29/09/2007

DEMOLIÇÃO: moradia no Bairro do Arco do Cego


O mal tratado Bairro Social do Arco do Cego, sofreu nas últimas semanas a demolição de mais uma das suas moradias. Aconteceu na Rua Fernando Pedroso, 15.

O "Bairro Social do Arco do Cego, incluindo o Antigo Liceu D. Filipa de Lencastre" estão "Em vias de classificação" desde 16-04-2007. Veremos se o primeiro "bairro social" de Lisboa será devidamente salvaguardado com este reconhecimento do Estado. Mas para o nº 15 da Rua Fernando Pedroso já não veio a tempo... Resta agora saber o que vai surgir no lugar da moradia destruída.


"Um despacho de 1919 exarado pelo Ministério do Trabalho, deu origem ao projecto inicial do primeiro "bairro social" de Lisboa. A fase de projecto estendeu-se até inícios dos anos 30 e contou com o risco de vários arquitectos: Adães Bermudes, Frederico Caetano de Carvalho e Edmundo Tavares. Da ideia projectual, que sofreu várias alterações ficou-nos o rasgo urbano empregue a um bairro que vive de loteamentos ritmados pela divesidade das propostas arquitectónicas dos blocos, dos amplos eixos axiais, arruamentos centrais e cruzamentos ortogonais pontuados com equipamentos sociais como hospitais, teatro, biblioteca e escola. Em 1920 tiveram início os trabalhos de construção, contudo a obra nunca respondeu ao projecto inicial e, em 1927 aguardava-se ainda a instalação de saneamento básico. Tendo a Câmara Municipal de Lisboa assumido a conclusão da obra, o vocacionado bairro operário transformou-se em bairro habitacional para funcionários camarários. Assumidamente burguês, o Bairro do Arco do Cego, apesar dos acidentes projectuais e do tempo diluído na conclusão de obra, assume-se como exemplo de grande valor na diversidade dos loteamentos de quarteirões alongados expostos em construção contínua de blocos quadrangulares ou de bandas geminadas de habitações unifamiliares de dois pisos. No início da década de 30 o bairro veria construído o primeiro equipamento escolar modelar moderno: o Liceu Filipa de Lencastre, da autoria do arquitecto Jorge Segurado. Inicialmente este equipamento seria uma escola primária para o bairro do Arco do Cego, e o projecto inicial data de 1932. Contudo, já em construção, o "Plano de 1938" ordena que se elabore um projecto de adaptação da escola primária a Liceu: o Liceu Filipa de Lencastre, como hoje o conhecemos, estaria completo em 1940. Jorge segurado estrutura o edifício a partir de um corpo principal que alberga os serviços de administração e salas de aula em torno de um pátio de recreio. Ao corpo principal o projecto associa o corpo do Ginásio e o corpo de entrada, em perfeita referência ao eixo de composição do bairro habitacional. No decurso de adaptação da escola a Liceu Feminino, o arquitecto conquista os espaços que existiam em duplicado (pois a escola primária previa a separação de espaços lectivos e de recreio entre meninos e meninas), e introduz programas específicos de um liceu como o auditório, salas de desenho, de trabalhos manuais, de lavores e canto coral."
Sandra Vaz Costa (DIED) in http://www.ippar.pt/

7 comentários:

Anónimo disse...

Em tempos frequantava diáriamente este bairro e durante esse tempo também ocorreram algumas obras de demolição...autorizadas porque "o que lá nascia" era um cópia do que tinha ido abaixo.
Tem sido uma forma de "recuperação" muito usada, não só ali como também nos outros bairros do genero, como a Encarnação (p.e.).

O problema é que já não seria a primeira vez que a traça original é severamente alterada. Existem alguns exemplos por ali...

António Prôa disse...

Associo-me à preocupação aqui referida. O Bairro do Arco do Cego, tal como outros bairros de Lisboa carece de uma protecção quanto à manutenção da sua imagem e das suas diversas características.

Julgo que a forma de salvaguardar a integridade de muitos bairros de Lisboa passa pela criação de regulamentos urbanísticos que determinem com rigor os limites das respectivas intervenções.

Em breve voltarei a este tema que me é caro e sobre o qual tenho vindo a reflectir.

FJorge disse...

Infelizmente não é só o Bairro do Arco do cego que se encontra em risco; todo o Bairro de Alvalade, o mais importante plano urbano que se ergueu em Lisboa no século XX, está muito ameaçado por todo o tipo de alterações, muitas delas ilegais; basta observar a quantidade de fachadas desfiguradas por marquises e estores de plástico. Também as coberturas se encontram muito alteradas. O Bairro das Estacas é talvez o caso mais emblemático desta total falta de respeito pela arquitectura e urbanismo dos anos 40 a 60 que marca todo o bairro. Se a CML não intervir urgentemente, dentro de 15/20 anos os problemas de desordenamento serão tão graves que será necessário criar um SRU ou outra entidade semelhante.

Anónimo disse...

Toda a gente reclama! Toda a gente fala! A verdade é que metade da gente que "opina" não é proprietária de qualquer moradia neste tão belo bairro!
Eu falo em particular e adquiri recentemente uma moradia sita neste bairro. O projecto de recuperação já foi reprovado pela terceira vez consecutiva.
Gostava que todos os "intelectuais" que "opinam", que "decidem", que "assinam aprovações" tivessem em conta o estado das mesmas moradias por dentro e vissem que muitas delas, como é o caso da minha, não têm obras desde a sua construção a 70 anos, bem como são actualmente habitadas por vadios, drogados, etc,...
Se consideram tudo isto agradável decerto é preferível manter as coisas conforme estão, ou caso contrário, irão provavelmente criar "uma desarmonia" como é escrito nos diversos processos, verdade?!?!

Miguel Jorge disse...

Pois se não gosta do bairro como está porque comprou lá casa seu xico esperto?

Anónimo disse...

Provavelmente para melhorar o aspecto caótico e abandonado da moradia

Casa no Castelo disse...

Boa tarde a todos. Estou interessado em comprar uma moradia no Bairro do Arco do Cerco. Não estou ligado a imobiliárias nem ao sector, apenas pretendo mudar-me para o bairro com a minha família e procuramos um moradia. Por favor, se conhecerem algum proprietário interessado em vender, contactem-me para o número 962832263. Muito obrigado.