05/03/2011

Saída do director do Museu do Hospital Miguel Bombarda provoca controvérsia

In Público (5/3/2011)
Por Alexandra Prado Coelho

«Ricardo França Jardim, responsável pelo Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, garante que as colecções do Miguel Bombarda já estão a ser avaliadas e que "nada foi destruído"


IMC apoia ideia de um museu da medicina

O director clínico do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Ricardo França Jardim, negou ontem que o director do Pavilhão de Segurança-Museu do Hospital Miguel Bombarda, Vítor Freire, tenha sido demitido. Freire, que é administrador hospitalar, não pertence aos quadros do Miguel Bombarda, onde estava desde 1999, mas sim aos do Centro Hospitalar de Lisboa Central, para onde voltou, disse França Jardim. Vítor Freire confirmou esta informação e disse que tinha "cessado funções".

O psiquiatra França Jardim garantiu ainda ao PÚBLICO que, "ao contrário do que circulou", não houve qualquer destruição de arquivos do Hospital Miguel Bombarda, que está em vias de encerrar.

A notícia da saída de Vítor Freire surgiu através de um comunicado do Fórum Cidadania Lisboa, assinado por Paulo Ferrero, Carlos Moura e Fernando Jorge: "A demissão do director do museu, a única pessoa que conhece profundamente o seu acervo, é naturalmente preocupante numa altura em que o Hospital Miguel Bombarda está prestes a encerrar, o seu espólio não está totalmente recolhido e inventariado, e quando não existe uma decisão da senhora ministra da Saúde e do Governo face à continuidade e ao necessário desenvolvimento do único Museu de Arte de Doentes/Outsider Art e de Neurociências da Península Ibérica."

O terreno onde está o Miguel Bombarda foi já vendido à empresa pública Estamo, e o hospital deverá encerrar definitivamente em Abril, confirmou França Jardim. No entanto, sublinhou, o museu, instalado no Pavilhão de Segurança, "está aberto e continuará a funcionar" até esse momento, embora já sem a presença de Vítor Freire, que o criou e garantiu a salvaguarda do espólio - incluindo documentação histórica, fotografias desde o final do século XIX e arte feita pelos doentes.

"Gostaria que o museu continuasse aberto [depois de Abril] e é nesse sentido que estamos a trabalhar", revelou França Jardim (ver caixa). Quanto à actual situação das colecções do Miguel Bombarda, disse ter entrado em contacto com o Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) para que este "proceda a uma conservação do espólio". O arquivo fotográfico deverá ser tratado com o apoio do Instituto José de Figueiredo (que depende do IMC) e o arquivo clínico está a ser avaliado por técnicos da Direcção-Geral de Arquivos. "O centro hospitalar tem que definir quais serão eliminados. Até este momento não eliminámos nada", explicou o director do Centro Hospitalar Psiquiátrico.


"Houve um empolamento"

Questionado sobre porque é que Vítor Freire não está a acompanhar o processo, França Jardim reconhece que se trata de uma pessoa "que teve um papel importante na salvaguarda do património edificado [promoveu as obras de restauro do Pavilhão de Segurança e a proposta de classificação deste edifício panóptico e do Balneário D. Maria II, que acabou por se concretizar no final do ano passado], mas é licenciado em Economia e não um especialista em Arte Bruta". "Devemos chamar peritos na matéria para avaliar", defende.

João Brigola, director do IMC, confirmou ao PÚBLICO que já visitou o hospital, o museu e as colecções e considera que tem havido "um empolamento" em relação à importância destas. "O que existe ali não é um museu, é uma colecção visitável. São bens de valor muito desigual. E o país não está em condições de ir atrás de empolamentos."

Vítor Freire escrevera no PÚBLICO de 13 de Fevereiro um artigo no qual defendia que as colecções do Miguel Bombarda não deveriam ser dispersas e deveriam integrar um futuro Museu de Arte de Doentes e Neurociências no Pavilhão de Segurança, Balneário e ainda em parte do antigo convento onde foi instalado o edifício principal do hospital. »

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Muito sinceramente, é de cabo-de-esquadra a afirmação de que "o país não está em condições de ir atrás de empolamentos", pois é precisamente aquilo que tem caracterizado a acção governativa dos últimos anos. Fantástico! Fica para a posteridade, essa afirmação.

Em relação à outra afirmação, a do "economista", fica com quem a proferiu, que já passou à história, obviamente. Espantoso.

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