11/09/2012

Mais de 300 sobreiros e carvalhos abatidos "ilegalmente" no Alentejo.



“A partir de agora, abater um sobreiro não será apenas abater uma árvore protegida, mas sim, um símbolo nacional"
Apesar da sua classificação desde Dezembro ...Mais de 300 sobreiros e carvalhos abatidos "ilegalmente" no Alentejo.
Operação durou semanas com o conhecimento das autoridades, que se deslocaram várias vezes ao local sem conseguir pará-la
Este atentado, conclui o dirigente da Quercus, "revela, mais uma vez, a falta de fiscalização para impedir os abates da floresta protegida" e a "incapacidade do Estado em travar algumas acções ilegais que infelizmente ainda se continuam a verificar".

Protecção da natureza
Mais de 300 sobreiros e carvalhos abatidos "ilegalmente" no Alentejo
Por Carlos Dias in Público
Numa herdade com cerca de 500 hectares, no lugar de Troviscais, concelho de Odemira, junto ao rio Mira, foram cortados "ilegalmente" mais de 300 sobreiros e carvalhos portugueses, denunciou ontem a organização ambientalista Quercus.
A herdade onde ocorreu o abate localiza-se no interior do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e a operação decorreu durante "mais de um mês", garantiu Domingos Patacho, coordenador da Quercus para a Área das Florestas.
Elementos do Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente da GNR (SEPNA) deslocaram-se várias vezes ao local, mas "não conseguiram travar a destruição de uma importante zona de floresta mediterrânica", realçou o dirigente da Quercus.
O proprietário da Herdade do Leonardo tinha obtido da direcção do PNSACV um parecer favorável condicionado para o corte de 120 sobreiros que se encontravam secos, adiantou Domingos Patacho. Mas dada a amplitude do corte e as queixas que chegaram à Quercus, o dirigente da organização deslocou-se ao local e verificou o abate de mais de 300 árvores.
Constatou a existência de "vários sobreiros verdes cintados [marcados] pelo proprietário" para que a o pessoal os cortasse "mesmo sem qualquer autorização legal". A confirmação foi feita através da contagem dos troncos ainda com rama verde que se encontravam num camião TIR com semi-reboque que ficou retido no interior da herdade devido a uma avaria.
Confrontada com a gravidade da situação, a Quercus alertou de imediato o SEPNA e o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, pois apesar de alegadamente a situação ser do conhecimento destas entidades "o abate prosseguia sem que fosse apreendida a maquinaria utilizada na acção".
"Não obstante termos conhecimento da existência de uma autorização para abate de 120 sobreiros secos, verificámos que foi abatido um número muito superior de sobreiros verdes sem qualquer autorização, o mesmo acontecendo também com diversos carvalhos portugueses", frisou Domingos Patacho. Alguns destes exemplares encontravam-se ainda no semi-reboque, acrescentou o coordenador da Quercus.

A "estranheza" da Quercus

A Herdade do Leonardo está localizada numa área de protecção parcial Tipo II e integra o Sítio de Importância Comunitária da Rede Natura 2000 - Costa Sudoeste. Domingos Patacho classifica de "estranho" o procedimento dos proprietários da herdade e diz que ele "evidencia o descontrolo da actividade de comércio de lenhas, que hoje é pouco ou nada fiscalizado pelas autoridades".
Neste sentido reclama a "actuação imediata das entidades competentes para repor a legalidade" na Herdade do Leonardo e defende que seja prestada "uma especial atenção" à verificação da eventual atribuição de apoios públicos, nacionais e europeus, a projectos agro-florestais que ali estejam a decorrer.
Este atentado, conclui o dirigente da Quercus, "revela, mais uma vez, a falta de fiscalização para impedir os abates da floresta protegida" e a "incapacidade do Estado em travar algumas acções ilegais que infelizmente ainda se continuam a verificar". A Quercus diz que vai continuar a acompanhar este caso, apelando às autoridades para que "responsabilizem devidamente" o promotor desta acção, lembrando que a Assembleia da República classificou em Dezembro o sobreiro como a "Árvore Nacional de Portugal".

1 comentário:

Paulo Nunes disse...

Como de fato não vivemos num estado de direito ... tudo é possível. Maior a barbaridade, maior a impunidade.

Se atos como este tivessem efetivamente consequencias rápidas para os responsáveis (e não me refiro às simbólicas multas) a realidade seria bem diferente... enfim...