25/08/2010

Estacionamento dificulta visitas a núcleo arqueológico

In Diário de Notícias (24/8/2010)
por ISALTINA PADRÃO


«Cinco meses após ter sido ser inaugurado, o Núcleo Arqueológico do Castelo de São Jorge, em Lisboa, praticamente não é visitado. A ausência de sinalética e sobretudo um parque de estacionamento "plantado" provisoriamente há anos no centro deste monumento nacional - onde nos anos 90 "nasceu" este espaço cultural - dificultam o acesso ao núcleo. Como o DN constatou, muita, mas mesmo muita gente acaba por desistir de visitar este achado raro que reúne vestígios do séc. VII a.C. ao XVIII.

Foi o que aconteceu com um casal, que, apesar de jovem, recusou-se a subir e descer o escadario da muralha que lhe foi apontado como o percurso a fazer. "Já visitámos o castelo todo, a brincar a brincar andam-se quilómetros. Só percebemos que havia aqui algo para ver quando estávamos no topo. Descemos e agora ainda temos de fazer este serpenteado todo. Não nos parece." É assim que reage o elemento masculino (que pede o anonimato), não entendendo "porque é que não se pode entrar directamente por estes portões trancados a cadeado".

A razão é simples: é por ali que entram os carros dos moradores do Castelo, que atravessam o Largo de Santa Cruz para estacionar no parque que separa núcleo arqueológico de visitantes. E que faz com que a disparidades de visitas dos dois espaços, coexistentes na Praça Nova, seja tão grande.

"Este mês temos tido uma média diária de quatro a cinco mil visitantes no castelo, enquanto o núcleo recebe no máximo 200 pessoas", disse um dos seguranças, que diariamente faz a contagem (com contador manual) das entradas no núcleo arqueológico. Ao comparar com o número de ingressos vendidos, verifica-se a discrepância.

"De facto, o rácio entre visitantes do castelo e do núcleo é ridículo", admite ao DN o presidente da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), empresa municipal responsável pela gestão do castelo. Assumindo que a falta de sinalética que ainda está a ser elaborada (ver caixa) contribui para manter o achado arqueológico fora do circuito do visitante - só se consegue ver no topo da muralha -, Miguel Honrado não tem dúvidas de que um acesso mais directo facilitaria a chegada ao núcleo. E diz que ele só não existe devido ao parque de estacionamento.

"É absurda a existência de um parque de estacionamento no interior das muralhas de um monumento nacional. Portugal deve ser o único país europeu que tem um castelo com estacionamento lá dentro", desabafa, indignado, o presidente EGEAC. A indignação de Miguel Honrado vai mais longe quando o facto de a existência do referido parque ser um constrangimento - visual e prático - já ter sido "diversas vezes abordada com o presidente da Junta do Castelo e com o presidente da Câmara de Lisboa". Segundo Miguel Honrado, a necessidade de encontrar "urgentemente" uma solução para desocupar o espaço foi reforçada no dia da inauguração do núcleo arqueológico, a 18 de Março. O DN contactou o presidente da Junta do Castelo e a câmara, mas não obteve qualquer resposta.

Pese embora as dificuldades em encontrar e visitar o achado, há quem consiga fazê-lo, sobretudo os estrangeiros. É o caso de Aleksahdar Stolié, um arquitecto sérvio, que visitou e gostou do projecto, mas, de imediato, sugeriu "a entrada pelos portões, chegando a acordo para retirar o estacionamento, que é despropositado aqui".

De garrafa de água na mão e cansado, o dinamarquês Lars Kalkerup foi peremptório: "Vale a pena a visita, mas se tivesse mais uns aninhos não subiria isto tudo." Bem mais jovens são Ricardo e Flávia, mas perderam-se no percurso várias vezes e pensaram em desistir. Isto à semelhança de muitos que, chegados à recta final da muralha que conduz ao núcleo, voltam para trás ao perceberem que têm mais escadas íngremes para descer e voltar a subir. É que para sair do espaço do núcleo há que fazer o serpenteado inverso, já que os portões estão trancados...»


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Esse parque de estacionamento é uma vergonha. Já o aqui dissemos, fotografámos e alertámos quem direito para acabar com ele. Até quando?

1 comentário:

Anónimo disse...

De facto, um dos maiores absurdos na capital de Portugal. Um estacionamento "temporário" dentro de um CASTELO, Monumento Nacional, desde 2005!?! A única razão porque ainda nada se fez é simples: falta de vontade política. Quantos lisboetas lá vão? Quantos lisboetas se interessam pelo Castelo?