20/06/2012

Cidades prometem mega-redução de gases com efeito até 2030 .


Os presidentes da câmara deram as mãos para mostrar a sua união 


Com o Rio de Janeiro semi-parado no trânsito, e uma interminável fila de visitantes à porta, o Forte de Copacabana foi o cenário, ontem de manhã, de um compromisso para reduzir os gases do efeito de estufa em 400 milhões de toneladas até 2020 e mil milhões de toneladas até 2030. 

Por Alexandra Lucas Coelho, no Rio de Janeiro in Público


Assinavam por baixo os presidentes de câmara das maiores cidades do mundo, em parceria com a fundação de Bill Clinton para o ambiente. O ex-Presidente americano não estava presente, mas entrou em directo através de écrã gigante para insistir na mensagem de que ser a favor do ambiente não prejudica a economia, ao contrário, "melhorar o ambiente é boa economia". 
Perante um auditório de 500 pessoas, a sessão, prevista para 50 minutos, durou exactamente 50 minutos, um prodígio para hábitos cariocas. Presidiam Eduardo Paes, prefeito do Rio, e Michael Bloomberg, presidente da câmara de Nova Iorque e actual líder da C40, a organização que reúne os presidentes de câmara das 59 maiores cidades do mundo. 
Nos últimos dias, 33 prefeitos estiveram reunidos no Rio a preparar o anúncio de ontem. Era a chamada Cúpula dos Prefeitos, antecedendo a de chefes de estado e outros governantes na Rio+20.
E seis deles partilharam o palco com Paes e Bloomberg para um aperto de mãos em cadeia que pretendia simbolizar o empenho no compromisso: os representantes de Seul, Joanesburgo, Porto Alegre, São Paulo, Buenos Aires e Lagos. Com 18 milhões de habitantes, a capital nigeriana era a mais populosa das presentes.
A ironia da manhã foi quando Bloomberg anunciou que uma das oradoras ficara "retida no trânsito, senhor perfeito", e sorriu para Eduardo Paes. Cada vez mais tomado por automóveis, o Rio está a perder a cabeça com o trânsito durante a Rio+20: vias cortadas, tropas e polícia na rua, enchente de visitantes, marchas de protesto, tudo contribui para desesperar até os taxistas cariocamente imunes.

Sucesso de público

Mas carioca gosta de acontecimentos e o Humanidade 2012 - o gigantesco andaime erguido sobre o Forte de Copacabana, com exposições e uma biblioteca de 10 mil livros - está a ser o maior sucesso. Enquanto lá em cima os prefeitos preparavam o seu anúncio, centenas de pessoas esperavam ao sol, na fila, incluindo turmas de escolas. Sempre que pelo corredor ao lado passavam engravatados, havia uma explosão de palmas. O trânsito pode estar pior que nunca mas os cariocas não deixam de fazer da Rio+20 uma festa.
Já o auditório do anúncio do C40 era só para credenciados, e portanto pouco colorido. 
Até às 10h da manhã, os números da população das 59 mega-cidades foram desfilando no écrã gigante do auditório. Depois Paes e Bloomberg entraram em cena com os outros seis prefeitos. "Não há dúvida de que o mundo é cada vez mais urbano, que metade da população vive em cidades e que até 2050 cerca de 70% viverá em cidades", disse Paes. 
Entre os dados citados destacam-se estes: as cidades do C40 representam cerca de 14% das emissões de gases de efeito estufa; os presidentes de câmara têm controle direto sobre 75% das fontes urbanas de emissões de poluentes; 71% das cidades do C40 prometem metas de redução de emissões poluentes.
"A mensagem é que acções e decisões já estão a ser tomadas pelas prefeituras", sem esperar pelos chefes de estado, disse Paes. "O futuro sustentável já é uma realidade, os prefeitos, que são directamente responsáveis pelas pessoas, estão a agir", reforçou Bloomberg. "Quando agimos localmente podemos ter um impacto global." 
Seguiu-se Clinton, relembrando a falta de compromisso americano no Protocolo de Quioto e como todas estas metas "pareciam impossíveis" há duas décadas. "Muita gente ainda acha que a economia vai sofrer se fizermos algo a sério pelo ambiente", alertou, "mas há mais provas que nunca de que o desenvolvimento sustentável é o único que faz sentido social, económica e politicamente." 
Deu exemplos de avanços, de Bogotá a Houston, de Lagos à Cidade do México. Porque são "as cidades que têm de liderar o caminho, criar os novos empregos, o novo futuro".
Depois da intervenção do ex-Presidente, Bloomberg anunciou uma parceria do C40 com o Banco Mundial e o prefeito de Lagos insistiu, na senda de Clinton: "O ambiente é a maior economia do nosso tempo."
No encerramento, Eduardo Paes aproveitou para dar o Rio como exemplo de uma "mudança de postura", uma cidade que, enquanto anfitriã do Mundial de 2014 e das Olimpíadas de 2016, mais "se sente obrigada a cumprir" as metas anunciadas. Citou como provas o recente encerramento da Lixeira de Gramacho, uma das maiores do mundo, e a inauguração de uma nova linha de autocarros mais amiga do ambiente que virá a ter 150 quilómetros de rede.
À saída, a fila de espera ainda estava maior e em volta da Lagoa o trânsito todo parado.

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