27/02/2010

Estufa Fria está fechada há nove meses para reabilitação e só agora vai entrar em obras


In Público (27/2/2010)
Por Ana Henriques


«Trabalhos arrancam na segunda-feira e deverão durar seis meses, mas ninguém arrisca uma data para o seu fim. Empreiteiro foi escolhido por ajuste directo, devido à urgência da obra

Custos podem ascender a 1,7 milhões de euros

Encerrada há nove meses pela Câmara de Lisboa, por a sua estrutura ameaçar colapso, a Estufa Fria ainda não entrou em obras.

Os trabalhos deverão começar na segunda-feira, tendo uma duração prevista de seis meses, mas neste momento nem o arquitecto encarregue do projecto, João Appleton, nem a autarquia arriscam uma data de reabertura do equipamento.

Questionado recentemente sobre o facto de as obras ainda não terem arrancado, o presidente da câmara, António Costa, deu uma explicação para o atraso diferente da que tem sido fornecida pelo vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes: "Tanto quanto sei, o projecto [de reabilitação] foi concluído e está em curso o processo concursal" para a adjudicação da empreitada.

Na realidade, a alegada urgência das obras levou o município a decidir dispensar a obra de concurso público logo em Maio do ano passado, aquando do encerramento, e a optar por um ajuste directo, depois de consultadas três empresas, à construtora HCI. O risco de colapso havia sido detectado num estudo técnico encomendado a uma empresa privada pelo vereador. Previa-se nessa altura que o recinto pudesse reabrir nove meses depois, ou seja, agora. Qual o motivo de tamanho atraso?

João Appleton, do gabinete de arquitectura Appleton e Domingos, invoca três ordens de razões. "Quando aqui chegámos, percebemos que isto não ia ser simplesmente uma obra de restauro. Era preciso repensar globalmente a estufa". Embora as obras que começam segunda-feira não vão além da substituição ou reparação da cobertura, formada por ripas de madeira, e das vigas e pilares metálicos em que ela se apoia, para uma segunda fase estão previstas várias outras transformações, como a abertura de uma cafetaria e de um centro de interpretação. "Fez-se quase um masterplan", explica o arquitecto.

Em segundo lugar, "foi preciso fazer o levantamento topográfico da estufa e das zonas envolventes", bem como dos espécimes existentes. Os mais raros, como certas cameleiras brancas, foram assinalados com uma pequena fita de riscas brancas e vermelhas igual à que a polícia coloca nos locais dos crimes, numa tentativa de minimizar danos durante os trabalhos. Já os fetos que se enrolam por muitos dos pilares acima devem ter os dias contados, dada a necessidade de substituir todas as estruturas metálicas. João Appleton aponta para uma viga desalinhada rente à cobertura: "Tem deformações brutais, de mais de 15 centímetros. E há pilares que já nem assentam no solo. Estão sustentados pela cobertura que deviam suportar".

A terceira ordem de razões invocada para o atraso no começo das obras relaciona-se com a obrigatoriedade de os trabalhos serem autorizados pela Direcção Regional de Cultura, dado o valor patrimonial da Estufa Fria. "Houve um parecer que demorou uns dois meses a ser emitido", alega também o vereador, desvalorizando a demora: "Os trabalhos vão ser feitos com todo o rigor científico, arquitectónico e de engenharia necessário a um equipamento desta importância". Um garante desse rigor é a colaboração neste processo de Ana Tostões. Especialista na arquitectura do séc. XX, conhece como poucos a obra de Keil do Amaral, autor do pórtico de entrada do recinto.

E como proteger as plantas durante a obra? Está previsto que, em redor de cada pilar, seja montado um andaime e que os operários circulem num passadiço abaixo da cobertura, que, aliás, será sobreelevada, de forma a aumentar o pé-direito da estufa. Mas será isso suficiente? "Vamos recorrer muito a trabalho manual e a máquinas pequenas", refere o arquitecto.

Já a recuperação da nave concebida pelo engenheiro Edgar Cardoso e usada para a realização de eventos ficará também para a segunda fase dos trabalhos.»

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A presença de nomes como os mencionados é garante de que não haverá asneira, pelo menos na parte que respeita a cada uma das personalidades. Mas este equipamento é tão importante para Lisboa que talvez fosse bom haver uma comissão de acompanhamento de personalidades ligadas à botânica. Just in case...

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