23/05/2012

Peões com mais espaço e acesso à estátua do Marquês Por Marisa Soares .




Por Marisa Soares in Público


A partir do Verão, não vai ser preciso esperar pela vitória de um clube de futebol para chegar junto da estátua do Marquês de Pombal, em Lisboa. O monumento vai estar acessível a peões através de passadeiras, graças à alteração do trânsito na rotunda. A Câmara de Lisboa quer aumentar o espaço pedonal nesta zona e diminuir o tráfego de atravessamento em direcção à Baixa, dando ao mesmo tempo uma nova cara à Avenida da Liberdade.
Passeios mais largos, menos vias, mais espaços verdes e menos estacionamento - são estes os ingredientes da receita camarária para ordenar e diminuir o número de carros na zona central da cidade. "Queremos melhorar a qualidade do ambiente urbano e do ar, enquanto ganhamos espaço para as pessoas usufruírem da nova dinâmica da avenida", diz o vereador da Mobilidade, Francisco Nunes da Silva.
O autarca refere que "grande parte do tráfego da avenida [em hora de ponta, chega aos 1500 veículos] é de atravessamento, com destino à avenida marginal ou às colinas". No entanto, "hoje em dia não é esse o funcionamento que interessa à cidade, até porque não faltam alternativas", diz Nunes da Silva.
É dele e do vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, a proposta que vai ser votada hoje em reunião de câmara e que visa submeter o novo modelo de circulação a discussão pública, durante 30 dias. O objectivo é começar as obras na rotunda em Julho, que serão definitivas e "só não avançaram antes porque o túnel ainda não estava pronto", afirma Nunes da Silva. Em Setembro, começa a ser testado o novo modelo de organização do trânsito na avenida. Só no final do ano se vai ficar a saber se esta mudança é permanente.
Na rotunda do Marquês os condutores passam a usar três vias - e não cinco, como actualmente - da rotunda interior para aceder às ruas mais movimentadas: avenidas Joaquim António de Aguiar, Fontes Pereira de Melo e da Liberdade. O acesso às secundárias (Rua Braancamp e Av. Duque de Loulé) e a circulação dos transportes públicos serão feitos através de uma rotunda exterior - que já existe, mas à qual falta o troço desde o Instituto Camões até ao outro lado da Av. da Liberdade. Entre as duas rotundas vai ser criado um jardim e um passeio. A intervenção vai custar "menos de meio milhão de euros", adianta Nunes da Silva.
Na Avenida da Liberdade, as mudanças do trânsito serão resolvidas com sinalização vertical e obstáculos físicos. Quem está de passagem pela avenida, nas faixas centrais, passa a ter apenas duas vias em cada sentido (uma para veículos particulares e outra para transportes públicos) desde a Rua Alexandre Herculano até aos Restauradores. No meio, vai nascer uma zona com floreiras e um espaço pedonal.
A maior alteração passa pelas vias laterais, onde se diminui o estacionamento e alarga os passeios. As vias vão funcionar em círculo, o que implica alterações de sentido nalguns troços (ver infografia) e estarão reservadas ao trânsito local. "Vão servir apenas para entrar e sair dos quarteirões, deixa de ser possível percorrer as laterais do início ao fim da avenida", diz Nunes da Silva.
No fundo, refere, "os automobilistas vão andar mais, mas vão andar melhor e com menor impacto na poluição". Este é mesmo um dos motivos principais desta intervenção: em 2011, os valores-limite de partículas inaláveis na Avenida da Liberdade foram ultrapassados 113 vezes, quando o limite imposto por lei é de 35 vezes. A criação da Zona de Emissões Reduzidas no eixo Avenida da Liberdade/Baixa não resolveu o problema. "Durante o segundo semestre, só conseguimos reduzir em 1% a concentração de poluentes", diz Nunes da Silva. Se nada for feito, o Estado arrisca-se a pagar uma multa e a ser penalizado no acesso aos fundos comunitários.

14 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Primeiro gasta-se milhões a construir estradas. Depois aparecem uns "iluminados" a entupi-las e tornar a cidade intransitável só porque sim.

De que serve uma cidade sem forma de se circular dentro dela?

Anónimo disse...

Filipe, quem entope as estradas são os carros que as usam.
E infelizmente são demasiados.

Se não consegues circular em Lisboa sem carro, certamente podes pedir um dístico portador de deficiência física para colocares no teu carro, e passas a ter mobilidade e estacionamento mais facilitada na cidade.

Anónimo disse...

Eu não faço por menos.

Na Av. da Liberdade, devia ser terminantemente proibido todo o tipo de trânsito, com as seguintes excepções:

a) Carros de Fórmula 1.

b) Caravanas da Volta a Portugal em bicicleta.

Filipe Melo Sousa disse...

Caro anonimo,
agradeço a gentil sugestão. Infelizmente já existem tais dísticos em demasia utilizados por muitos iluminados com as suas vias especiais que gostam de atrofiar a circulação alheia. O resultado são horas de filas e muita poluição no para arranca. Outro resultado de medio-longo prazo é a desertificação de Lisboa que se tornou impraticável

Miguel disse...

Para quem não consegue circular na cidade de carro pode fazê-lo umas invenções muito boas chamadas pernas, bicicletas, metro, autocarros, taxis... nas partes mais civilizadas do mundo já usam há muito estas invenções, aqui também não devem demorar a chegar... O problema é que pelos vistos os "utilizadores" de Lisboa são todos iluminados e burros, e não há nada no meio.

Anónimo disse...

Porreiro!

É desta que a Baixa morre de vez. Também, já não se perde nada.

E a coisa promete para o Parque Mayer: lá vem mais uma machadada.

Filipe Melo Sousa disse...

Há aqui comentadores que padecem de um autismo patológico. Para uns 200.000 sortudos que moram perto de uma estação de metro, até é exiquível deslocar-se sem usar o carro. Acontece que a grande Lisboa tem uns 3-4 milhões de almas.

Nem preciso comentar a proposta de usar as pernas para vir desde Odivelas ou Almada.

Para quem gosta de andar horas à espera de transportes públicos muito mal frequentados, fazendo 3-4 trocas e demorando horas, boa sorte.

Com estas iluminações, só vão esvaziar a baixa e encher o Dolce Vita "Tejo".

Anónimo disse...

Não é uma mudança destas que vai diminuir o nº de carros a circular em Lisboa. O que vai acontecer é a transferência de trânsito para outras vias, por exemplo como a Rua da Escola Politécnica, onde vivo, que desde que condicionaram o trânsito na Baixa a circulação de automóveis aumentou muito, demais até para a sua capacidade. A única iniciativa que pode funcionar para diminuir o trânsito em Lisboa será cobrar portagens urbanas, a exemplo de outras cidades europeias.

Anónimo disse...

O comentário das 12:54 é o "melhor" de todos. Obviamente o autor nunca saiu do seu cantinho para ver como é no centro histórico de qualquer cidade europeia. O centro de Copenhaga sobrevive completamente sem carros, e até aqui mesmo ao lado basta ir a Valencia ou até Salamanca e andar pelo centro histórico.
Eu cá evito a Rua da Prata por exemplo por causa dos carros. Prefiro a Rua Augusta.

Anónimo disse...

Que grande confusão. É natural.
Já ninguém refere o Passeio Público. Não basta nascer em Lisboa é preciso reflectir e não ficar atolado em qualquer parecer.
Alguém se lembra de há anos e ainda não são assim tantos, de uns iluminados decerto licenciados quererem fazerem drásticas alterações e os carros circularem no subsolo em túneis.O Projecto teve discussão, mas prevaleceu nada.
Há muitos anos que eram necessárias medidas, felizmente mesmo lentamente esta vereação tem saber e nunca será demais referir F.Nunes da Silva.
Se o que for implementado não resultar, os lisboetas mais sensatos não deixarão de criticar e apresentar propostas não despesistas.
Logo sensatez nas bocas.
Não queremos ninguém excluido.
Mas para os sempre cépticos, talvez seja importante referir quantos carrinhos de bébés, invisuais e deficientes se vêem no antigo Passeio Público?
Não devemos excluir esta população.
Conhecem decerto outras Alamedas noutros Países com mais fruição pelos habitantes e turistas.
Parabéns por Lisboa.

Anónimo disse...

finalmente uma medida interessante, resta ver como ficará :)
com tanto estacionamento subterraneo e sempre vazio nao se percebe porque nao acabam de vez com o estacionamento à superficie na avenida...

Anónimo disse...

caro Miguel,
Sendo Lisboa uma das cidades da Europa com mais gente a viver fora da cidade como é que quer que as pessoas utilizem outra forma de se deslocar sem ser o automóvel particular? Se não tivessem construído quilometros e quilometros de betão em tudo o que era periferia hoje as pessoas podiam viver mais perto da cidade e utilizar esses meios de transporte. Como construiram, são praticamente que obrigadas a utilizar o carro se não querem perder mais de 2 horas diárias em transportes.

Xico205 disse...

Como construiram, são praticamente que obrigadas a utilizar o carro se não querem perder mais de 2 horas diárias em transportes.

9:18 AM

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E todas as empresas de serviço publico andam continuamente a cortar na oferta de transporte e ainda vão reduzir mais. Há muitos locais onde já é impossivel viver sem carro. Odivelas que é um conjunto de urbanizações em montes de elevado declive, é ridiculo pedir para que as pessoas andem de bicicleta e a pé! A maioria dos habitantes da Ramada, Bons Dias, Chapim, Colinas do Cruzeiro, Arroja, Pedernais, Serra da Amoreira, Casal dos Apréstimos, etc; morria de ataque cardiaco se o fizesse. É preciso ter uma saúde de ferro para o fazer, para além que o ar e a estreitura da estrada que liga Odivelas a Caneças os deixa em grande perigo, sujeitos à poluição e ao risco de serem atropelados pelos muitos camiões que lá passam.

Anónimo disse...

Eu moro no Parque das Nações, zona Norte e RECUSO-ME terminantemente a não utilizar o carro. Para me deslocar onde quer que seja tenho obrigatoriamente de utilizar autocarro (1,75 uma viagem) e metro (1,25), façam as contas. Ou tenho um passe mensal, que não me compensa porque é inviável deixar de utilizar o carro de todo (ou seja, não vou pagar 40 euros por mês MAIS a gasolina quando preciso de ir a algum lado que não é bem servido de transportes.) A isto ainda acresce o tempo que demoraria a utilizar os transportes, bem como o inconveniente de cansaço que daí decorre. Era o que faltava vedarem-me o acesso ao centro da minha cidade.