21/01/2008

Coral Lisboa Cantat em uníssono por uma sede

In Diário de Notícias (21/1/2008)
LUÍSA BOTINAS

«Câmara assumiu compromisso com várias entidades

Noventa pessoas ensaiam, três vezes por semana, canto coral num armazém velho e frio, a cheirar a mofo, povoado por fungos que crescem nas paredes e no pavimento. O Coral Lisboa Cantat espera desesperadamente por uma sede definitiva. Desde 1978 que anda em bolandas. Carmona Rodrigues prometeu-lhe o espapaço que actualmente ocupa, mas que já estava prometido a outros. Depois arranjou uma alternativa na Quinta dos Lilases que, entretanto, este executivo terá prometido ao Ministério da Cultura.

Laringites e faringites são as doenças mais comuns que têm afectado neste Inverno as vozes do Lisboa Cantat. Desde Janeiro de 2006, a associação com o mesmo nome ocupa um armazém cedido pela Câmara de Lisboa na Praça David Leandro da Silva, ao Poço do Bispo."Quando recebemos maestros de renome internacional nas nossas instalações, reparamos na expressão de espanto que fazem quando aqui entram", conta ao DN o maestro Jorge Alves.

O armazém, que já albergou uma empresa de materiais de construção civil, está muito degradado. Ao fim de meia hora lá dentro, a humidade sente-se na roupa. "Nem tinha instalações sanitárias em condições. Fizemos umas pequenas obras para podermos ter casas de banho e colocámos em parte do chão um reves- timento de plástico", informa o maestro. "Isto só aquece verdadeiramente com o calor humano das 90 pessoas a cantar. Calcule-se o vapor de água que resulta ao fim de horas de ensaios...", ironiza.

"Ficam incrédulos", sublinha Jorge Alves ao descrever as reacções de quem os visita. Com actuações nos mais prestigiados festivais no currículo, é difícil imaginar o coral que interpreta em Março, no Centro Cultural de Belém, uma sinfonia de Mahler a ensaiar num cenário com cogumelos a crescer nas paredes... O Lisboa Cantat, com 30 anos de existência, confiava que o problema das instalações se resolvesse no Poço do Bispo. "Até tínhamos um projecto de remodelação para o espaço", acrescenta. "Quando soubemos que havia um compromisso assumido pelo presidente João Soares com o Clube Ori-ental de Lisboa (COL) para que a colectividade se expandisse, concluímos que seria inviável", afirma o ma- estro. Carmona Rodrigues apresentou uma alternativa: parte das antigas instalações da EPUL na Quinta dos Lilases, no Lumiar. "Só que a câmara caiu e viemos a saber que este novo executivo terá cedido aquelas instalações ao Ministério da Cultura."

Para José Fernando Nabais, presidente do COL, esta história soa a déjà-vu. "Aconteceu ao coro o que nos aconteceu, quando eles vieram para aqui", disse ao DN, lembrando que o COL há muito que espera fazer obras no local onde agora está o Lisboa Cantat. O vereador Manuel Salgado garante ao DN que ainda não há uma decisão sobre o assunto. "Terá de ser tomada, em breve, pelo executivo, pois envolve ainda os pelouros do Património e da Cultura."

Segundo aquele responsável, "já está a ser preparado um levantamento dos compromissos (verbais) assumidos pelos pelouros da autarquia ao longo dos anos. Assim, poderemos gerir melhor situações desta natureza. É mais uma das tarefas do arrumar da casa que temos para cumprir", sublinha. Aparentemente, a Quinta dos Lilases tem muitos pretendentes, pois, além do Ministério da Cultura, cujo pedido o vereador confirma, a Junta de Freguesia do Lumiar pretende ver ali instalado um equipamento cultural e até a Academia de História confia transferir-se para lá. »

2 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Se a coral tem tanto valor, proponho que se aumente os preços dos bilhetes para pagar a nova sede. Nada mais justo que o princípio do consumidor-pagador.

Afinal, se o artista é um bom artista, existirá de certeza procura, e gente disposta a pagar, não é verdade :)

Filipe Melo Sousa disse...

Ou talvez quem sabe dançando tenham sorte..

"Elle alla crier famine
Chez la Fourmi sa voisine,
La priant de lui prêter
Quelque grain pour subsister
[...]
Que faisiez-vous au temps chaud ?
Dit-elle à cette emprunteuse.
- Nuit et jour à tout venant
Je chantais, ne vous déplaise.
- Vous chantiez ? j'en suis fort aise.
Eh bien! dansez maintenant."