato chamado “carne com sabor a peixe”. Não estamos a inventar, não teríamos imaginação para tanto. Vá lá comprovar e não se esqueça que no restaurante é você quem põe os talheres e os pratos na mesa.

Há outras pérolas escondidas por entre as ruas cada vez mais arranjadas do bairro, como o bar Anos 60, onde o dono nos oferece um livro onde na capa se lê “Breviário de Pornografia Esquizotrans” – seja lá o que isso for. Numa montra de outra rua há um papel que indica que todos os produtos estão reservados. Mas só vemos champôs e frascos de gel de banho. Bizarro. Podíamos encher o resto do artigo com insólitos da Mouraria. Fica para a próxima. Até porque com a inauguração da Mouradia, muitos mais histórias hão-de surgir.

A Mouradia, uma casa que a partir de hoje vai abrir as portas aos moradores do bairro e a todos o que a quiserem visitar, é um sonho antigo da associação Renovar A Mouraria. “Desde 2008 que fazemos muitas actividades no espaço público, mas não tínhamos um local próprio, que queríamos muito para aumentar o nosso leque de acção e fazer actividades com a população”, conta Filipa Bolotinha, de 37 anos. Na Mouraria, a associação dedica-se a muitas coisas: “arraiais de Santo António, rondas das tascas, Janeiras, ateliês portáteis, visitas guiadas, o jornal ‘Rosa Maria’…”

Com a Mouradia, as actividades vão aumentar e ter um espaço próprio. A casa, um edifício da câmara que estava “num elevado grau de degradação”, diz Filipa, vai a partir de hoje funcionar como cafetaria no piso de baixo e sala multifuncional no de cima. “Na cafetaria vamos ter projecção de filmes e música, desde fado à música mais contemporânea possível”, conta. Hoje já há dois concertos, que se o tempo ajudar se vão estender à rua. “São de duas bandas, os Compota, uma banda funk, e os Telefonia, um projecto que surgiu nos nossos arraiais e que faz uma retrospectiva pelos grandes hits da música portuguesa”, continua Filipa.

A partir de dia 10 arrancam vários projectos na sala principal, como “português para imigrantes” e outras actividades “para um público exterior”, como aulas de dança e de guitarra e workshops pagos que funcionarão como sustento da Mouradia.

Hoje na inauguração já pode experimentar algumas actividades gratuitamente. Por exemplo, uma aula de guitarra para crianças, uma aula de ballet e workshops de várias modalidades da medicina tradicional chinesa, como reiki ou shiatsu. Na cafetaria haverá “comida popular da Mouraria” e a ideia é haver sempre uma interacção com os moradores do bairro.

Aliás, a exposição inaugural é de um poeta popular do bairro, desconhecido do público. “Ele faz poesia e representa-a de forma muito gira, muito gráfica.”

As obras do edifício também envolveram a população da Mouraria e por si só dariam outra história. A Artéria, o ateliê envolvido na obra, dedicado exclusivamente à reabilitação de edifícios, propôs um projecto sustentável, com grande controlo de custos. “Queríamos fazer um manifesto sobre a reabilitação e mostrar que pode ser barata e participada”, conta a arquitecta Joana Grilo. “Na altura existia esta ideia de que reabilitar era mais caro do que construir de novo e que valia a pena reabilitar o património de valor.” A Mouradia, que na altura do projecto se chamava Edifício Manifesto, provou que essa ideia está errada.

As obras foram feitas com materiais oferecidos por marcas de construção. Por exemplo, as escadas e o escritório onde agora funciona a associação foram construídos com placas que servem para fazer betão.

O melhor mesmo é ir lá dar uma vista de olhos – se não puder hoje, amanhã também haverá actividades como fado e uma queimada galega. Procure por uma casa azul no Beco do Rosendo.

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