20/10/2008

Mouraria e Alfama fartas de grafiteiros

A Mouraria e Alfama pretendem que a Câmara de Lisboa estenda aos dois bairros históricos o plano de limpeza das paredes e as medidas sancionatórias que vão passar a ser aplicadas no Bairro Alto contra os grafiteiros, apanhados em flagrante.

Beco do Lage, perto da igreja do Menino de Deus, e Jardim das Pichas Murchas, no Castelo, em Lisboa. Dois locais que, ontem, acordaram mais coloridos mas pelos piores motivos: no primeiro, três letras gordas indecifráveis; no segundo, diversos nomes, que mais parecem não terem passado de um teste de tinta de spray. Estes são os resultados de mais uma investida nocturna, nos bairros históricos da capital, levada a cabo por grafiters em busca de uma parede incólume para dar largas à ousadia.

"Isto é sempre na calada da noite. Já na outra madrugada ninguém ouviu nada. Então não é que o meu vizinho, coitado, acordou com a carrinha toda pintada de um só lado", lamentou, ontem, Manuel Fonseca, proprietário de um pequena mercearia, há 40 anos, perto do Convento das Mónicas. "Estão em todo lado. São uma praga [os grafiters]. Porque é que só no Bairro Alto é que a Câmara lhes vai dar um castigo? Aqui também não estamos melhor", continuou o comerciante.

Do Largo de São Miguel, em Alfama, ao Centro Comercial da Mouraria, passando pelo Castelo, raros são os comerciantes e habitantes que não desejam que até aos seus bairros se estendam as medidas aplicadas no Bairro Alto, que passam por proibir a entrada na zona aos grafiters que forem apanhados em flagrante.

Em pleno Pátio D. Fradique, nas traseiras do Palácio Belmonte - considerada uma das melhores unidades hoteleiras da capital -, as ruínas do edificado, que viu partir os seus últimos moradores há cerca de 10 anos, tornaram-se o alvo predilecto dos 'artistas' da lata de spray.

"É urgente que a Câmara aplique o mesmo plano de limpeza do Bairro Alto. Como tenho vindo aqui mais vezes, por causa de um trabalho na faculdade, verifico que de dia para dia estas ruínas têm cada vez mais grafitos e ali ao canto [numa das portas de acesso ao Castelo de São Jorge] estão sempre toxicodependentes", explicou Catarina Dias, aluna da Universidade Lusíada.

Os presidentes das juntas de freguesia do Castelo e Santiago fazem eco das pretensões da população. Luís Campos, autarca de Santiago, vai mais longe: "não queria que a Câmara se ficasse por essa praga do grafito. O reforço de segurança era muito bem vindo." Já o presidente da Junta do Socorro (Mouraria), Marcelino Figueiredo, orgulha-se de se ter antecipado ao município. "Em Maio decidimos pintar todas as paredes e continuam limpinhas. Fomos nós que demos o exemplo", reclama.

Ao JN, o vereador Sá Fernandes reconheceu que o plano pode ser alargado às restantes zonas históricas, depois de avaliado o seu impacto no Bairro.

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