24/03/2008

Hotel no Terreiro do Paço é uma ofensa

In Público (23/3/2008)

«A autarquia de Lisboa quer atrair pessoas ao Terreiro do Paço e para isso defende que os pisos superiores, com uma área total de 150 mil metros quadrados, "não se esgotem exclusivamente com serviços públicos", instalando uma "estrutura hoteleira de qualidade".
Penso que esta ideia de instalar um hotel no Terreiro do Paço constitui quase uma ofensa se considerarmos que muitos museus nacionais estão mal instalados, principalmente na questão da falta de espaço para mostrar devidamente as suas colecções.
Fico muito admirada ao constatar a aparente ausência do Ministério da Cultura e do Instituto Português de Museus desta discussão do Plano para a Baixa-Chiado.
Dadas as limitações de espaço de exposição do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), impossíveis de resolver no actual imóvel da Rua das Janelas Verdes, não seria uma boa ideia considerar a mudança parcial, ou até mesmo total, do MNAA para a ala nascente do Terreiro do Paço? Esta ala enorme tem centenas de milhares de metros quadrados, um grande claustro, e fachadas tanto para o rio Tejo como para o Campo das Cebolas - dois espaços urbanos com grande potencial para actividades culturais. Na minha opinião, estamos perante um imóvel com fortes argumentos para receber o MNAA.
Uma nação desenvolvida, numa discussão destas, não instalaria o seu mais importante museu nacional na mais bela e nobre praça da capital? Porque razão não se fala disto em nenhuma das propostas de reabilitação da Baixa-Chiado?
O Ministério da Cultura vai perder aquela magnífica ala do Terreiro do Paço para um hotel de luxo?
Barbara Vilar
Lisboa»

14 comentários:

Anónimo disse...

Já agora também um hotel de charme no Palácio de Belém? Talvez iniciar uma campanha...."Portugal for sale"..????

JA

Filipe Melo Sousa disse...

Entregue aos burocratas do estado já se encontra a praça. E com resultados à vista.

daniel costa-lourenço disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Drummond de Castro disse...

Dava um magnífico bordel desta vez com o conceito "clear open", com vista sobre o Rio e sobre o parking. Garantia comodidade e discrição aos utentes, assegurando serviços assistidos aos navios de cruzeiros, além de garantir postos de trabalho para a massa de operadores de sexo public service que se dedica há séculos a prestar esses serviços precisamente por essas zonas.
Deviam de resto as arcadas optimizar-se e funcionar em conexão com o Parlamento. Uma relvazita a meio, com sitting autorization, às famílias com cartão e às profissionais avaliadas e vistoriadas, muitas esplanadas à roda para o monte de voyeurs e cuscas - cimento visual da nossa cidade - se poderem dedicar às suas pacíficas actividades, e obviamente deslocação da estátua de Dom José I para uma das carentes e assimétricas periferias. Os pobres no Cacém não tem um monumento que se veja, por exemplo. Ficava lá bem, civilizava o betão.

De resto a nossa ideologia dominante, a do benévolo Pinho, por exemplo, é a de disseminar hotéis de quality por toda a Costa, e o Terreiro do Paço é parte da costa de Lisboa. Podia lá escapar à algarvização. Agora é tempo de acelerar com a marca Terreirah doo Passoo ou preferindo, a mais historica designation, Black Horse Square ou tendo em conta a futura emigração da Estátua para o Cacém, a Black Hole Square, com sentidos conotativos adaptogénicos às valências funcionais da "iárea" (como diz o nosso PM, sorry, apanham-se tiques).

Daniel, sem ofensa, gostei da sua gralha "andres térreos". Os andrés térreos devem ser uma variante de Pitbulls ou de scottish terriers.

Ordem e Progresso,

MDC

Anónimo disse...

A Praça do Comercio permite instalar quase tudo!
Construir as coberturas nos torreões, porque não desafiar a CML a realizá-las para a exposição dos 250 anos do plano de Eugénio dos Santos seguindo o projecto de Carlos Mardel.Uma estrutura metálica, e forrada com tela, e nesse dia todos poderíamos pronunciarmos.
Existem diversas funções que se podem introduzir, nas galerias.
A praça tem um lado que se encontra à sombra de manhã e outro ao sol, a tarde muda. Obviamente esta que situação deve ser explorada.
Relembro os mais distraídos que o corpo a nascente é recente, e nunca foi terminado, por exemplo, o claustro não foi terminado, assim como outros vergonhosos pateos interiores, seria aí o melhor local para o hotel, poderia refazer-se e reconstruir o que nunca foi terminado.

Uma observação atenta das diversas praças por essa europa fora, facilmente se encontra quais as funções a explorar.
Agora,ver a praça como está hoje é que é vergonhoso. Ninguém fica chocado com a saída de metro, ou os caixotes de ar condicionado?
Um projecto bem realizado faria a estação sair dentro do edificio, e outras situações como acrescentos e aparelhos de AC retirados.
Não existem falta de ideias, existe é politiquice e muita inveja.

Gonçalo Cornelio da Silva disse...

O comentário anterior é meu peço desculpa pelo lapso

Anónimo disse...

hotel de luxo, de charme... vai tudo dar ao mesmo: nacional-sabujice, acentuada por um provincianismo ancestral que acha que o estrangeiro é que nos vai salvar (trazido pelo Estado, essa tutelar figura de cujo imobilismo tanto nos queixamos, mas de que não somos capazes de nos libertar nem interpelar (Freud explica).
concordo com o comentário do MNAA... e já agora outros, também.

Lesma Morta disse...

Já não seria a 1ª vez que se pensaria em instalar no Terreiro do Paço um museu como por exemplo o de Arte Antiga. O obstáculo é tratar-se de uma zona demasiado baixa da cidade, construida sob estacas e que já foi destruida pelo avançar das águas em 1755. Assim sendo, juntar aí a nossa memória enquanto povo num museu parece-me desadequado. Quanto a um hotel não me parece mal. Concorreria com o Ritz na Place Vandome em Paris.

Jorge Santos Silva

daniel costa-lourenço disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
daniel costa-lourenço disse...

Um Hotel no Terreiro do Paço não é uma ofensa. É uma mais valia e mais uma âncora na Baixa.

Aliás, o novo plano prevê uma extensão do Museu da Cidade.

Ofensa é a ocupação das arcadas e dos andares térreos por garagens, recepções ou entradas gigantescas e serviços desactivados.

Falta mesmo o Cais das Colunas, o aproveitamento do Arco da Rua Augusta, a repavimentação da Praça, o condicionamento de trânsito e a plantação de árvores nas alas da praça.

Anónimo disse...

Retirem da Baixa os milhares de funcionários públicos que para lá vão trabalhar todos os dias e vão ver o que é que acontece ao comércio local...

Não se revitaliza uma zona da cidade sem empregos!

daniel costa-lourenço disse...

Claro que os funcionários públicos não devem sair todos.

Eles são uma grande base para a Baixa.

O que se fala é no aproveitamento de espaços que não são efectivamente utilizados pelos ministérios ou que não não utilizados eficientemente.

Quem conhece os edifícios por dentro sabe que uma utilização racional do espaço permitiria a libertação de grandes áreas para outros fins.

Acresce que os ministérios têm funcionários espalhados por vários edifícios na Baixa (sem ser na Praça do Comércio), quando poderiam estar concentrados em poucos, libertando outros para comércio/habitação ou serviços.

É um crime que o gigasteco e lindíssimo claustro do Ministério das Finanças seja utilizado como estacionamento; as varandas enormes e pátios do mesmo claustro estejam vazias, e 50% dos r/C das arcadas sejam para estacionamento ou estejam vazios.

É um crime que o enorme pátio da marinha, onde inclusive existe uma doca seca com centenas de anos, esteja vedada ao público.

É um crime que o claustro da marinha seja utilizado para depósito dos CTT.

Entre outros...

Anónimo disse...

Um hotel com as comodidades e requerimentos modernos obriga um edifício histórico a grandes alterações (perdas de valores) nas suas partes interiores. A conservação do património histórico vai muito mais além da conservação de fachadas.

JA

Lesma Morta disse...

Crime é estar um Rubens no Ministério da Administração Interna em vez de estar no Museu Nacional de Arte Antiga para todos o poderem apreciar.