29/08/2009

Director do Igespar e Ribeiro Telles apelam ao bom senso da Câmara de Lisboa

In Público (29/8/2009)
Por Ana Henriques

«Directora da Casa Fernando Pessoa faz notar que a esplanada do café mais antigo de Lisboa sempre foi barulhenta. Laborinho Lúcio e António Arnault também se juntaram ao protesto»

O director do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) e o arquitecto paisagista Ribeiro Telles estão entre os signatários de um abaixo-assinado que apela ao bom senso da Câmara de Lisboa no caso do café Martinho da Arcada, que ameaça encerrar depois das alterações ao trânsito na Baixa que lhe puseram a passar à porta 140 autocarros por hora, às horas de ponta.

O fundador do PS e mandatário de Vital Moreira nas eleições europeias, António Arnault, também assinou o documento, que explica que a poluição sonora e atmosférica causada pelos veículos pesados condiciona a presença de clientela na esplanada do Terreiro do Paço, "ameaçando uma rentabilidade fundamental à sobrevivência" do estabelecimento frequentado por Fernando Pessoa. Entre as figuras que aderiram igualmente ao protesto estão o realizador Manoel de Oliveira, o grão-mestre da maçonaria António Reis, o ex-ministro da Justiça Laborinho Lúcio, os escritores António Tabucchi, Mário Cláudio e Maria Velho da Costa, o pintor José Guimarães e ainda o director do Museu Nacional de Arqueologia, Luís Raposo.

Ceia de despedida

O promotor das tertúlias daquele que é o café mais antigo de Lisboa, Luís Machado, nega que a decisão da Carris de desviar, a partir do mês que vem, o percurso de três das várias carreiras que aqui passam seja suficiente. E embora admita que mesmo antes das alterações ao trânsito na Baixa a esplanada do Martinho, com 227 anos de existência, já não era um sítio com a tranquilidade dos tempos em que Pessoa aqui escrevia poemas e traçava cartas astrológicas, diz que o local se tornou impraticável desde Janeiro, altura em que mudou o esquema de circulação na Baixa. Até aí, parte significativa das carreiras da Carris circulava mais junto ao rio, nas avenidas do Infante D. Henrique e da Ribeira das Naus.

Para libertar parcialmente de trânsito o Terreiro do Paço e a zona mais próxima do Tejo, a autarquia desviou todos os autocarros para duas artérias com habitação e comércio: a Rua da Alfândega, junto à qual fica o Martinho, e a do Arsenal, onde também há protestos de comerciantes e moradores. "O proprietário do Martinho já tem marcada uma ceia de despedida para o final de ano caso tenha de encerrar o estabelecimento", conta Luís Machado.

A escritora Inês Pedrosa, que dirige a Casa Fernando Pessoa, acha que a iniciativa "não faz sentido". "A esplanada do Martinho sempre teve muito barulho", nota a responsável do equipamento camarário. "E, de qualquer forma, quando lá passo continuo a ver a esplanada cheia". E dá um exemplo: "Ainda outro dia tive de me ir embora da Brasileira porque havia espectáculos de rua permanentes e eu queria ter uma conversa que não se coadunava com o ambiente. Mas não é por isso que não devem existir espectáculos de rua". O abaixo-assinado será entregue a quem ganhar as eleições para a câmara e ao Presidente da República. »

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O problema dos autocarros resolvia-se (resolver-se-á) com navettes não poluentes. Devia haver esse tipo de transporte em toda a Baixa e entre as colinas que a ladeiam. Simplesmente, a Carris não se interessa. Devia-se colocar barreiras à velocidade que por vezes é excessiva: grandes vasos em locais estratégicos.

Mas isso é uma coisa outra é esta histeria pelo Martinho, um local, aliás, hipervalorizado, nunca percebi bem porquê.

9 comentários:

Sandra disse...

Talvez seja uma benção se o actual proprietário abandonar o Martinho. Mas isso não quer dizer que o Martinho encerre. Na verdade, o actual proprietário faz uma gestão muito mediocre do histórico estabelecimento. O Martinho merece ser mais do que nos dá actualmente. A cozinha é fraca, os ingredientes são também fracos, em grande parte espanhóis porque é mais barato (presunto, enchidos, queijos, frutas, azeite, vinagre etc.). E o serviço é indiferente, tanto para portugueses como para estrangeiros como observei várias vezes). Deixei de lá ir pois as últimas refeições que lá tive foram para esquecer. Lamento, mas não faltam pessoas para levantar o Martinho da mediocridade turística instalada. Por mim o proprietário pode antecipar a ceia de despedida - à qual naturalmente não irei.

Miguel Santos disse...

"O problema dos autocarros resolvia-se (resolver-se-á) com navettes não poluentes."

A que se refere concretamente? E porque seriam uma solução?

"Mas isso é uma coisa outra é esta histeria pelo Martinho, um local, aliás, hipervalorizado, nunca percebi bem porquê."

De acordo.

Anónimo disse...

Eu, nem antes dos 140 autocarros a mais nem depois (muito menos depois) me sentaria naquela esplanada.

E sobre 90% das que há em Lisboa digo o mesmo.

Lugares sem condições, em vias poluídas, sem nenhuma vista, sem «verde», onde as pessoas são incomodadas por toda a espécie de «melgas», não consigo sequer perceber como há quem as utilize.

Isso, todavia, não tem nada a ver com a completa irracionalidade que é o modelo do trânsito ali imposto por este executivo, espero que nos seus últimos dias, tão mal tem gerido a capital.

Hokend disse...

Peço muita desculpa, mas quanto à solução das navettes parece-me completamente irrealista.

Ou seja, a Carris tinha carreiras com autocarros de fole, por exemplo, que chegavam àquela zona e os motoristas passavam a gritar bem alto para os passageiros:

"Senhores passageiros, façam o favor de descer do autocarro porque agora há uma parte da carreira que será feita em nabetes silenciosas e não poluentes. Se não couberem todos na primeira que passar, tenham paciência que a seguinte não vai demorar".

Chegados ao Cais-do-Sodré ou ao campo das Cebolas, seria o motorista da navette a gritar (e já não era preciso ser muito alto, porque é mais pequena e silenciosa:

"Senhores passageiros, façam o favor de descer da nabete porque agora o resto da carreira é feito num daqueles autocarros de fole como acontecia dantes".

Isto só num filme para rir...

Anónimo disse...

Hoje, sábado, ao fim da tarde, passei por aquele estaleiro entre o cais de sodré e o campo das cebolas com passeios larguíssimos para aqueles que andam a pé e duas pequenas faixas de rodagem para aqueles que andam de viatura.
Calculo a irritação que muitos lisboetas devem sentir durante a semana quando se deslocam em viatura própria. Aquilo que o Dr. Sampaio fez e bem ao alargar a 24 de Julho entre Alcântara e o Cais de Sodré, a partir daí, para quem segue em Direcção Praça do Comércio, Santa Apolónia passou a ser um funil. Quer isto dizer que os esforços realizados para descongestionar o trânsito, resultaram em nada. Para se ir para o o Chiado é o cabo dos infernos. Tem-se que ir ao campo das cebolas, retroceder para a rua dos bacalhoeiros depois subir a Rua da Madalena, contornar o Martim Moniz, Rossio, Rua do Ouro que agora só tem uma faixa (a segunda é para os transportes públicos) e por aí fora. Bonito serviço. Espero bem que, com as obras concluídas volte haver normalidade. Mas dúvido, tal é o horror que o "Zé faz falta" tem ao transporte particular. Junte-se a isto as ciclovias e teremos o caos completo.
José Rocha

Anónimo disse...

Mas que raio de caminho mais esquisito para ir ao Chiado desde o campo das cebolas... Vá em frente no terreiro do paço e vire para a rua do Alecrim e deixe o carro no parque ou então desça depois a Calçada de S. Francisco e vire à esquerda que agora já se pode...

Eu que passava todos os dias pelo terreiro do paço para ir para o Restelo acabei por descobrir que há de facto alternativas viárias mais eficientes do que a 24 de Julho.

Anónimo disse...

Parece-me que aqui em Lisboa ainda não conseguiram entender uma coisa: é viável criar zonas pedonais ou onde o trânsito particular é fortemente condicionado quando a configuração das cidades (ou obras de desnivelamento) podem desviar dessas zonas o trânsito de todos os dias.

Em cidades junto a rios onde é fácil fazer ene pontes e atravessar ali adiante em vez de na zona «protegida», também a coisa fica muito facilitada.

Ideias absurdas em cidades de ruas antigas, colinas, um rio larguíssimo, dão asneira. Está na cara, só não percebe quem decididamente não quer perceber.

Anónimo disse...

Caro José Rocha, olhar para a Baixa e queixar-se dos passeios largos (bons para andar a pé) e poucas faixas de rodagem só podia terminar quixando-se do Zé e das ciclovias. Para ir ao Chiado vai de carro? É a sua mentalidade que deu cabo da nossa cidade! Tem saudades do Sampaio e dos anos 90? Já passaram 15 anos depois disso, já reparou? Ainda pensa da mesma maneira? Se o Sampaio viesse para a CML de certeza que repensava tudo aquilo em função do peão e do transporte público. Olhe, escolha o Santana, que ele enche tudo de carros outra vez.

António Muñoz Arq disse...

Enquanto não houver ORDENAMENTO do Território/Planeamento Urbano em Lisboa(que não há)contiuaremos eternamente a discutir a rua daqui ,o trânsito dali e o estacionamento acoli...,sem qq conclusão, nunca !
Diz a escritora Inês Pedrosa "que não faz sentido" lutar pelo Martinho, que sempre teve muito barulho....(etc)
Que sentido faz esta escritora neste contexto...? Nenhum !
Mas o Martinho faz sentido,há mais de 200 anos...
Ter um autarca que estudasse a cidade e o seu trãnsito e que mantivesse os "Martinhos" existentes é que faria sentido !
Mas isso fica para a próxima encarnação ...