25/01/2007

PSD recusa provocar eleições intercalares

In Jornal de Notícias (25/1/2007)
Ana Fonseca, Gina Pereira , e Paulo Baldaia, Bruno Simões Castanheira

«PSD recusa a hipótese de provocar eleições intercalares na Câmara Municipal de Lisboa. Marques Mendes chamou Carmona Rodrigues para lhe manifestar total apoio. O dia de ontem não foi, no entanto, pacífico para o PSD de Lisboa e para o Executivo da autarquia. A vereadora do Urbanismo, Gabriela Seara - que, como o JN ontem noticiou, foi constituída arguida, na sequência das buscas efectuadas pela Judiciária - deve hoje anunciar a suspensão de mandato.

"Sob suspeição é muito difícil exercer cargos políticos." A declaração de Gabriela Seara foi feita, ao JN, ontem à tarde, numa breve passagem pelo edifício municipal do Campo Grande, onde a esperavam alguns presidentes de junta de freguesia social-democratas, funcionários e directores municipais, para lhe prestarem solidariedade. Afirmando-se de consciência tranquila, a vereadora disse que irá fazer "o que for melhor para a autarquia", sem precisar se sai do executivo.

Pela manhã, Marques Mendes e a presidente da distrital do PSD e da Assembleia Municipal (AM) de Lisboa, Paula Teixeira da Cruz, encontraram-se com o presidente da Câmara. Fonte oficial da direcção do partido disse ao JN que o apoio político a Carmona Rodrigues foi reafirmado e que a demissão da vereadora Gabriela Seara não foi exigida, embora o tema tenha sido abordado.

Esse foi, aliás, o assunto de uma reunião bastante mais longa, que começou num almoço dos vereadores social-democratas na Câmara de Lisboa e se prolongou durante a tarde e noite. O JN apurou que se registou uma divisão clara entre os que consideram que Gabriela Seara deveria, no mínimo, suspender o mandato, e os que pensam que "quem não deve, não teme" e que, por isso, se manifestaram contra o abandono da vereadora. Carmona Rodrigues foi dos que resistiu à saída, mas acabou por deixar a decisão nas mãos de Seara.

Ao JN, Paula Teixeira da Cruz disse que "o PSD mantém a sua questão de princípio nestas matérias", mas não quis avançar qual será a decisão da vereadora. Para a presidente da AM, "este caso tem contornos ainda muito indefinidos e, por isso, é difícil fazer toda a análise política".

Para hoje, ao meio-dia, está marcada uma reunião com toda a vereação, que deverá ser informada das decisões que a maioria considera essenciais para ultrapassar a crise. Ontem, admitia-se que os vereadores do PSD assumissem o compromissso de suspender o mandato se, alguma vez, vierem a ser constituídos arguidos, ou acusados, neste ou noutro caso.

Ontem à noite, na SIC Notícias, depois de dois dias de absoluto silêncio, o vice-presidente da autarquia, Fontão de Carvalho, admitiu que a situação é "grave" e "profundamente desagradável". "A vereação está toda incomodada", reconheceu, embora considere que o executivo municipal "tem condições para continuar o seu trabalho".

* Com Carlos Varela


Pres. da Assembleia Mun.

Este caso tem ainda contornos muito indefinidos - não se sabe por exemplo quantos são os arguidos - e, por isso, não é ainda possível fazer toda a análise política. De qualquer forma, o PSD há muito que definiu a questão de princípio nestas matérias"

Os investigadores da Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica (DCICCEF) da Polícia Judiciária (PJ) estão a analisar em pormenor a vasta documentação e os ficheiros recolhidos nos computadores dos vários gabinetes da autarquia (incluindo os do presidente e vice-presidente), empresas e residências dos vereadores Fontão de Carvalho e Gabriela Seara, visitadas anteontem. A análise deste material pode vir a ser determinante para a constituição de novos arguidos, além da vereadora do Urbanismo, Gabriela Seara, e do director municipal dos Serviços Centrais da Câmara de Lisboa, Remédio Pires. Em causa estão suspeitas de participação económica em negócio, tráfico de influências e corrupção, no âmbito do chamado caso "Bragaparques", que inclui a permuta dos terrenos do Parque Mayer pela Feira Popular e a hasta pública de uma outra parcela em Entrecampos, também adquirida pela empresa de Domingos Névoa. A Oposição camarária exige ser esclarecida acerca do que se está a passar e não entende o silêncio da maioria PSD, embora quase todos recusem falar em eleições intercalares. Só Sá Fernandes, do BE, começa a dizer que "é preciso pensar na renovação do governo da cidade
".»

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