19/01/2011

Esgotos de 120 mil casas de Lisboa deixaram de ser lançados ao Tejo


In Público (19/1/2011)
Por Carlos Filipe

«Chega ao fim aquilo que António Costa considerou "um escândalo". Uma boa notícia, diz Marcelo Rebelo de Sousa, 21 anos depois de ter mergulhado no rio para alertar para a poluição


Benefícios para o estuário do Tejo

Os esgotos domésticos da zona central de Lisboa deixaram de ser des- pejados directamente, sem tratamento, nas águas do Tejo, como acontecia desde sempre. Foi há dias, mesmo no início do mês, e sem aviso prévio, que o sistema de saneamento do Tejo e do Trancão, a cargo da em- presa Simtejo, passou a canalizar os efluentes domésticos de cerca de 120 mil residências da capital para processamento na Estação de Tratamento de Águas Residuais de Alcântara.

Em Setembro de 2009, o presidente da câmara, António Costa, qualificou as descargas que até aqui iam parar directamente ao Tejo como "um dos maiores escândalos nacionais", e que era preciso, com urgência, fazer algo pelo ambiente. Não foi fácil, nem barato: foram quatro anos de obras e 100 milhões de euros empregues para que se comece a fazer justiça ao ambiente de Lisboa e às comunidades aquáticas do Tejo, o maior estuário da Europa ocidental, zona de nidificação e crescimento de inúmeras espécies piscícolas e aves marinhas. O rio fica agora limpo? Não, mas, como diz uma bióloga contactada pelo PÚBLICO, o impacto desta alteração será importante, mesmo que ainda demore algum tempo a fazer-se sentir (ver caixa).

O anúncio desta novidade surgiu, em primeiro lugar, sob a forma de panfleto deixado nas caixas de correio dos lisboetas. Um papel com as- sinatura institucional da Câmara de Lisboa e da Simtejo, da qual a autarquia é a segunda maior accionista, no qual se dizia: "Ano novo, Tejo limpo! O fado do Tejo mudou!" Ao que o PÚBLICO apurou, o acto oficial de inauguração ocorrerá no próximo sábado.

Marcelo: sonho demorado

Foi há 21 anos que Marcelo Rebelo de Sousa, então candidato à presidência da Câmara de Lisboa, se atirou às águas do Tejo. Com aquela acção, muito mediática, pretendia chamar a atenção para a poluição daquelas águas. Passados 21 anos, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou ontem a sua satisfação pelo fim daquele flagelo. "Quando me atirei à água, apanhei com uma descarga em Belém. Recordo-me, foi junto ao Padrão dos Descobrimentos. É esta, agora, uma boa notícia, mas um sonho que levou muitos anos a concretizar", disse ao PÚBLICO.

As descargas de efluentes não tratados ocorriam em Santa Apolónia, também ao lado do Cais das Colunas, e em Belém. Só em 2009, por altura de outros trabalhos no Terreiro do Paço, foram interceptados os colectores oriundos das ruas do Ouro, Augusta e da Prata e de Santa Apolónia.

Numa segunda fase foram construídas estações elevatórias e um emissário submarino, ao mesmo tempo que também se canalizaram os efluentes que eram despejados em Belém para a conduta que segue para Alcântara. E em Dezembro houve outra intervenção sob o novo piso do Terreiro do Paço, para colocar um sistema de válvulas que impede a entrada de água do Tejo no interceptor. Numa terceira fase, outras obras dos sistemas da Simarsul (Margem Sul) e Sanest (Costa do Estoril) irão contribuir para melhorar todo o estuário.»

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Se levar mais 21 anos a correr com a incompetência em Lisboa, o amiguismo, a corrupção, a delapidação de património arquitectónico, os péssimos arranjos dos espaços verdes, etc., etc., e depois esperar que a coisa comece do zero, então...

2 comentários:

A.lourenço disse...

uma boa noticia, sem dúvida.Com o comentário na mouche do PF.

Anónimo disse...

Uma excepção, esta boa notícia.

Mas todas as demoras e 4 anos de obras (!) foram manifestamente demais.