13/05/2008

"...RELENTLESSLY OVER HILL AND DALE"



Na sequência do post "Demasiadas Casas" de 8 de Maio:
Na edição de Março 2003 da revista inglesa 'Architectural Review', surgiu uma descrição dos tristes feitos urbanos do povo Lusitano. O artigo foi escrito a propósito do novo Centro Ismaili em Benfica - uma obra de arquitectura num deserto urbano. Transcrevo aqui a introdução da autoria de Martin Meade:

"The Past 15 years have seen the environs of Lisbon sucumb to ever denser urban sprawl. Oblivious to the erstwhile picturesque charms of the pine, cork-oak and olive grove-studded landscape which so captivated William Beckford's romantic sensibilities in the 1780s, unfettered low - and high - rise development strides relentlessly over hill and dale. This has occurred most noticeably north-west of the city where it has not only crushed the once bucolic horizons of Queluz (the exquisite Rococo summer palace of the Portuguese court), but now encroaches on the Serra the Sintra itself. Left in the wake of this proliferation, Benfica has been swamped by a sea of amorphous new 'districts', ring-roads and expressways, what otherwise remained of its identity superseded by the overweening presence of the Colombo Shopping Center. It is in these uninviting environs surrounded by high-rise apartments and the north-south expressway, that one discovers the peaceful haven of the Lisbon Ismaili Center, recentely completed to designs by Raj Rewal."

in 'Achitectural Review', Londres, Março 2003, página 53.

Um relato realista da paisagem urbana grotesca que os Portugueses produziram nos últimos anos. A realidade urbana que nos rodeia revela uma nação maioritáriamente analfabeta em planeamento urbano e arquitectura. Mas quem tem poder de decisão ainda não deu conta da gravidade do problema (alguns não podem mesmo dar conta de tais coisas...). De facto, para um observador vindo do norte da Europa, o cidadão comum português deve aparecer como um ser analfabeto em arquitectura e urbanismo. Porquê? Porque vivemos num ambiente muito desqualificado, repleto de erros. E existe o perigo real de já não identificarmos o erro arquitectónico e urbano por ser tão comum nas nossas vidas.

Fotos: Bairro da Liberdade, exemplo "pioneiro" de desordenamento urbano nos subúrbios da capital

10 comentários:

Gonçalo Cornelio da Silva disse...

Caro F. Jorge
O seu post é importante sobretudo vindo de onde vem.
Tenho estado ausente mas não quis deixar de escrever um comentário.
De notar a referência a William Beckford que no seculo XVIII espalhou pela europa, as maravilhosas descrições da nossa terra, que só os outros lhe dão valor.
Realmente, é triste ver as nossas cidades, a nossa paisagem neste estado, mas mais revoltante ainda as insuportáveis assimetrias sociais, numa perfeita atitude de alienação das populações mais desfavorecidas.
Para quando uma tomada de consciência, do estado, dos agentes sociais, mas sobretudo dos agentes económicos?
Quando é que este país toma consciência que a paisagem protegida agricola ou florestal vale mais que a paisagem urbana. Somos o segundo destino turístico europeu, e posso garantir que não será por causa do centro comercial Colombo.

Anónimo disse...

A nação é ignorante em Urbanismo e não só.E não era só no séc XVIII,agora é mais e em mais coisas,nesta Socratina ignorância militante vigente.Que ganha adeptos "cultos" em projectos de arquitectura Socratinos.
Ganhou agora a ignorância dos arquitectos-vedeta á Byrne(torres soviéticas de Cascais).E similares
,na actual mega-especulativa coisa do Botânico/Pq Mayer,sem sentido,mas com muitos arq.-vedetas a tentarem abocanhar o botânico verde,como quem não quer.
Voltando ao anterior comentário,a paisagem agrícola,florestal valem tanto como a urbana e têm como principal inimigo,hoje,não o clássico pato-bravo mas sim o moderno,o arquitecto-vedeta que com o seu "prestígio" especula mais e melhor...

14-5-08 Lobo Villa

Anónimo disse...

"The Past 15 years".....the past 45 years seria mais correcto, quando surgiram os primeiros dormitórios avulsos de 7 andares. Os do Centro de Benfica (Pastelaria Nilo) e, os que hoje rodeiam o C.C. Fonte Nova. A partir daí, Benfica foi continuamente descaracterizada por um vasto (des)planeamento urbano. Poucos se recordarão, mas quem subia o Cemitério de Benfica nas suas traseiras, nos finais dos anos 60, deparava com vastas paisagens agrícolas. Lisboa terminava ali mesmo....sem equívocos para alguém.


JA

daniel costa-lourenço disse...

O pior é que o Bairro da Liberdade não é nos subúrbios...É dentro da cidade.

Basta passarmos as fronteiras do país e vermos que os limitres das cidades e do campos estão claramente definidos e que há cuidado na sua delimitação. Há cuidado da paisagem rural e na paisagem urbana.

As nossas cidades estão engolidas em viadutos, por sua vez entaipadas em feias barreiras sonoras, com bairros dispersos, sem continuidade, sem passeios, sem espaços verdes. Não ha cidade, não ha humanidade.

Nem precisamos sair de Lisboa:
Bairro da Liberdade
Chelas
Bela Vista
Portela/Moscavide/Ponte Vasco da Gama
Lumiar/Eixo Norte/Sul
Toda a Avenida Infante D. Henrique
Vale de Santo António
Olaias
Calçada de Carriche

Se sairmos de Lisboa já podemos comparar com....Luanda....

Arq. Luís Marques da silva disse...

Em menos de trinta anos, os nossos vizinhos espanhóis, resolveram problemas urbanos quasi tão graves como os nossos; libertaram as cidade e vilas das indústrias, criando nas entradas destas,os chamados "polígonos industriais"; implementaram a recuperação dos centros urbanos, sem despesismos nem com ideias de parolismo faraónico; mantiveram uma política urbana, concentrada na requalificação do espaço público, não permitindo que as obras se arrastem por tempos infinitos e, apostaram numa verdadeira política de reinserção social, das pessoas provenientes de bairros degradados.
Ali, os planos de ordenamento, são feitos a pensar no futuro.
Por cá, tudo é feito ao contrário; para não falar no desordenamento caótico de Lisboa, que ainda não possui uma ideia geral, válida e actual, de modelo a implementar na cidade, pensada como um todo (tal plano de Groer, 1938-48), o ordenamento é produzido ao sabor dos interesses especulativos, sem salvaguarda do patrmónio edificado nem de um verdadeiro ordenamento territorial...
As próprias intervenções urbanas de cariz social, fomentadas pelas autarquias, são geralmente, de má qualidade e integação (veja-se aquele fantástico exemplo de bairro social da Av de Ceuta).
Lisboa podia, para não ir muito longe, fazer uma visita a Barcelona!

FJorge disse...

Reflorestar a encosta do aqueduto e realojar os moradores do bairro da Liberdade e da Serafina nos milhares de fogos devolutos que a CML detém um pouco por toda a cidade seria talvez a solução mais correcta e equilibrada para todas as partes. Para quê gastar milhões a cosntruir mais um bairro social que só irá dar problemas às gerações futuras? Porque não invstir esses mesmos milhões na reabilitação de imóveis municipais? Ninguém parece pensar na integração social destes lisboetas que vivem separados, excluídos do resto da cidade (a vários níveis) há várias décadas. Não há visão de justiça social nem de boa gestão dos solos e do património contruído.

Anónimo disse...

É sem dúvida mais um bom exemplo do estado desta cidade. Já agora, esta zona não é classificada? Eu não entendo bem porquê, mas parece que deve ter algum interesse urbanistico!!!!

Anónimo disse...

Dá vontade de rir, ou de chorar, ou de corar de vergonha, ver que ainda há quem acredite que o Aqueduto das Águas Livres pode ser classificado pela Unesco como Património Mundial da Humanidade!

Só os políticos portugueses e companhia Lda podem ter tais crenças.

Anónimo disse...

acho que vou vomitar...

Anónimo disse...

OH MY GOD! WE ARE FUCKED!