25/01/2007

Dos estacionamentos aos negócios imobiliários

«De empresa do Norte, criada por dois emigrantes, a grupo empresarial capaz de comprar um pedaço histórico de Lisboa (o Parque Mayer) vai o percurso meteórico da Bragaparques. Aqui é contado por quem testemunhou a caminhada.

Miguel Portas, hoje deputado no Parlamento Europeu, há cinco anos candidato à Câmara Municipal de Lisboa, ouviu de viva voz da boca de Domingos Névoa, dono da Bragaparques, como é que a construção do parque de estacionamento representou um investimento lucrativo para a sua empresa. "A meio de uma noite já bem regada, o sr. Névoa contou-me que a adjudicação à Bragaparques foi directa por via da EPUL, que por sua vez pagou a construção do parque através dos arranjos à superfície. Segundo o senhor Névoa, a empresa 'não gastou um tostão'", contou ao DN. Miguel Portas confrontou João Soares com tais acusações, mas acabou por ser ameaçado pelo socialista "com um processo", que nunca avançou.

Machado Rodrigues era o vereador com o pelouro do Trânsito, responsável pelo lançamento de vários concursos para a construção de parques de estacionamento quando a Bragaparques chegou a Lisboa. Estávamos em 1996. João Soares geria a câmara. Lançado o concurso para o Martim Moniz, a Esli, uma das empresas líderes do sector, não quis concorrer e a Bragaparques apresentou a melhor proposta.

Na altura, a EPUL tinha nos seus planos a renovação da Praça do Martim Moniz. A empresa detinha os terrenos na encosta da Pena onde pretendia desenvolver o projecto de habitação para jovens. Dos planos da EPUL faziam ainda parte a renovação da Praça do Martim Moniz e quando a câmara lançou o concurso para os parques de estacionamento em Lisboa, impôs como condição aos adjudicatários a reposição ou o arranjo à superfície. No Martim Moniz, a EPUL negociou com a Bragaparques a construção do estacionamento.

Entretanto, além da entrada em Lisboa com o parque do Martim Moniz, a empresa continua com outras aquisições na capital, comprando à sociedade Avenida Parque o recinto do Parque Mayer, com a contrapartida de construir estaciona- mento na Avenida da Liberdade.

Posteriormente, o conjunto de investimentos prosseguiu com a compra da posição para a construção do parque no Largo Vitorino Damásio, em Santos. A obra já foi concluída com Santana Lopes na câmara.

João Soares explicou ao DN que a Bragaparques surgiu em Lisboa, no seu mandato, devido ao concurso público para construir um parque de estacionamento em Lisboa. "Lançámos um concurso público para um parque de estacionamento no Martim Moniz e que implicava a remodelação daquele largo, porque estava um caos. Tinha havido dezenas de projectos, mas nunca nenhum tinha avançado. Havia na altura três ou quatro grandes empresas de parques de estacionamento e a Braparques tinha realmente a melhor proposta. Informei-me, em Braga e Almada, se trabalhavam bem, confirmaram-me que sim e o parque foi-lhes adjudicado como deve ser. E o que fizeram, fizeram-no como deve ser e dentro do calendário previsto, o que é raro". Sobre o segundo parque de estacionamento construído pela empresa em Lisboa, na Praça da Figueira, o ex-autarca lembra que aí "compraram o trespasse de outra empresa que nunca tinha avançado, por ser uma obra difícil, e acabaram por construir também esse parque". A progressiva e notória presença da Bragaparques no meio empresarial lisboeta tornou-se ainda mais óbvia quando o grupo comprou o Parque Mayer à Sociedade Avenida Parque. O DN tem tentado ouvir repetidamente o proprietário da Bragaparques, arguido no processo, Domingos Névoa, sem sucesso. FM e LB
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