26/11/2009

Atenção ao antigo Palácio Patriarcal!


Campo dos Mártires da Pátria


Deixem-me alertá-los para um caso que deve estar, mais tarde ou mais cedo, a ser conhecido e que diz respeito ao Palácio de Patriarcado que, como me foi confirmado pelo próprio Patriarcado, já não lhe pertence.

Houve notícias, por volta de 2007, que o grupo catalão de gestão de hotéis habitat Hoteles o havia adquirido e que em 2009 abriria como hotel. Como nada se passou até esta data tenho algum receio sobre o que está a ser planeado para este edifício que, indiscutivelmente, tem importância histórica – o seu risco foi atribuído a Ludovice, o mesmo de Mafra, foi residência do cônsul da Alemanha, aí foi recebido o Imperador Guilherme II e outros príncipes alemães, o Papa João Paulo II ficou aí hospedado na sua visita em ’82. Sobre a sua arquitectura ver, por favor, o documento anexo.

Como no palácio vizinho Silva Amado que começou como hotel e já vai em condomínio privado, também este poderá ser alvo de obras e demolições em tudo danosas do património histórico de Lisboa. Como pode ler neste link http://www.publituris.pt/2008/02/07/habitat-hotels-entra-em-lisboa-em-2009 o que o grupo catalão prevê também não me deixa muito descansado.

Desculpem-me se me estendi para além do aceitável, abraços,
Alexandre Marques da Cruz

---

Arquitecto | Construtor | Autor
Arq. João Frederico Ludovice (atrib.) ; Arq. Mateus Vicente de Oliveira, (atrib.) ; J.A. Santos Cardoso e J. Moreira Rato.



Cronologia
1730 - edificação do palácio, talvez segundo projecto do arqto. João Frederico Ludovice (a crer em inscrição que se observa no fecho de uma porta dando para a escada) ; 1857 - campanha de remodelação do palácio, sob a direcção de J.A. Santos Cardoso, J. Félix da Costa e A. Moreira Rato ; Séc. 19, final - o palácio era propriedade dos irmãos Costa Lobo (que o haviam herdado de seu pai, após ampliações e transformações), um destes legou a sua parte à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o outro à sua esposa D. Joséphine Costa Lobo ; 1913 - por arrendamento à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, instala-se em parte do imóvel a sede do Patriarcado, passando a residir aí D. António Mendes Belo, regressado do exílio ; 1923 - o Patriarcado compra a parte do palácio pertencente a D. Joséphine Costa Lobo ; 1926 - o Patriarcado compra, em hasta pública, a parte do palácio pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, entrando assim na posse da totalidade do edifício.
Tipologia
Arquitectura civil residencial barroca: palácio urbano de planta rectangular com fachada principal marcada pelo recurso a vocabulário arquitectónico erudito barroco, sobretudo patente no eixo definido pelo portal principal. No interior reconhecem-se como principais espaços de aparato o átrio e a escadaria monumental a qual se articula, em cada um dos pisos, com vestíbulos, a partir dos quais se acede à respectiva compartimentação interna - no presente edifício o andar nobre corresponde ao 2º piso, patente quer no seu tratamento exterior quer no respectivo interior, dominado por 3 compartimentos de aparato orientados para a fachada principal. Aquando da campanha de ampliação de que foi alvo, a este edifício justapôs-se um outro corpo de planta em L, de características marcadamente oitocentistas, como se denota no alçado posterior do edifício, em tudo semelhante a um prédio de rendimento.



Características Particulares
Trata-se de um edifício notável quer do ponto de vista arquitectónico quer das soluções decorativas que apresenta, especialmente ao nível dos estuques e da pintura decorativa que animam os principais espaços de aparato, respectivamente o eixo de circulação definido por átrio - escadaria - vestíbulos e os compartimentos do 2º piso desenvolvidos ao longo do alçado principal.
Descrição
Planta composta pela justaposição de 2 corpos, 1 de planta rectangular e outro em L em torno de pequeno pátio (*1), volumetria paralelepipédica, e cobertura efectuada por telhado a 3 águas. De 5 pisos (um deles parcialmente enterrado e apenas visível no alçado posterior e outro correspondente a sotão, ao nível da cobertura), com 2 frentes - a principal com superfície murária revestida com placagem de cantaria e a posterior, com azulejos monócromos amarelos - ambas com abertura de vãos a ritmo regular - de verga curva no 1º e de verga recta no 2º. Alçado principal a E., composto por 3 corpos separados por cunhais de silharia fendida, dos quais se destaca o axial, avançado em planta, de tratamento diferenciado e constituído como eixo de semetria da restante fachada: este apresenta-se rasgado a eixo por portal articulado com pilastras em chanfro animadas por consolas, as quais suportam parte da varanda (com guarda em ferro forjado) que guarnece as 3 janelas de sacada do 1º andar, de verga curva com chave esculpida. O conjunto é sobrepujado por idêntico número de janelas servidas por varandas individuais, das quais se distingue a central com varanda de base contracurvada e encimada por ática mistilínea suportada por consolas. Os corpos laterais, idênticos entre si, apresentam panos de muro com piso térreo rasgado por portais delimitados por janelas de peito e andares superiores com janelas de sacada (3 por piso) individualmente servidas por varandins com guardas en ferro forjado. O alçado é superiormente rematado por cornija sobrepujada de platibanda em balaustrada ritmada por plintos, com figurações escultóricas no alinhamento dos cunhais. Alçado posterior 1º e 3º pisos com varandas desenvolvidas contiguamente à fachada, no 1º caso articulada com 2 lanços rectos de escadas localizados nos extremos e que conduzem ao jardim. O último piso exibe vãos de verga recta destacada sobrepujados por óculos ovais iluminantes, superiormente rematado por platibanda em muro precedida de cornija. INTERIOR: átrio de planta rectangular com muro de topo vazado ao centro por porta de verga contracurvada conducente a escadaria monumental de lanços rectos opostos com patamares intermédios, desenvolvida no lado N.. A mesma articula-se com um vestíbulo em cada um dos pisos, a partir dos quais se desenvolvem eixos de circulação e de distribuição da compartimentação interna, sobretudo desenvolvida ao longo dos alçados principal e posterior. A circulação entre os pisos é ainda complementada por 2 escadas de serviço, uma contígua à principal, e outra no lado S
Descrição Complementar
AZULEJOS: a sua presença é sobretudo registada no âmbito do espaço edificado aquando da ampliação do imóvel, nomeadamente no alçado posterior, a revestir, sob a forma de lambril, os muros que ladeiam as escadas directamente conducentes ao 1º andar (monócromos, de temática figurativa, datáveis do final de setecentos). Os mesmos podem também ser observados a revestirem o interior de um roupeiro de um dos quartos, aqui animados com o tema das albarradas ; CANTARIA: o edifício alberga um conjunto de figurações escultóricas em mármore de tratamento plástico, afim ao período neoclássico, sob a forma de vulto, no remate do alçado principal bem como no da escadaria principal e de busto nos extremos da escada exterior que anima o alçado posterior. No interior regista-se a presença de fogões de sala em mármore, em alguns dos compartimentos; ESTUQUES: o edifício apresenta um notável programa ornamental, ao nível da escadaria - decorada com medalhões animados por efígies de imperadores romanos e panóplias de gosto muito classicizante - e dos tectos e sanefas dos 3 compartimentos desenvolvidos ao longo do 2º piso do alçado principal, de acentuada volumetria e de tratamento plástico consonante com a produção setecentista. A sua presença é igualmente notada no vestíbulo do 1º andar cujo tecto evoca as nervuras com cogulhos tão características do período manuelino, e no tecto da antiga sala de jantar, orientada para o alçado posterior, também ao gosto oitocentista ; PAPEL DE PAREDE: em duas das salas de aparato do 2º andar, papel de parede, a imitar damascos, num modelo muito em voga durante o século 19; PINTURA DECORATIVA: o tecto plano do átrio do piso térreo e o tecto em masseira da caixa da escadaria apresentam pintura mural, no 1º caso de teor ornamental com a técnica de grisaille e no 2º , com temática heráldica e alegórica. A pintura decorativa marca igualmente presença no tecto de uma das salas de aparato do 2º piso - com representação de flores e paisagens, nas quais se reconhece a Torre de Belém - no qual se articula com estuques

2 comentários:

Anónimo disse...

Portanto, a única intervenção possivel nestes magnificos interiores é ... a de restauro cuidado, baseado em investigação histórica detalhada e obra dirigida pelos mais qualificados técnicos ... como edifício urbano,(palácio de nivel internacional) este é muito superior ao de Ludovice (ao Bairro Alto)e comparável a algo situado em Viena ou na área circundante do Binnenhof em Haia ... Grande responsabilidade Sr Vereador do Urbanismo e Sr Presidente da C.M.L. ...e IGESPAR, Claro !!

Ai - a - Tola disse...

O link parece não funcionar mas caso tenham acesso a esta notícia procurando no google por "publituris palácio patriarcal" vão perceber que a empresa promete: « Habitat explica à agência Efe que a unidade de Lisboa “será um hotel único na capital, graças ao seu interior e à fusão entre a história do edifício e à contemporaneidade do design”.»
O que está aqui declarado é que este vai ser mais um caso de simbiose entre o que lá está e o pseudo-design usado vezes e vezes sem conta e que nunca é inovador, sou destruidor. Com esta mistura podemos realmente dizer que é o mesmo edifício? E para fazer aqui o hotel o que precisará de ser demolido, acrescentado, alterado? Valha-nos São Igespar que está cada vez mais surdo!