23/11/2008

Plano para a Avenida da Liberdade prevê fim do estacionamento à superfície

A Câmara de Lisboa discute na quarta-feira a abertura de um período de discussão pública para o Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade, que prevê acabar com o estacionamento à superfície naquela avenida e construir dois parques subterrâneos.
Na proposta que leva à reunião de câmara, e a que a Lusa teve acesso, o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, propõe a abertura de um período de 22 dias para discussão pública.
A estimativa orçamental das acções previstas no Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente (PUALZE) ronda os 57 milhões de euros, quase metade (40,9 por cento) para criação de estacionamento.
O PUALZE, elaborado pelo arquitecto Manuel Fernandes de Sá, que foi o autor do documento original, datado de 1991, abrange uma área com cerca de 100 hectares, correspondente às freguesias de S. José, S. Mamede e Coração de Jesus.
A área abrangida estende-se desde a Avenida da Liberdade até à zona do príncipe Real, de um lado, e ao longo da colina de S. José, do outro.O Plano prevê o reperfilamento da Avenida da Liberdade, o alargamento dos passeios, limitação do trânsito nas laterais (fica apenas uma faixa) e recuperação de vários espaços públicos.
Diminuir poluição e ruídoA grande diferença deste PUALZE com a versão anterior é a preocupação ambiental com a poluição atmosférica e com os elevados índices de ruído, áreas que até aqui não permitiam a aprovação do plano pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDRLVT).
Em declarações à Lusa, o presidente da CCDRLVT, Fonseca Ferreira, lembrou o protocolo assinado com a autarquia, que, entre as várias medidas para redução da poluição atmosférica e sonora, define a diminuição do número de lugares de estacionamento através da supressão de um dos três parques de estacionamento subterrâneos inicialmente previstos.
“Estas questões vão ser resolvidas progressivamente com o conjunto de medidas definidas no protocolo. É que a Avenida da Liberdade ultrapassava largamente todos os limites máximos de poluição atmosférica e de ruído definidos na legislação”, disse o responsável.
As alterações previstas no estacionamento na Avenida da Liberdade retiram cerca de 660 lugares da superfície.São ainda retirados outros 260 espaços de estacionamento em toda a área abrangida pelo PUALZE, sobretudo porque algumas zonas ficarão proibidas ao trânsito, como a Rua Rosa Araújo.
Os dois parques subterrâneos previstos, no cruzamento da Avenida da Liberdade com a Rua Barata Salgueiro e no entroncamento da Avenida com a Rua Manuel de Jesus Coelho, vão garantir um total de 520 lugares.

Parques à superfície sobretudo para moradores

A faixa central de trânsito rápido não será alterada. Além dos dois parques subterrâneos, o PUALZE prevê a construção de outros quatro à superfície na área envolvente à Avenida, sobretudo para garantir o estacionamento a moradores.
Na Encosta Nascente será construído um parque com 150 lugares na Travessa de Stª Marta, integrado numa zona para onde a autarquia pretende captar habitações e algum comércio.
É igualmente proposta a construção de um outro parque na Rua do Passadiço, que oferecerá cerca de 180 lugares, igualmente integrado numa zona que fixará habitações e equipamentos de apoio local.
Na Encosta Poente prevê-se mais 750 lugares de estacionamento em parque, distribuídos pelo Mercado do Rato (600 lugares) e Largo da Oliveirinha (150 lugares), este último para residentes no bairro.
No total, em toda a área do PUALZE prevê-se uma oferta máxima de estacionamento em parques públicos da ordem dos 3500 lugares. À superfície sugere-se a manutenção de um número mais reduzido, cerca de 1220 lugares, que deverão ser pagos para garantir a rotatividade.
A autarquia pretende ainda criar atravessamentos pedonais sob a Avenida, ligados aos parques de estacionamento propostos. Abre também a porta à construção de um atravessamento pedonal associado ao topo Norte do Parque de Estacionamento dos Restauradores, para criar uma ligação privilegiada entre as duas encostas, aproveitando a existência dos elevadores da Glória e do Lavra.

Sistema de ligações pedonais

O PUALZE defende ainda a construção de um sistema de ligações pedonais entre as escadas do Convento da Encarnação, encosta de St. Antão, Torel e Rua do Passadiço, que dará acesso ao Campo de Santana e ao eixo formado pelas ruas de St. Antão e S. José.
Quanto aos transportes públicos, os estudos desenvolvidos no âmbito do Plano Director Municipal estão a avaliar a hipótese da criação de uma nova linha (a Linha das Colinas), que atravessará, na direcção Este-Oeste, a área em estudo e que cruzará a Avenida da Liberdade nas imediações da Estação da Avenida.
No PUALZE a autarquia assume que os espaços de estacionamento, habitação, comércio e serviços, que representam 65 por cento da estimativa global, poderão ser parcial ou integralmente negociados com outras entidades públicas ou privadas.
Por exemplo um parque de estacionamento poderá ser vendido ou em alternativa ser concessionada a sua construção e exploração a promotores públicos ou privados.Poderá igualmente ser considerada a hipótese de candidatura de diferentes acções ao Programa Operacional da Região de Lisboa e Vale do Tejo.

in Público

2 comentários:

Anónimo disse...

O que é um plano de urbanização para uma autoestrada com 5 vias centrais, mais 4 vias laterais de serviço, deixou-me intrigado.
Depois é que vi que também envolve as envolventes, que envolve mais negociatas de parques de estacionamente, e só não envolve umas "áreas de serviço", porque o Salgado se deve ter esquecido.
Para acalmar a nervoseira de quem está careca de andar envolvido com tanto carro, o plano envolvente lá envolve umas ligações pedonais e uma avaliação da, sempre hipotética, e envolvente, linha das colinas.
....-..! Depois admiram-se que os comentários da blogosfera tenham cada vez mais palavrões.

Anónimo disse...

Impressionante que a vivência da Avenida mais emblemática de Lisboa se reduza a um problema de engenharia de tráfego.

Os benefícios de enterrar o estacionamento são vistos do ponto de vista da melhoria da circulação sobretudo- existe algo na proposta que reclame para o peão o espaço conquistado?

Está mais que provado que o carro é o meio menos eficiente (economicamente, ambientalmente) de circular numa cidade, até quando esta insistência?