24/04/2012

Ligação da Alta de Lisboa ao Campo Grande vai ter plano de pormenor




As obras do primeiro troço do Eixo Central estão quase prontas junto à Segunda Circular
Por José António Cerejo in Público

Câmara comprometeu-se a fazer obras até 2020. Jovens arquitectos que ganharam concurso Europan 2010 convidados a fazer plano


A ideia parece de outro mundo. Ou pelo menos de outra cidade. Uma avenida dominada pelos caminhos pedonais e de bicicletas, um eléctrico rápido, a circulação automóvel em segundo plano. Edifícios que criam "espaços abertos" e potenciam "um estilo de vida social mais interactivo nos processos de habitar, trabalhar e estudar". Tudo isso para ligar o eixo formado pelas avenidas da Liberdade, Fontes Pereira de Melo e República à Alta de Lisboa, do lado de lá da Segunda Circular - um projecto de que se fala há muito, mas que nem sequer está definido no papel.
Desta vez, a Câmara de Lisboa parece ter começado a dar alguns passos no sentido da sua concretização. Para isso convidou uma equipa de jovens arquitectos a fazer um plano de pormenor que abrange perto de 20 hectares. O espaço situa-se entre o cruzamento da Av. do Brasil com o Campo Grande, por trás da Universidade Lusófona, e o início do Eixo Central da Alta de Lisboa, cujo primeiro troço está actualmente em fase de conclusão.
Na origem do convite está a proposta com que os arquitectos Alexander Häusler e Silvia Benedito ganharam, em 2010, o concurso que a associação Europan Portugal promove anualmente para estimular soluções urbanísticas e arquitectónicas inovadoras e de qualidade. "É uma ideia de continuidade do espaço público e do espaço verde do Campo Grande, que privilegia os caminhos pedonais, as bicicletas, os transportes públicos, incluindo o eléctrico rápido, ou o metro de superfície", disse ontem ao PÚBLICO Silvia Benedito, presentemente a trabalhar nos EUA.
Nos últimos dois anos, os vencedores do concurso, ligados ao atelier de arquitectura Oficina A, já foram ouvidos pela câmara na perspectiva da revisão do Plano Director Municipal. "Pediram-nos elementos para integrar alguns dos nossos objectivos no novo plano, nomeadamente densidades e usos [das construções a erguer ao longo da futura avenida]", acrescentou Silvia Benedito. Já este ano - confirmou um responsável pelos serviços de planeamento da autarquia -, os arquitectos "foram contactados para apresentarem uma proposta de honorários com vista à elaboração de um plano de pormenor" que desenvolva a proposta vencedora do concurso.
O plano a elaborar, tal como a proposta de 2010, não inclui, contudo, a complexa solução viária que permitirá a ligação da inacabada Av. Santos e Castro e do Eixo Central da Alta de Lisboa à Segunda Circular e à Rua das Murtas. Este projecto - que a Sociedade Gestora do Alto do Lumiar (SGAL) disse na semana passada que vai ser executada por fases, a primeira das quais deverá estar pronta no primeiro trimestre de 2013 - foi desenvolvido por técnicos da câmara, mas os seus pormenores nunca foram tornados públicos.
De acordo com a mesma fonte dos serviços de planeamento, as fases posteriores da obra, que o município se comprometeu com a SGAL a concluir até 2020, poderão incluir soluções que dêem continuidade ao plano de pormenor. Silvia Benedito admite que a sua "maneira de pensar na circulação" é "diferente" da da câmara, mas espera que seja possível articular uma com a outra.
A avenida proposta pela equipa da Oficina A deverá ser rasgada em diagonal, a partir do Campo Grande, passando por baixo da Segunda Circular na zona da Rua das Murtas. Na altura foi definida como um "extensão da malha urbana de Lisboa", prevendo "edifícios de maior densidade" do lado do Júlio de Matos e "uma infra-estrutura cívica de maior vocação pública do lado oposto".

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