20/04/2011

Monte Estoril quer salvar o Miramar, “uma preciosidade”


Petição defende arquivamento do plano de pormenor e um novo hotel


Monte Estoril quer salvar o Miramar, “uma preciosidade” (por Carlos Filipe in Publico)
Associação de moradores lança petição a contestar reestruturação do terreno do antigo hotel, que diz não respeitar o desenho urbano e o espírito do local
S.O.S. Monte Estoril é uma petição popular, ontem lançada em conferência de imprensa pela associação de moradores daquela pequena zona residencial encravada entre o Estoril e Cascais, que apela à preservação do antigo Hotel Miramar, descrito por historiadores como uma preciosidade notável da arquitectura de veraneio do início do século

Raquel Henriques da Silva, historiadora de arte, antiga directora do Instituto Português de Museus, quebrou a quietude no Jardim dos Passarinhos, coração do Monte Estoril: “Há um lobby muito grande, o dos grandes arquitectos. Políticos e promotores imobiliários querem-nos, mas para aqueles é preciso destruir tudo, para fazer de novo, e moderno. Eles têm um desígnio monstruoso.”

A professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas contou um pouco da história do local, que disse ter um urbanismo único, do chalet que Maria Pia ali ocupou após a morte de D. Luís, da chegada do caminho-deferro, do primeiro projecto turístico de referência, da arquitectura de veraneio, e concluiu: “É preciso salvaguardar a sua envolvente verde, o paisagismo, a memória física da fachada, a volumetria final. E é preciso que o arquitecto fale connosco.”
A petição, que aquele movimento cívico pretende fazer chegar, no mínimo, a 5000 pessoas, pretende dar voz a quem se diz ignorado no processo de elaboração do plano de pormenor para a reestruturação urbanística do terreno onde se encontram as ruínas do antigo imóvel, que consta do inventário municipal. Foi chalet, clube internacional e hotel, de charme, com 40 quartos e frondoso arvoredo envolvente. Até que ardeu, em 1978.

A Sociedade Estoril-Sol, concessionária da exploração do jogo no Estoril, propôs a construção de um hotel com quatro pisos e 105 quartos, que o texto da petição diz “aumentar em 300 por cento a área de construção do antigo hotel”. Salvador Corrêa de Sá, da associação de moradores e presidente do Instituto Amaro da Costa, esclareceu que o objectivo peticionário “não é estar contra que se façam coisas, não somos contra o novo hotel, mas que o façam com conta, peso e medida, sem aço e vidro, como o Estoril Residence, mas tomando em consideração a vontade dos moradores, a caracterização da zona e o espírito do local.”

A associação de moradores contestou aquele plano camarário em sede de consulta pública, que diz estar ferido de ilegalidade à luz do Plano Director Municipal, e aguarda o parecer da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo. Admite, também, o recurso à via judicial para travar o plano.

O historiador João Aníbal Henriques lançou também um apelo aos responsáveis pelo projecto: “Salvem uma preciosidade desta terra, que é uma pérola. Preservar [o hotel] é uma expressão de inteligência. Ouçam a população, salvem o Monte Estoril.” O texto da petição encontra-se disponível em http://www.geopetition.com/ petition/43663.html.
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Raquel Henriques da Silva :

“Há um lobby muito grande, o dos grandes arquitectos. Políticos e promotores imobiliários querem-nos, mas para aqueles é preciso destruir tudo, para fazer de novo, e moderno. Eles têm um desígnio monstruoso.”

Não representam estas palavras também a síntese daquilo que se passa em Lisboa, ilustrada pela “ troika” Associação de Arquitectos, Vereador do Urbanismo e Arquitectos do “Regime”?
No Largo do Rato, depois da pressão exercida por Manuel Salgado, Promotor e Arquitectos autores do Projecto, não veio de imediato a Associação de Arquitectos, depois da sua “aprovação”, através de comunicado apoiar e defender ?
Constitui a Associação de Arquitectos uma Instituição de Interesse Público, ou é um Clube de Interesse Corporativo ?
António Sérgio Rosa de Carvalho.

1 comentário:

Anónimo disse...

Hoje soube-se que um dos técnicos do FMI terá perguntado porque razão uma cidade como Lisboa, com um clima e uma situação estratégica privilegiada - à beira de um rio e com colinas que oferecem um cenário único – tem tantos edifícios arruinados.
Pois eu já escrevi aqui variadas vezes que trabalhando essencialmente com estrangeiros oiço isso todos os dias. Os que nos visitam não compreendem como é possível que Lisboa, cidade capital de um país de 900 anos esteja tão mal tratada, tão desvirtuada, tão destruída.
Os Lisboetas tem muito que se envergonhar pois não têm uma cidade à altura da história e importância do seu país. Continua-se a permitir a desvirtuação ou a destruição total de edificado para substitui-lo por arquitetura pequena e pobre mas que os arquitetos, num total desrespeito pela obra dos seus pares do passado, descrevem como obras maiores; os políticos camarários continuam a dar-se ao luxo de permitir a substituição de edificado que, mesmo não sendo exemplos de arquitetura de excelência, têm uma função num todo e numa envolvente – é o exemplo de dois edifícios do séc. XIX que foram substituídos por dois blocos de apartamentos de muito pobre risco, isto no inicio da Av. Pascoal de Melo. Outros são desvirtuados tremendamente, com interiores e acrescentos modernos. Outros ainda têm o seu destino ameaçado, como tantos na Av. da República, 5 de Outubro – a mais desvirtuada das avenidas novas. Tudo isso devemos aos políticos, arquitetos, promotores e também aos proprietários que abarracam os seus apartamentos com janelas diferentes por andar, compressores de ar condicionado nas varandas e fachadas, antenas parabólicas nas varandas, marquises fechadas, portas de alumínio e outras mil malfeitorias.
Que esperança para Lisboa se os políticos que podiam mudar a equação e obrigar a uma mudança de paradigma, não afrontam os interesses porque estão a pensar nas suas carreiras políticas e no destino dos seus partidos?