27/04/2006

Pala da Doca de Santo Amaro pode ser demolida

In Público (23/4/2006)

"Administração do Porto de Lisboa apresentou algumas ideias para o desenvolvimento da zona ribeirinha nos próximos 15 a 20 anos

A pala erguida há cerca de três anos e meio entre os bares e restaurantes da Doca de Santo Amaro e a Ponte 25 de Abril, em Lisboa, pode vir a ser demolida. Quem o admite é o presidente da administração portuária, Manuel Frasquilho, que ontem apresentou algumas ideias para o desenvolvimento da zona ribeirinha nos próximos 15 a 20 anos.
De utilidade duvidosa, a pala e o arranjo do local onde ela foi colocada, baptizado como Praça das Docas, custaram cerca de 2,75 milhões de euros, repartidos pela Administração do Porto de Lisboa, pela autarquia, pela Rede Ferroviária Nacional, com comparticipação comunitária. Grande parte das funções para que a infra-estrutura devia servir - impedir que chegasse às docas o ruído dos comboios que passam na ponte e servir de recinto de espectáculos - nunca se concretizaram: raramente tem lugar qualquer tipo de actividade debaixo da pala e o isolamento acústico que ela proporciona é quase nulo. Na prática, a sua única serventia é suster a queda de objectos da ponte neste troço.

Divergências entre Pedro Santana Lopes, então presidente da câmara, e a administração portuária impediram que o resto da intervenção urbana ligada à pala se completasse, com o seu prolongamento em forma de onda e a construção de um lago entre esta infra-estrutura e os bares. Na altura estava prevista a montagem, sobre a Linha de Cascais, de dois viadutos - um pedonal e outro rodoviário - ligando a Avenida Brasília à Avenida de Ceuta e à Avenida da Índia. O comboio de mercadorias que passa rente aos bares seria desviado para junto da Linha de Cascais e a entrada para Alcântara e para a Doca de Santo Amaro seria feita pela zona da pala. No Largo de Alcântara circulariam apenas transportes destinados ao porto de Lisboa.
Hoje as intenções da administração portuária passam, pelo contrário, pela possibilidade de aumentar fortemente à noite o tráfego ferroviário de mercadorias, apesar de se tratar de um dos principais locais de diversão nocturna de Lisboa. Manuel Frasquilho pensa que com a solução é viável desde que haja disciplina no uso deste espaço. "O porto de Lisboa não pode ser entendido como agressivo em relação à cidade", afirmou a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, também presente na apresentação dirigida à comunidade portuária. "O aumento do tráfego ferroviário pressupõe uma redução do tráfego rodoviário, que é muito prejudicial à cidade".

Apesar das declarações de Manuel Frasquilho e da governante relativas à pacificação do relacionamento entre o Porto de Lisboa e as autarquias que a rodeiam, a verdade é que foi reafirmada a intenção de ampliar o terminal de contentores de Alcântara, uma ideia que mereceu em Janeiro fortes críticas do presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues. O autarca disse que Alcântara é uma zona de modernização urbana sem condições para aquele fim, e sugeriu a transferência do terminal para Setúbal ou Sines.

Para fruição da beira-rio pela população sobrarão, além dos espaços já existentes, eventualmente a Matinha, a caminho do Parque das Nações, zona já desafectada das actividades portuárias, e Pedrouços, onde funcionava a Docapesca. A administração portuária vai começar por fazer aqui uma marina para iates de grandes dimensões e um hotel de luxo, para depois desenvolver, através de um fundo imobiliário fechado, um empreendimento imobiliário com escritórios e habitação.

As prometidas zonas de lazer de Pedrouços também não foram esquecidas, garantiu o presidente da administração portuária. O modelo financeiro do projecto está a ser desenvolvido por uma sociedade de gestão de fundos de investimento imobiliário do grupo Caixa Geral de Depósitos, a Fundimo, e, segundo o mesmo responsável, as câmaras de Oeiras e de Lisboa "poderão vir a ter o direito de serem sócias" da administração portuária neste negócio
."

Sobre a pala, nada a opôr ao seu desmantelamento. Quanto à ampliação do contentor de Alcântara e a progressiva regressão no acesso público ao rio, estamos falados, aqui.

PF

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