20/11/2008

Privatização do Espaço Público

No dia em que, uma automobilista em Campo de Ourique me pediu para desviar para ela poder estacionar, estando eu a conversar no passeio junto a uma passadeira, lembrei-me de partilhar estas fotos que um amigo tinha enviado. São fotos de ruas de bairro no centro de Colónia, mas que poderiam ser de tantas outras cidades alemãs.

Para comparação, duas fotos de Campo de Ourique e Campo Pequeno, supostamente bairros de uma certa qualidade de vida:

Na Alemanha, há aqui e ali alguns lugares de estacionamento. Em Lisboa... é o caos que se vê (os carros na foto debaixo estão estacionados, não estão a circular). Por que permitimos que alguns se arroguem o direito de usar em exclusivo o espaço que é de todos, tornando a cidade mais feia, mais desagradável e mais inimiga dos peões?

A responsabilidade de arranjar lugar para estacionar não deve caber à cidade, mas a quem decide movimentar-se de carro. As cidades alemãs mostram-no bem, reduzindo os lugares públicos. Em Tóquio, antes de se comprar um automóvel é necessário provar que se tem um lugar para o colocar.

Não estou a pôr só em causa o estacionamento selvagem, questiono também o exagerado número de lugares de estacionamento à superfície que existem em Lisboa. Quem não preferiria as Avenidas Novas com a placa central livre de estacionamento? Por que é que então o ónus da perda de qualidade da cidade recai sobre todos, em vez de recair sobre quem a causa?

14 comentários:

Anónimo disse...

Estamos de acordo. Muitas zonas das cidades históricas foram concebidas para movimentação a pé, com carroça, etc.
Simples...não há estacionamento, não compra carro!

JA

Luís Serpa disse...

Uma das dificuldades que há em fazer aceitar políticas de contenção dos automóveis em Portugal é a relativa "novidade" destes.

Só há uma geração a propriedade de um automóvel se tornou banal, no nosso país. E as pessoas não estão prontas a abdicar de uma "novidade", de uma coisa que só há pouco tempo conquistaram.

Anónimo disse...

É verdade Luis Serpa.

Mas esta posição mimada se não alterar em breve por motivos de vivência e bom-senso muda por motivos económicos. Pena é que provavelmente nunca se irá ver o valor de cidades vividas de outra forma.

Anónimo disse...

Só reparar num detalhe. Os pilaretes sempre são mais estéticos do que os que vemos muitas vezes por cá, uns lisos e cinzentos.
Cultura do carro vai bem com cultura de shopping tb...

Luís Serpa disse...

Caro Pedro M.,

Apesar de tudo, penso que é possível, como tudo. Basta querer... Podemos adaptar as políticas que várias cidades na Europa já adaptaram; políticas restritivas; e punitivas.

Mas nada disto surtirá efeito enquanto não houver uma rede de transportes públicos de superfície eficaz.

Talvez se pudesse mesmo começar por aí: há poucos corredores "Bus" em Lisboa; aumentá-los não exige investimentos faraónicos e é um bom primeiro passo.

E, claro, reforçar práticas que começam a ser aceites (ou reclamadas)socialmente, como as multas por estacionamento indevido.

Infelizmente, é preciso querer.

Anónimo disse...

enquanto não houver de forma efectiva um investimento sério e rigoroso nos transportes publicos, na sua qualidade e quantidade, na rede de eléctricos que deve ser ampliada e tem sido tão mal tratada pela CARRIS, em medidas efectivas para que se possa circular de bicicleta em segurança,enquanto isto não for encarado como um investimento e não um desperdicio, enquanto o automovel for encarado como sendo mais importate do que as pessoas como acontece não vale a pena tentar tomar medidas radicais, que têm que ser tomadas, mais cedo ou mais tarde.

Filipe Melo Sousa disse...

Mais importantes que as pessoas? Depreendo que os automóveis não são guiados por homo sapiens, mas por uma seita de aliens..

Anónimo disse...

Exacto Luis Serpa,

E debaixo de muitos apupos também felizmente somos cada vez mais querer viver de modo diferente.

Como disse, muitos dos incentivos são bastante simples e económicos e esbarram apenas em atitudes.

Luís Serpa disse...

Caro Filipe Sousa,

antes de mais, obrigado pelo seu comentário. Sempre areja um bocadinho de outras histórias.

Ninguém é contra o automóvel, repare - seria como estar contra o sol, o vento norte ou a música pimba.

O que é contestável, creio, é a ideia que um automóvel tem mais direitos do que os que andam a pé (não é novo, como sabe. Na Idade Média quem andava a cavalo tinha prioridade sobre quem se deslocava a pé).

No fundo, o que se pede - diga-me se acha ilegítimo - é que os custos e inconvenientes de ter automóvel sejam suportados por quem os tem, tal como as vantagens são.

Na minha vida quotidiana utilizo o mix de meios que tenho à minha disposição: barcos (da Transtejo e da Soflusa), táxi, eléctrico, metro, autocarro e pernas (por ordem crescente). Isso tem determinadas vantagens e determinados inconvenientes - os quais são suportados por mim, exclusivamente. Porque é que a eses inconvenientes devo acrescentar os dos automobilistas, se não tenho as vantagens correspondentes?

Anónimo disse...

O que se observa em Campo de Ourique em matéria de estacionamento é, de facto, uma vergonha. As pessoas não têm mesmo o mínimo de educação e civilidade, por isso deviam ser educadas pela camara e pela polícia, mas esses não fazem absolutamente nada, deixam estacionar em cima de passadeiras, passeios, encostados À parede, etc, num bairro com muitos idosos e crianças e com um parque de estacionamento subterraneo.
A meu ver só com uma repressão efectiva é que se conseguia por cobro a isto, porque o "tuga" não entende de outra forma, infelizmente.
Mas... é vital que se melhore a rede de autocarros da carris. Já está bastante melhor, mas ainda é vergonhosa.

Filipe Melo Sousa disse...

Existem zonas da cidade onde faz sentido priorizar a circulação pedonal (por exemplo não faz sentido nenhum o trânsito, nem sequer de taxis, no bairro alto). Existem outras que terão de ser vias de circulação automóvel. Existe uma tremenda falta de bom senso na gestão de Lisboa, como por exemplo cortar o terreiro do paço quando não existem alternativas, obrigando quem quer entrar ou sair da cidade a perder meia hora por ruas sem escoamento. Se tivessem dinheiro para um tunel tudo bem, mas até lá n se pode cortar artérias assim...

Quanto a estacionamento na cidade, é escasso. E os parkings demasiado caros para um salário médio. Nem falo de visitantes esporadicos, mas sobretudo falando de moradores que não têm lugar. Uma mensalidade de 80 € são 10% do orçamento familiar...

Luís Serpa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luís Serpa disse...

Estou de acordo com o seu comentário, Caro Filipe Sousa. Deixe-me apenas dizer-lhe que se não tenho automóvel não é por qualquer eespécie de militantismo. É só porque me parece mais racional e mais prático.

Anónimo disse...

As cidades existem porque criam relações de proximidade e de conveniência entre várias actividades: vive-se onde se trabalha, se faz comércio e onde se passam tempos livres, etc.

Os carros existem porque são um meio conveniente de percorrer grandes distâncias com flexibilidade.

Os carros dificultam as relações de proximidade das cidades e a cidade é um meio em que os carros são menos eficientes enquanto meio de transporte.

Tomara que nas cidades os únicos condutores fossem aqueles para quem o carro é uma ferramenta de trabalho...