20/06/2012

Rio+20. O pano da desilusão cai ainda antes do arranque oficial





Por Pedro Rainho, publicado em 20 Jun 2012 - 03:10 in (jornal) i online


Documento aprovado ontem recolhe críticas pela falta de ambição para alcançar compromissos concretos para a defesa do ambiente


Começa hoje no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, onde durante três dias se discute o futuro do ambiente. Mas não é preciso esperar por dia 22 para fazer o balanço, porque o vaticínio está dado: o documento final que resulta do encontro será uma “desilusão”. A análise apresentada ao i por Francisco Ferreira, da Quercus, a partir do Brasil, baseia-se na ideia de que o texto elaborado pelos delegados dos 193 países das Nações Unidas fica “aquém do que era desejável”. A posição está próxima da apresentada pela União Europeia, que fala em “falta de ambição” nas propostas avançadas. A Greenpeace vai mais longe e considera já “patético” o rascunho do texto final.

“Para conseguir consenso”, explica Francisco Ferreira, “o Brasil baixou a fasquia, retirou as partes mais polémicas e tudo o que eram questões que gostávamos que ficassem resolvidas ficam de fora do compromisso”. Questões que passam pelo investimento nas energias renováveis, pelo fim dos subsídios a combustíveis fósseis, pela criação de uma agência mundial para o ambiente e pela aprovação de um calendário com objectivos nas diferentes áreas – algumas das quais estavam inscritas na primeira versão –, tudo ideias que foram retiradas do documento em prol do consenso entre as 193 delegações dos países com assento nas Nações Unidas.

Ao longo de 49 páginas, os líderes políticos renovam “o compromisso com o desenvolvimento sustentável”, através da “promoção económica, social e ambiental de um futuro sustentável”. Estas palavras representam poucos avanços, quando se recordam os princípios expressos na Conferência do Rio em 1992. “Vinte anos depois esperava-se que houvesse aqui um impulso forte, e não é isso que se sente”, lamenta Francisco Ferreira. Don Amalio, presidente do Fórum Soria 21 para o desenvolvimento sustentável, admite que, “em plena crise, a Europa possa ser impulsionadora desse princípio, pelos compromissos assumidos em Joanesburgo, porque este tema se tornou irreversível”. Defensor da criação, em Portugal, de uma Agência das Nações Unidas para a Água e uma outra, para o Meio Ambiente, em Espanha, Don Amalio sublinha que “é preciso adoptar um diálogo inteligente e pôr em prática, de forma definitiva, o plano de acção para a sustentabilidade, para o qual devem contribuir os governos e a sociedade civil”.

A defesa de medidas mais concretas na promoção de uma “economia verde” – sem impacto significativo no ambiente – foi um dos pontos que mais dificultaram o consenso, a par do “financiamento para os países e da definição de objectivos para o desenvolvimento sustentável”, destaca Francisco Ferreira. As palavras do secretário-geral do Rio+20, Sha Zukan, que considera o rascunho final “o melhor que se poderia conseguir”, e as ausências no encontro de líderes mundiais como Barack Obama e Angela Merkel, são, para o responsável da Quercus, “fragilidades” que “enfraquecem o compromisso que se esperaria alcançar”.

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