27/08/2009

Campanha anti-marquises arranca em Setembro

In Público (27/8/2009)
Por Ana Henriques

«"Trata-se de um problema de educação cívica", comenta bastonário dos arquitectos, que fala em fenómeno único na Europa


As marquises nas fachadas dos prédios são um dos alvos de uma campanha que arranca no mês que vem para sensibilizar a população para os aspectos estéticos do fenómeno. As caixas de ar condicionado e os estendais também vão estar na berlinda nesta iniciativa, que, apesar de ter o apoio do Ministério do Ambiente, partiu de um gestor privado.

Aos 56 anos, Luís Mesquita Dias, que é presidente do conselho de administração da Unilever-Jerónimo Martins, decidiu que era altura de chamar a atenção dos portugueses para um fenómeno que diz nunca ter visto em parte nenhuma da Europa desenvolvida senão aqui - apesar de ter morado vários anos em Barcelona e Bruxelas e também em Banguecoque: "Choca-me ver o meu país degradar-se. Estamos a hipotecar a nossa paisagem urbana". Depois de, há 12 anos, ter tentado - sem sucesso - sensibilizar todas as câmaras municipais e várias outras entidades para a necessidade de pôr cobro àquilo que designa por "desordem urbanística", resolveu agir.

Um spot televisivo, outro radiofónico e cartazes nas ruas de Lisboa são as armas de que se muniu para desafiar a "impunidade com que se intervém nas fachadas dos prédios" e "a falta de controlo das entidades" responsáveis pela fiscalização.

Com apenas 30 segundos, o spot televisivo mostra algumas marquises dos milhares delas que têm sido fechadas clandestinamente, aparelhos de ar condicionado colocados de forma indiscriminada e estendais "com cuecas que teimam em pingar", como diz a voz off do vídeo. "A cidade que temos é a cidade que fazemos", lê-se no final.

Casado e com dois filhos, Luís Mesquita Dias está ciente das reacções negativas que esta campanha - à qual se associaram parceiros não só institucionais como também privados, que pagaram os custos das suas diferentes vertentes - vai desencadear. As famílias com muitos filhos vão dizer que não têm outra alternativa senão pôr uma das crianças a dormir na marquise, antevê. "Mas não há famílias nos países onde o fenómeno nunca atingiu proporções semelhantes às portuguesas?", questiona.

Realista, o gestor sabe que é impossível arrancar as centenas de milhares de marquises clandestinas espalhadas pelo país. Por isso, apresenta uma solução: a colocação de estores brancos nestas excrecências acrescentadas às varandas. Todos iguais, de forma a uniformizar as fachadas.

O bastonário dos arquitectos, João Rodeia, ignorava a campanha que aí vem. Mas congratula-se por um particular ter resolvido chamar a atenção para o problema. "Não conheço outro país europeu em que isto aconteça", confirma. "Em Espanha as varandas têm toldos e as pessoas usufruem delas sempre que o bom tempo o permite". Então o que se passa em Portugal? "É uma questão de educação cívica", responde o bastonário. "E cada varanda tem um sistema de fecho diferente, o que desfigura ainda mais os edifícios". "Compreendo a necessidade de espaço das pessoas, mas todos têm o direito a que as cidades não fiquem desfiguradas", acrescenta, referindo os anos e anos de permissividade das autoridades. "O que é mais angustiante é que a maioria das pessoas habituou-se a estes fenómenos e não os acha estranhos". Embora arranque em Lisboa, a campanha deverá estender-se ao Porto e eventualmente a outras cidades»

...

A marquise é um dos flagelos de Lisboa e como tal deve ser combatida, além de que, na maior parte dos casos trata-se de ilegalidades. Esta campanha é por isso uma ideia brilhante (desde que não envolva contrapartidas publicitárias para a empresa, obviamente) e diz tudo deste país por ser uma acção de um particular e não do Estado, ou da CML neste caso, que antes prefere legislar via regulamento municipal coisas inconcebíveis como a "harmonização" do resto das varandas de determinado prédio pelo "desenho" da marquises que já haja nesse prédio. Em vez de tentar - ao menos isso - sensibilizar (já que é tabú a palavra obrigar) o proprietário ou o inquilino a desmontar a marquise, a CML defende a generalização das ditas cujas, facto, aliás, que tem sido paulatinamente aprovado em sessões de CML (passadas e presente e ...?), basta ver o que tem passado nos bairros das Caixas, Alvalade, Estacas, Arco do Cego, por exemplo. Brilhante em qualquer parte do mundo, não é?

20 comentários:

Miguel Carvalho disse...

A campanha é excelente, estou 100% com ela em todos os aspectos, mas este senhor nunca deve ter saído do país ao contrário do que diz.
Nem indo buscar países do Leste ou Grécia, pegando mesmo num exemplo dele, Barcelona, abri o Google Maps, escolhi uma rua totalmente aleatória e voilá,
http://maps.google.pt/?ie=UTF8&ll=41.413252,2.190657&spn=0,359.922838&t=k&z=14&layer=c&cbll=41.413301,2.190772&panoid=gX5_QCKjSDemRAzM0Y20Jg&cbp=12,335.67,,0,-36.89

várias marquises ilegais.

Fuschia disse...

Estou com o senhor Luis Dias! Mas tal como se fala no artigo, além da permissividade das Câmaras, o pior mesmo é as pessoas terem deixado de achar anormal. A maioria já se acomodou a uma Lisboa feia e só querem é saber do seu cantinho para estender a roupa e meter a máquina de lavar.

Luís Serpa disse...

A campanha é bem-vinda, sem dúvida. Mas porque raio de carga de água insistem os arquitectos em fazer varandas, se sabem que a primeira coisa que as pessoas vão fazer é fechá-las com marquises hediondas?

Anónimo disse...

Como arquitecto, morador e "utilizador" da Cidade de Lisboa, também me revoltam as ditas "marquises".

No entanto parece-me evidente a impossíbilidade de obrigar à remoção de todas,assim, julgo que a câmara municipal se deveria concentar em certos edificos, ou conjuntos prioritários, onde intervir, essa acção poderia teria um efeito pedagógico.

Digo isto porque me parece que em certos edificios dos anos 50 e 60, maioritariamente na zonas do Plano de Alvalade onde o desenho de cheios/vazios e avanços/recuos das fachadas são mais relevantes, as "marquises" destroem por completo a leitura dos edifcios.

Já nos Blocos anónimos dos anos 60 e 70 das zonas de Benfica, Lumiar e afins parece-me menos grave a existência de "marquises".

Já agora em resposta ao Sr. Luis Serpa, actualmente já poucas varandas se fazem em Lisboa, desde que o regulamento de taxas as considera como espaço interior os promotores mais "patos" evitam-nas ao máximo, com grave prejuizo quer para a qualidade dos apartamentos que perdem as varandas como espaço transição interior/exterior, quer para o desenho do edificio que privado de "vocabulário" arquitectonico ficará necessáriamente mais limitado e mais "caixote" como tanto se critica à arquitectura contemporânea.

Anónimo disse...

Não percebo é o ministério do Ambiente a apoiar uma campanha contra os estendais, a forma mais eficiente de secar roupa e que fazia parte intrínseca da paisagem urbana há uns anos atrás.

Anónimo disse...

o argumento da falta de espaço é falso, ou semi-falso.
há apartamentos grandes e até de qualidade elevada (Laranjeiras, Benfica, avenidas novas - frente ao corte inglÊs) com as suas marquises, ás vezes ao despique.
toca aos pobres e aos ricos, É FALTA DE CULTURA E DE BOM GOSATO, e desprezo absoluto pela cidade em que se vive

Julio Amorim disse...

Bairro das Estacas, de reconhecida qualidade arquitectónica....e o que os seus moradores conseguiram fazer....

http://cidadanialx.blogspot.com/2009/02/o-que-e-isto.html

Luís Serpa disse...

Caro anónimo das 10:49,

Não interprete ma as minhas palavras: não só gosto de varandas como as utilizo muito. E lamento a sua progressiva desaparição - já agora, obrigado pelaxplicação, que desconhecia.

Infelizmente, este não é o caso da maioria dos donos dos apartamentos.

Anónimo disse...

Já agora, quem vive num apartamento e tem uma familia relativamente grande, onde é que vai secar a roupa? A maioria destas casas não tem lavandaria(tem que se levar a roupa suja para a cozinha) e além disso não tem espaço adequado nem para secar nem para lavar as roupas. Com esta campanha está-se a tornar ainda mais ridículo e evidente que as cas estão mal feitas.

Anónimo disse...

proibições ou obrigações de eliminação de marquises já feitas, poderá ser iconstitucional por afectar o direito de propriedade.

proibir de futuro, já me parece legal.

de qualquer forma, poderá originar a construção de prédios sem varabdas, o que é ridiculo num país mediterrânico.

veja-se atenas ou madrid ou sevilha em que as varandas são isso mesmo, espaços abertos ao ar livre e não arrecadações ferrigentas das casas. é uma quetsão de cultura.

é urgente uma lei e consequentes regulamentos municipais, quanto á preservação da estética das cidades, do espaço público (em que devem ser incuidas as fachadas de todos os prédios) e a defesa da arquitectura.

uma marquiseque seja desfigura um trabalho arquitectónico e o espaço público.

a situação não çode continuar!

Luís Serpa disse...

Já vivi em cidades onde as pessoas têm estendais interiores, que usam para secar a roupa. São proibidos, cá em Portugal?

Anónimo disse...

Caro Anónimo das 2:32 PM

Nas suas palavras "proibições ou obrigações de eliminação de marquises já feitas, poderá ser iconstitucional por afectar o direito de propriedade."...

A obrigação de demolição, ou em ultimo caso a posse admnistrativa do imóvel e demolição coerciva por parte das Câmaras, não é inconstitucional com toda a certeza, uma vez que se tratam, na sua maioria de obras ilegais que como tal não conferem direitos, se assim não fosse não se poderiam demolir barracas e obras clandestinas.

Pode é argumentar que num país onde os tribunias já não funcionam, "atirar-lhes" com umas centenas de marquises não iria ajudar muito e é melhor ir lá pela pedagogia...

Anónimo disse...

Um caminho que me parece ágil para melhorar esta situação é a da obrigação de Certificado de Eficiencia Energética. Desde a entrada em vigor deste regulamento só podem ser transacionados imóveis que possuam categoria A ou B, e dúvido que as casas com marquises, pelo menos as mais expostas ao Sol, obtenham esta classificação.

Anónimo disse...

Tantos problemas bem mais graves, e preocupam-se com marquises... E que tal um movimento para esconder os maltrapilhos da vista de todos? Ou a proibição de circulação de carros que não sejam topos de gama, para não ferirem a susceptibilidade de quem anda na as estradas com os seus Mercedes, BMW's e afins... Devem pensar que as pessoas habitam em caixotes de betão porque querem, e que são pobres porque até preferem sê-lo... Sim, as marquises são feias, mas úteis. Até porque muitas vezes não existe outra alternativa. E quanto aos estendais... estamos no século XXI, onde a questão ecológica é premente para a sobrevivência do planeta. Vamos trocar uma alternativa verde, de secar a roupa, por outra que tem custos ambientais? Aparentemente sim. A bem de quem é insultado pela mediania de quem não é rico...

Anónimo disse...

Agora também já embirram com os estendais da roupa? Uma da poucas medidas ecológicas que os portugueses têm enraizadas?! E não é só em Portugal mas como se sabe, Espanha, França, Grécia, enfim onde o clima dá para isso. Agora que até já há alguns movimentos nos USA chamando a atenção para o modo ecológico como na Europa (mais no sul é óbvio)secam a roupa tendo menos gastos na conta da electricidade, e vêm agora uns patuscos com o problema de "cuecas a pingar" a estragar a "lindeza" do edifício. Ridiculo!

Rui Dias disse...

Agora as marquises, depois os ar-condicionados, seguindo-se as parabólicas e por fim o emaranhado de cabos que nos liga a todos.

Havemos de lá chegar. Já enviaram um mail ao senhor a agradecer o seu exemplar exercício de cidadania?

Bem hajam

Anónimo disse...

FANTASTICO.

acho que estavamos todos há espera disto há muito tempo.

espero que surta efeito.

sempre que passo por predios assim entao na zona de benfica...é angustiante...

Anónimo disse...

vivam e deixem viver!tanta mas tanta coisa mal neste pais,e veem uns pequeno-burgueses (que ate moram em moradias) dizer-me como devo estender a roupa.

Anónimo disse...

Este tipo de preocupações so deve afectar mesmo que não tem mais nada que fazer na vida... se tivessem que trabalhar para viver nao se importavam com o que é dos outros... por favor, este pais esta na merda e mesmo assim ainda ha quem se preocupe com marquises...
E ainda ha otários que lhes dão ouvidos....

Anónimo disse...

E viva os "Senhores e Senhoras marquises" que se acham no direito de impor as sua falta de gosto aos outros! Compram um apartamento em propriedade horizontal, com uma determinada estética, etc., e querem logo impor aos restantes proprietários as suas ordens, as suas vontades, que grande treta! E ainda falam de direitos? Não sabiam o que estavam a comprar? Respeitem por favor os outros! Como é que ainda não entenderam que qualquer marquise só desvaloriza um prédio? Inacreditável! Comprem uma máquina de secar para a vossa roupinha! Solução mais barata e que não prejudica os vizinhos. Mas enfim, vamos continuando na parolice de alguns e na ditadura de que tudo no passado é que era bom.